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Encontrava-se uma vasta multidão na aldeia que se reunia no centro da mesma para celebrar a primeira feira que ia ocorrer naquele mesmo sítio. Tinha ido com a companhia do meu irmão mais velho, enquanto eu possuía uma idade compreendida entre os oito e os nove anos - onde não tinha qualquer possibilidade de andar sozinha da rua, quer seja de dia ou de noite, pela má frequência nestes bairros. Ou até mesmo da aldeia em geral.

"Toma." afirmou o meu irmão, Travis, enquanto me entregava um saco com pipocas "Vou comprar uma bola de basebol." após terminar a frase, afastou-se rapidamente de mim.

Enquanto metia um par de pipocas na boca, balançava os pés alternadamente e batendo com os calcanhares no banco onde estava a provocar uma pequena música que apenas eu podia entender.

"Posso?" questionou um rapaz da minha idade, de olhos verdes e com cabelo um castanho liso mais claro, a apontar para o lugar que se encontrava vazio ao meu lado.

"Sim." respondi-lhe receosa, tentando guardar com a maior cautela o meu saco de pipocas.

O rapaz mexia nos dedos nervoso, as suas mãos tremiam e ele, com dificuldade, tentava sorrir. Tentei estabelecer contacto visual com a pequena criança, tentando analisá-lo com mais facilidade, reparando, no que parecia um hábito, sempre que alguém passara por ele um sorriso era formado nos seus rosados e finos lábios. Fechou ambas as mãos e pousou-as sobre os joelhos.

"Viste os meus pais?" interrogou-me, enquanto eu tentava que o meu foco no menino moreno parecesse discreta, olhando para uma pequena fonte que se encontrava à nossa frente.

"Não te conheço." voltei a olhar para o mesmo sítio "Desculpa."

"A minha mãe também diz para não falar com estranhos."

"Eu não tenho mãe." afirmei, mexendo e remexendo nas pipocas.

"Eu tenho." ele afirmou com a voz vacilada enquanto olhava para as suas mãos ainda cerradas "Um pai e uma mãe." ele olhava para mim com um sorriso amarelo traçado na cara.

"O meu pai está em casa." pousei o saco ao meu lado, demonstrando a minha confiança e humildade perante o desconhecido que vira a conhecer aos bocados "Ele está doente."

"Os meus pais desapareceram." pausou, voltando a brincar com os seus próprios dedos "Esperei por eles, já que eles disseram que vinham, mas as minhas pernas estavam a começar a doer e tive que me sentar."

Decidi não responder, mas tendo pena do rapaz magro sentado ao meu lado quis oferecer-lhe uma pipoca.

"O meu nome é Harry."

"O meu é Erica."

Foi esta a nossa saudação e o início de uma pequena conversa entre duas crianças, que mais tarde acabou por ser interrompida por Travis, o meu irmão mais velho.

Thantophobia | h.s {reeditar}Onde histórias criam vida. Descubra agora