twenty two

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A minha visão encontrava-se excessivamente desfocada por ter acabado de acordar. Os meus olhos doíam pela libertação imensa de lágrimas durante dois dias consecutivos. Os meus olhos estavam cansados, e eu também.

Não era o meu choro desmesurado que o iria trazer de volta, muito menos o meu sofrimento. O meu pai agora estara lá em cima a observar-me e eu não podia fazer mais nada do que continuar feliz – pelo menos, minimamente feliz.

A minha cabeça encontrava-se pousada num local rijo mas irregular, foi necessário um curto período de tempo para saber que havia adormecido com o Harry e que usara o seu peito como canto de desabafo, de tristeza e desespero.

Levantei-me sem tentar acordar o rapaz tão meu conhecido que se encontrava num sonho profundo, pelo menos é o que aparentava.

Caminhei até à casa de banho e lavei a cara. Decidi pousar as minhas mãos no lavatório de forma que o peso do meu corpo fosse apoiado pelos meus membros superiores e decidi começar a falar com a minha consciência.

A minha cara encontrava-se vermelha pelo facto de, repito, ter chorado um par de dias consecutivos.

“Costumas mostrar-te tão positiva. Tão forte.” A minha consciência decidiu começar “Pelo menos a maior parte do tempo.”

Eu não queria parecer maluca, não de todo, mas eu precisava de desabafar com alguém que fosse parecido comigo, ou até mesmo igual – o meu reflexo.

“É verdade. Eu sou forte.”

“Mas debaixo de todos os teus sorrisos encontra-se uma outra Erica. Descobre-se uma Erica que não se costuma ver diariamente, para ser sincera, uma Erica que se vê raramente. O que é que encontras por debaixo de toda essa positividade?”

“Stress, tristeza, ódio, talvez.”

“Pelo menos foi o que demonstraste estes dois últimos dias.”

“Fiquei vulnerável.” Levei as mãos à cabeça, apertando-a levemente “Ainda estou.”

“Mas porque não mostraste essa tua vulnerabilidade ao teu próprio irmão? E porque tentaste não a mostrar ao Harry, no início?”

“Porque eu não quero que as pessoas me vejam como uma pessoa com pontos fracos. Não quero que me vejam assustada ou em baixo.”

“Quando estás vulnerável não quer dizer que significa que és medrosa ou fraca, pelo contrário, quando demonstras algum tipo de vulnerabilidade evidencias sinceridade.”

Iria admitir que a minha própria consciência estara certa. Admito que eu mesma estava a ser esperta, inteligente.

Eu estava a ser a minha própria psicóloga. Este desabafo silencioso aliviou-me mas uma lágrima ainda se encontrava a escorrer pela minha bochecha.

“Porque choras?”

A voz do Harry foi-me conhecida sem ter a necessidade de olhar para ele. Para além de me ter assustado inicialmente pela sua presença surpresa na divisão, mais tarde foi a mesma que me acalmou. Um arrepio criou-se na minha barriga assim que o Harry decidiu colocar-se detrás de mim – sentia borboletas na barriga, metaforicamente.

Se isto significava que eu começara a ter sentimentos pelo meu melhor amigo? Muito provavelmente, sim.

Se a ideia me satisfazia? Completamente.

“Então?”

Sacudi a cabeça, descolando-me dos meus pensamentos entre a minha relação com o rapaz pálido. Reparei pouco mais tarde que a lágrima já havia secado e que outra começara agora a escorrer.

Thantophobia | h.s {reeditar}Onde histórias criam vida. Descubra agora