Um gelado estava agora na minha mão, lentamente a derreter pela pouca vontade que tinha de comer.
"Não comes?" ele interrogou, retirando uma colher do seu gelado de menta.
"Tu obrigaste-me a comprar o gelado." eu disse seca, ainda a olhar para o mesmo doce, com uma gota de chocolate a escorrer pela grande bola.
"Fui eu que paguei, compraste desde quando?" ele riu "Come lá, eu sei que queres. E vale a pena."
Não, eu não queria comer. Não tinha fome. Não tinha vontade de fazer nada, muito menos de estar com ele a comer gelado.
"Eu como..." sorri "Se me contares a tua reação naquela aula com o professor psicopata." ele congelou, por momentos, pensava que tinha sido o gelado, mas não. Foi a minha sugestão. Não quis saber. "Pode ser?" A sua cabeça baixou-se.
"Pode." ele olhava agora para mim, e sentou-se num banco.
"Podes começar." opinei.
"Sabes..." ele começou "Aquela aula tirou-me dos nervos." na minha cabeça perguntava-lhe porquê, mas eu sabia que ele iria-me responder "Eu tenho algo chamado de Thanatophobia e Thantophobia, na palavra tem só a diferença de um simples e insignificante 'a', mas o seu significado é distinto: Thanatophobia é o medo de morrer e a Thantophobia é o medo de perder alguém que se ame." eu comecei a comer o gelado "Fui diagnosticado com cancro no pâncreas à uns belos anos atrás, desde os meus oito anos. Eu tinha o mesmo problema como o meu pai. Foi essa a razão pelas quais os meus pais me abandonaram: o meu pai ia morrer e a minha mãe não tinha condições para me continuar as sustentar e para depois me ver partir, então fizeram o mais óbvio. Fiquei dois anos na rua, e pouco tempo de ter feito os onze anos o casal Flintson encontrou-me e fiquei com eles. Eu fiquei preso no meu quarto durante um ano pelo facto de estar mesmo doente e eles não sabiam de nada. Eu já te conhecia pelo facto de ficar à janela sem nada para fazer, e via-te a sair e a entrar em casa com o teu pai." fiquei imóvel, sem alguma reação aparente.
"Espiavas-me?" perguntei-lhe, confusa.
"Não, nem por isso. Apenas estava aborrecido." ele continuou "No ano a seguir tive de voltar para o hospital. Estava super pálido e estava a perder apetite, o que me fez mais magro; isto são alguns dos sintomas deste cancro, mesmo sem serem específicos."
"Quer dizer que tu és os 10%?" pousei o gelado no banco, ignorando o facto de quase se tornar líquido.
"Posso dizer que sim." ele demonstrou-se alegre, com um sorriso branco.
"Estou feliz por ti." afirmei, retribuindo a mesma reação.
"Eu gosto de ti, Erica." ele olhou para mim enquanto eu pegava novamente no gelado, para o beber. "És uma boa rapariga."
"Obrigada." agradeci.
"Mas ainda não te contei tudo."
___
vou tentar voltar a publicar capítulos diariamente :)
espero que tenham gostado e desculpem ha