Conversava com o Harry a partir dos nossos aparelhos eletrónicos – mais denominados por telemóveis. O engraçado era que comunicava com o rapaz ao mesmo tempo que ambos nos situávamos à janela, a olhar um para o outro. As janelas encontravam-se fechadas por isso apenas saberíamos a reação de ambos, mas nunca acabaríamos por ouvir a mistura das nossas vozes pessoalmente com as que eram transmitidas por telemóvel.
“Erica!” Um barulho de vidro a partir-se ecoou pelos corredores da casa. “Erica, por favor!”
Pedi ao Harry para esperar e segui a voz do meu irmão se demonstrava desesperada.
“Erica!”
Ouvia a sua voz mais de perto e corria pelo segundo e último andar para o encontrar. Por mais que soubesse em que canto da casa estava, não sabia a divisão e isso ainda ocupou mais tempo.
“Despacha-te!”
A porta do quarto do meu pai encontrava-se aberta.
Um copo partido estava disperso no chão, juntamente com o leite que se encontrava lá dentro. As torradas, igualmente espalhadas no tapete azul-escuro da mesma divisão haviam-se separado do prato de plástico que as suportava.
O Travis também se encontrava na mesma posição que tudo aquilo que havia descrito. Ele não estava partido como o copo que se encontrava à sua frente, mas metaforicamente, podia-se dizer que sim.
Enxotei os bocados partidos de vidro e o tabuleiro que acompanhava tudo e ajoelhei-me à sua frente, ignorando o facto de me ter posicionado em cima do leite e ficar com os joelhos encharcados do mesmo.
Retirei as mãos do seu cabelo loiro, agora despenteado e pude ter a visão de como a cara dele se encontrava. As lágrimas saíam rapidamente e em grande quantidade dos seus olhos. O meu irmão demonstrava-se extremamente desesperado. Ele tremia e hiperventilava aterrorizado, conseguia sentir o quanto o seu peito se encontrava apertado assim que levou a mão ao mesmo.
A única coisa que sabia o porquê de ele estar assim é porque era sobre o meu pai.
Hesitei em perguntar, porque sabia que, se o fizesse eu ficaria no mesmo estado que ele.
Engoli em seco, concluindo que realmente o tinha que fazer.
“O que se passou com o pai?”
Após ter pronunciado a última palavra da minha questão ele suspirou em sofrimento.
Ele largou-me e retirou a mão que se encontrava junta ao peito, e enrolou o pulso esquerdo com a mão livre, ao ponto de o polegar pousar no local onde se sente a pulsação.
“Confirma se ele está vi-“ Abri os olhos. Eu havia agora ficado pasmadas mesmo antes de ele terminar a frase, mas deixei-o fazê-lo. “Vivo.” Ele soluçou, voltando a colocar as mãos ao peito, e permaneceu ajoelhado, encolhido.
Levantei-me com pressas e agarrei no seu braço, procurando, desesperadamente, com a minha mão o seu pulso. Pressionei no mesmo sítio à espera de ter algum sinal de que o coração do meu pai batesse.
“Tu também não.” Pensei, apavorada. “Não desapareças da mesma forma que a mãe o fez.”
Levei a minha cabeça ao seu peito, tentei auscultar em várias partes do mesmo se o seu coração ainda pulsava.
Após chegar a uma conclusão, olhei para o meu ignorante irmão mais velho.
“Não, Travis.” Respondi-lhe nos meus pensamentos.
“Eu sei que não querias acreditar e por isso pediste-me para confirmar.” Continuei, agachando-me à sua frente, mais uma vez.
“Mas –“ Decidi ser eu agora a interromper-me, para o dizer em voz alta “O pai decidiu visitar a mãe, mano.”