“O cancro é uma doença que ninguém gostaria de apanhar” o professor levantou-se da cadeira, com as mãos situadas atrás das costas “Só uma pessoa demente desejara tal coisa.” ele começou a passear pela sala “Digam-me pelo menos dois cancros comuns.”
“Cancro no pulmão” comecei “Mesmo Inglaterra não estando nos 50 países mais fumadores, uma pessoa por ano fuma 750 cigarros, o que provoca tanto cancro nos pulmões aos fumadores como aos fumadores passivos.” terminei, nervosa com a reação do homem que passava agora ao meu lado.
“Correto.” afirmou de costas para mim “Outro?” interrogou agora a outro aluno.
“Cancro no pâncreas.” deu o Harry como exemplo “Não há cura para esse cancro.”
“Exatamente.” o professor olhava agora para ele, completando o tópico “Apenas 10 em 100% das pessoas com cancro conseguem esquivar-se desta doença” ele parou à frente de todos, levando a mão ao pescoço “O resto, morre.” e com o dedo indicador levou de um lado ao outro o dedo, fazendo uma metáfora.
O silêncio foi instalado naquela sala durante uns prolongados cinco minutos. Sentia-me, pela primeira vez, desconfortável dentro de uma sala de aula.
“A vida de um ser humano pode ser comparado à vida das plantas, que passa por três fases: nascer, desenvolver e morrer. Consegue ser tão simples quanto isso.” continuou o professor “Se vocês fossem inteligentes, aproveitavam o facto de serem suficientemente sortudos de estarem aqui, não pensarem no amanhã e reagirem com o hoje.” ele coçou a cabeça que continha muito pouco do seu cabelo castanho e branco, e de seguida levou a mesma mão à barba “Porque se nós, humanos, não morrêssemos, seriamos apenas sardinhas enlatadas numa bola. Não haveria espaço para ninguém, acho que nunca imaginaram isso.” pausou “Também, brevemente, irão fartar-se da vida, então já não vão querer saber para onde vão, só sabem que não querem ficar.” suspirou “Por isso não vale a pena terem medo da morte, como a maioria das pessoas, porque um dia vai acontecer. Sejam realistas.”
O senhor caminhou até à sua secretária e guardou a caneta dentro do estojo, fechando o mesmo. Olhei para trás e o Harry encontrava-se com os braços cruzados, e com a cabeça baixa. A sua reação não era visível, o que ainda me deixava mais curiosa para saber o que se passava.
A campainha tocou assim que me voltei para a frente, todas as pessoas retiraram-se, incluindo o professor. Fomos os únicos corpos vivos presentes naquela sala.
“Está tudo bem?” interroguei-lhe, sem resposta “Harry?”