"Retirem as vendas!" ordenou o rapaz que ainda se encontrava no topo da mesa.
Uma mão foi até à minha cabeça, puxando o pano e retirando-o assim, onde, no início via apenas uma mancha branca até a minha visão decidir habituar-se à luz natural do dia de hoje.
"Conheço-te?" ele falou.
O rapaz à minha frente aparentava ter cabelos curtos encaracolados achocolatados, acompanhado com uns olhos verdes cristalinos, olhava para mim com cara de admirado, ao mesmo tempo que analisava a minha face. As nossas mãos continuavam entrelaçadas por vontade própria, mas nenhum de nós se tinha acabado por aperceber.
"Acho que nã-"
O facto de ser interrompida por cada pessoa que seja já me era hábito, desde aquela discussão minha com o Travis quando tinha os meus nove anos complicou a nossa relação. Ele passou da única pessoa que podia vir a confiar, para a que agora me tenta evitar. Mesmo sabendo que tudo aquilo que aconteceu foram à sete anos, fazendo agora os seus oito. Um comportamento ridículo vindo da sua parte como irmão mais velho, mas eu não podia fazer mais nada. E de facto, nem me tem afetado de todo.
"Toda a gente tem de beijar o seu parceiro." ordenava o mesmo rapaz, interrompendo a frase com risos incontroláveis.
"E sim caloiros, é na boca." afirmou a rapariga que havia feito o ruído agudo do apito, enquanto metia a mão na cintura, demonstrando o seu corpo bem feito.
O rapaz que se encontrava à minha frente, largou as minhas mãos, apoiando-se nos seus joelhos. Após ter ouvido o som agudo que já me era tão irritante, a minha cabeça começou a rodar para saber a reação das outras pessoas. Toda a gente estava num clima estranho, pelo facto de ninguém se conhecer, mas ao mesmo tempo a química era alta e aumentava o calor que já fazia na rua. Poucas pessoas rejeitavam o beijo - nomeadamente raparigas -, pelo facto de não quererem parecer simples galdérias. Outras pessoas rejeitavam por terem calhado com a pessoa do mesmo sexo, e podiam ter nojo disso.
Olhei para ele mais uma vez, e comecei a sorrir para ele. Para além de entrar na diversão que toda a gente estava a entrar, igualmente não queria levar um castigo dos do último ano. Eles puniam as pessoas que não faziam os seus deveres, obrigando-os a fazer piores. Ele devolveu-me o sorriso e eu decidi aproximar-me dele, sempre sentada, arrastava-me pelo chão, com as minhas mãos situadas incessantemente atrás das minhas costas.
As suas mãos aproximaram-se, lentamente, cada vez mais perto da minha cara. Após estarem pousadas nas minhas bochechas, ele acariciou-mas, e por fim, os nossos lábios quiseram encontrar-se. As nossas bocas desfrutaram o momento, tal e qual como nós mesmos.
O único facto a acrescentar sobre este acontecimento é que ele é um desconhecido para mim e eu uma desconhecida para ele.