Jogos Demoniacos

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Por mais que soubesse o quão irracional estava, Lis se viu respirando fundo ao sorrir diante dos olhares das pessoas que a encavaram na universidade. Assim que se afastou de Michael, seu pensamento focou-se na oportunidade que não poderia- e nem deveria – jogar fora. A oportunidade pela qual havia sonhado durante anos. Ela estava disposta a aguentar tudo, se isso pudesse fazer seus sonhos se tornarem realidade.

Ergueu a cabeça ao passar por um grupo de estudantes que a olhavam deslumbrados em meio a murmúrios. Ela não precisava olhar para atrás para saber que Sebastian a seguia.

— Ao menos fique ao meu lado. Não quero ser seguida, mas pode me acompanhar – Lis falou alto ao se virar e encarar Sebastian. O segurança se mantinha sério sem tirar os olhos dela – Por favor, essa situação é ridícula demais para que eu seja seguida por você. – Algo em sua voz fez com que Sebastian concordasse mesmo sabendo o quão errado aquilo seria. Pelo que aprendera, o segurança sabia que nunca deveria ficar ao lado das pessoas que protegia, pois desta forma tirava a sua atenção. – E não é como se tivesse algum terrorista.

Começaram a caminhar em direção ao prédio administrativo, onde ela iria descobrir as aulas que participaria e o local onde começaria a sua pesquisa. A pesquisa responsável por conseguir a bolsa que tanto sonhara.

O prédio administrativo continha uma placa na entrada informando os andares respectivos por cada assunto, e um suspiro escapou da jovem ao avançar sem olhar para atrás com receio do que veria. Os olhares dos outros estudantes a deixava extremamente desconfortável.

Eu espero que isso acabe logo.

Pensou ao parar em frente a uma porta, sorrir para a atendente.

— Sou Lis Muller, e estou um pouco perdida –Sorriu educada tentando esquecer de seus problemas por alguns segundos, tempo suficiente para ser gentil, como sempre fora até conhecer a família real que destruirá a sua vida.

— Aqui estão seus horários e parece que tem uma pesquisa – Falou ao entregar os horários e em seguida voltar a sua atenção para o computador – Deve comparecer hoje ao laboratório cinco do pavilhão quatro, o seu coordenador será o professor Kim.

—Obrigada – Manteve o sorriso até dar as costas a atendente, sentindo-se cansada. A única coisa que Lis desejava era poder dormir e acordar em sua vida normal. – Eu não sei se vou aguentar – Disse sincera ao encarar Sebastian – Não consigo aguentar os olhares das pessoas e os murmúrios.

— Isso não é nada ainda – Sebastian disse ao manter a sua expressão apática – Se tornar a Viscondessa de Lagros é um honra e um privilegio, e com isso precisará trabalhar para que todos a aceitem. Não apenas em nosso país, mas também em todos os lugares. Michael é um príncipe, por mais que o despreze, é isso que ele é.

— Mas eu nunca quis me casar com ele – Sua mão segurou com força o corrimão ao desviar seu olhar e encarar as escadas – Como posso me tornar alguém que jamais quis?

—Pode apenas ser a senhorita, sem nenhuma alteração – Deu de ombros ao olhar ao redor – Acredito que será mais viável para a sua segurança sairmos daqui.

—Ninguém vai tentar me matar – Meneou a cabeça diante do pensamento paranoico de Sebastian – Com Exceção de Michael, é claro. – Um sorriso triste enfeitou a face da jovem ao descer os degraus da escada levemente, mas assim que parou no último sentiu os braços de Sebastian a abraçarem – O que é isso?

— Achei que estava precisando de um abraço – Respondeu sem soltá-la – Prometo proteger a sua vida, mas não posso prometer libertá-la de tal destino.

—Eu sei, ninguém pode – Seus olhos se mantiveram nas mãos de Sebastian, antes de afastá-las de seu corpo, e dar um passo para a frente, distanciando-se dele. – Sempre abraça as pessoas ao verem que estão tristes? – Tentou brincar com a situação ao colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Essa foi a primeira vez – Confessou sem hesitar e muito menos esboçar qualquer reação – De qualquer forma, é a primeira vez em que protejo alguém que não seja da realeza.

— Provavelmente foi por isso. Não precisa se esforçar comigo. Pode não parecer, mas sou bem forte – Piscou atrevida ao andar o mais rápido que conseguiu.

***
Michael sorriu largamente assim que a porta do apartamento foi aberta por Lis. Seus olhos permaneceram fixos na expressão cansada da face da jovem, na forma como ela havia largado as chaves no chão e em seu olhar de desespero ao se agachar e colocar as mãos em frente ao seu rosto. Ele se divertia com tudo o que via.

Aproximou-se vagarosamente sem conseguir desviar seu olhar do desespero dela. Ele esperava ansioso pelo momento em que ela choraria em sua frente revelando o seu real desespero. Revelando o quanto ela o odiava.

— Continue a se desesperar, por favor – O escarnio era latente em seu tom de voz e como se tivesse sendo perseguida pelo próprio demônio, Lis se viu o encarando com raiva antes de levantar, batendo em seu braço. – Agora está me agredindo, o nosso noivado está evoluindo rapidamente. – Lis sabia que não tinha força suficiente para machuca-lo, mas ainda assim continuou batendo até suas mãos serem agarradas por ele.

— Você destruiu tudo – Murmurou imersa em dor – Eu lutei tanto por essa chance, e perdi tudo por sua causa. Agora não serei nada além de sua noiva. Nada do que eu conseguir será realmente pelo meu esforço.

—Foi a única que pediu por isso – Seus olhos mantinham-se cravados na face da jovem dando-lhe uma visão de toda a amargura, raiva e frustração. – Se não tivesse se vendido, não estaria assim agora.

— Do que merda está falando? – Perguntou ao tentar se soltar, sem sucesso – Eu fui obrigada a tudo isso, seu doente.

— Está insinuando que meu pai a escolheu sem motivo? Ele a escolheu por um capricho? – Meneou a cabeça em desgosto – Eu pensei que fosse mais inteligente. Poderia ter inventado um motivo melhor. Fico me perguntando quantas vezes se deitou com meu pai para conseguir isso ou o que fez para ele?

A perplexidade era nítida na face de Lis ao chutar a canela de Michael e em seguida, se soltar.

— Eu tenho pena de você – Suspirou – Não confia em si mesmo e nem em sua família. A sua vida deve ser terrivelmente vazia, e somente para que saiba não sou como as pessoas que já conheceu. Não sou do tipo que é comprada com facilidade.

— Não acredito em nada.

— Não pedi para que acreditasse – Deu as costas a ele indo em direção – E se entrar em meu quarto, prometo que lhe matarei e o acusarei de estupro. Ninguém me condenaria, entendeu? – Entrou no quarto batendo a porta com força, mas seu discurso não foi suficiente para impedir o segundo Príncipe de segui-la, e abrir a porta. – O que é agora? – Sua face demonstrava seriedade quando Lis sentia vontade de gritar e matar o homem a sua frente.

— Disse que tem pena de mim – Repetiu as palavras dela ao esboçar um sorriso sombrio – Continuará tendo pena de mim? – Perguntou ao avançar em sua direção ao manter seus olhos fixos no dela. A cada passo de Michael em sua direção, Lis se viu hesitante dando passos para trás tentando pensar em formas de sair daquele quarto, e logo se viu em desespero ao sentir a mão de Michael em seu pescoço, apertando-o aos poucos. – Diga novamente. – A desafiou ao aproximar os seus lábios do rosto dela, beijando-a próximo a boca – Sou tão desprezível, não sou?

O sorriso perverso de Michael ficou gravado na mente da jovem, a qual se debatia ao tentar afastá-lo.

—Eu já disse que poderia mata-la. Deveríamos testar o quanto pode aguentar? – Olhou de relance para a varanda percebendo estar chovendo e então sorriu largamente – Divirta-se – Falou ao empurrá-la para a varanda, sem se importar se vê-la caída e a chuva começar a encharcá-la. – Boa noite – Acenou ao trancar a porta da varanda que dava acesso ao quarto por dentro. – Se eu bater nela ou mata-la, seria fácil demais – Deu de ombros ao deitar na cama de Lis, e fechar os olhos ao escutar os gritos dela do lado de fora. 

CONTINUA....

DARK - Amor Sombrio (Degustação até junho ou julho)Onde histórias criam vida. Descubra agora