Numa semana chuvosa de Maio, o rapaz, antigamente moreno e energético, decide partir com a sua pele pálida e olhos gastos, de tanto chorar à noite.
Ele tinha mais medo que eu.
Ele não tinha esperanças de sobreviver.
Ele deprimia ao saber que iria despedir-se ao sofrer ambas as suas fobias, exatamente ao mesmo tempo.
Ele estava desesperado.
Se formos ver por uma perspetiva, ele podia não ter tido tanto medo.
Achei que foi de forma propositada o Harry partir no único dia onde os raios aqueciam a nossa pequena aldeia e as nuvens não cobriam o céu azul com a sua tamanha intensidade. Fizeram a sua ida, nem que seja minimamente, bela e memorável.
Agora, em meados de Julho, o calor aquece a piscina da cidade em que me situava, nadava eu pelas águas doces e com cloro para ocupar a maior parte do meu dia. Tudo fazia lembrar-me dele: o sorriso branco, os lábios vermelhos, os olhos verdes, o cabelo despenteado, as mãos largas, os braços compridos, a pele pálida e até o nome. Ele era-me relembrado pelos mais pequenos pormenores, o que me provocava uma grande dor no peito, um aperto, um sufoco. Isto apenas por ter saudades tuas.
Mergulhei para tentar esquecer a dor, mas acho que apenas piorei.
Tive que chorar, mas será que chorei? Penso que não. Já chorei tanto que já não sou capaz de largar mais lágrimas, de deixar escorrer mais água - já sofri em demasia, pelo menos aos meus olhos. Não consigo determinar se estou a fazer tal, por mais que sinta a dor suficiente para provocar a libertação da dor para além de palavras, essas mesmas lágrimas iriam fundir-se com a água já dita da piscina.
"Harry, como é que é aí em cima?
É escuro como sempre pensaste que fosse ou viraste um anjo como gostavas de imaginar?
Ainda tens medo? Não tenhas."
"Harry, já não podes dizer que não tens thanatophobia, porque já morreste, não voltarás a morrer. Desculpa fazer-te tanto sofrer. Mas também já não tens thantophobia, porque uma vez que tiveste de ir, já não levas as coisas más contigo - a dor, o choro. Aí já não choras.
Desde que me conheceste, Harry, nunca sofreste de thantophobia, porque de facto nunca sofreste as duas ao mesmo tempo, pois, por ao mesmo tempo o teu corpo e mente ter decidido partir, tu nunca me perdeste, apenas foste embora para um sítio mais longínquo, entretanto, espero que me protejas de todas as doenças e que acompanhes os meus momentos mais gloriosos."
"Já agora, cumprimenta os meus pais por mim."
"Espero poder apresentar-te à minha mãe, conheceres melhor o meu pai."
Porque em breve, serei eu a ir visitar-vos, e estaremos juntos, como a família que queremos que sempre fosse - sem sofrimento, apenas amor.
Até breve, menino da pipoca.
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Vou publicar um novo capítulo com os agradecimentos. *smiles*