“Travis, quero ir à Sephora.”
O meu irmão assentiu, dando-me permissão para me retirar da loja de jogos e ir com um passo acelerado à loja que se encontrava na curva de um dos muitos corredores do enorme centro comercial.
Vasculhava um novo perfume para comprar, quando dei por mim a passar pelo centro da loja, visualizando agora a secção da maquilhagem – mais concreto, batons. Vários tons do produto estavam expostos, desde o preto até ao branco, desde o mais fluorescente até ao menos, e muitas cores variadas dentro de uma mesma cor. Experimentei um castanho, para ver se me fazia parecer mais morena, mas apenas fazia-me parecer que tinha mau aspeto. Retirei com um produto pedido pela funcionária e procurei um azul acinzentado, colocando-o.
“Parece que levei um murro na boca.” havia sido esta a minha conclusão assim que vira a minha reflexão no espelho.
Procurei por um outro batom, vasculhando os tons de cor rosas, vermelhos e laranjas. Fiquei com a minha visão presa aos tons de vermelho, já que era a minha cor preferida. Eu não sabia por qual me decidir: vermelho escuro ou vermelho claro, até mesmo o vermelho que toda a gente conhecia. Decidi pela minha lógica não muito habituada a maquilhagem: eu sou pálida, por isso o escuro fica-me bem. Agora, dos tons vermelhos escuros tentava escolher a mais parecida com bordeaux, ou pelo menos que me fizesse lembrar essa mesma cor. Coloquei o batom sobre os meus lábios mais uma vez após ter retirado o mesmo produto de outra cor.
Procurei um perfume mais barato do que realmente queria, mas acabaria por levar duas coisas diferentes: uma que necessitava e outra que queria experimentar.
[…]
Bati as típicas três vezes na porta do meu vizinho da frente e esperei pela sua resposta, enquanto o mesmo eu colocava, novamente, o novo batom sobre os meus lábios, realçando a camada anterior.
“Quem é?” o Harry questionava-se do outro lado da porta.
“O Pai Natal.” respondi com ironia.
Ele reconheceu a minha voz, começando a destrancar a porta de madeira. Encostou-se a uma das ombreiras com os braços cruzados e um sorriso provocante, as suas sobrancelhas levantaram segundos mais tarde.
“Podes não ser o Pai Natal, mas estás com uma cor parecida.”
Esta era reação dele perante os meus lábios, mesmo mandando uma indireta, era fácil ver o quanto atónito ele estava.
“Não gostas, é?”
“Nunca disse isso.” ele acabou por se desencostar do sítio onde se encontrava relaxado. “Entra, por favor.”
Encontrei em cima da pequena mesa de apoio, que se situava entre o sofá e a televisão, com um tabuleiro que tinha uma sandes e um copo de chá.
“Interrompeste o meu almoço.” ele afirmou sentando-se.
“São quatro e meia, Harry.” esclareci enquanto olhava para as horas que apareciam no meu telemóvel.
“Não tinha fome.”
“Outra vez?”
Ele assentiu com a cabeça.
“Porquê?”
Ele encolheu os ombros, sem pronunciar uma única palavra, apenas bebeu um bocado do chá.
O Harry terminou a refeição, levantou-se lentamente para transportar o tabuleiro até à cozinha.
“A tua mãe?” perguntei assim que senti a sua presença na divisão.
“Foi trabalhar.” ele sentou-se mais uma vez no sofá, mesmo ao meu lado.