Dançando com os demônios

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Lis olhou para o seu reflexo no espelho assim que a cabelereira saiu do quarto acompanhada pela estilista. Seus cabelos estavam presos em um charmoso e elegante penteado, o qual deixava seu pescoço mais longo. Seus olhos estavam mais brilhantes e seu rosto mais iluminado devido a maquiagem. O vestido branco com detalhes em dourado em estilo princesa, com decote em coração e com detalhes na cintura, a faziam sentir uma boneca. Suspirou ao fechar os olhos para em seguida olhar em direção a porta assim que escutou alguém bater. Ela sabia que se saísse daquele quarto, não haveria mais volta. Uma festa havia começado para celebrar o seu noivado com Michael, o príncipe sádico, com repórteres e inúmeras figuras importantes daquele país e de outros que possuíam algum relacionamento econômico ou social.
— Senhorita Muller? – A voz de Sebastian a trouxe para a realidade. Ela não tinha outra opção além de concordar com aquela insanidade. – Posso entrar? – Gritou esperando a resposta de Lis, a qual abriu a porta sem nada falar. Sebastian a olhou de cima a baixo admirado – Está belíssima, se me permite dizer.
O elogio não a fez sentir-se melhor ou bonita, pelo contrário. Lis sentiu raiva. Raiva por estar vestida como eles desejavam. Raiva por estar se comportando como eles esperavam.
— A festa já começou? – Lis perguntou extremamente séria ao ignorar o elogio de Sebastian, e ao vê-lo assentir, respirou fundo – Imagino que o sádico já deve estar na festa. – A menção ao apelido do segundo príncipe, fez Sebastian empalidecer – Não foi difícil descobrir que ele era o sádico quando tentou me matar.
— O príncipe Michael tentou mata-la? – Sua voz demonstrou genuína surpresa.
— Como segunda guarda deveria estar mais atualizado sobre o que acontece dentro do palácio. O segundo príncipe é um doente, e eu espero não precisar ir a policia denunciá-lo, se algo mais acontecer. Não irei hesitar, entende isso, certo?
— Sim, senhorita – Respondeu ao recobrar a sua expressão seria e impassível. – Falarei com o rei e pedirei para enviar um segurança para protege-la – A sua promessa a fez revirar os olhos. Ela não acreditava em nada – Pode me acompanhar para o salão?
— Como se tivesse outra opção – Resmungou ao seguir Sebastian pelo corredor em direção as escadas. Cada vez mais que se aproximava do salão, o mesmo onde se encontrara com o rei dias atrás, o barulho das vozes e de musica clássica preencheu seus ouvidos. E ao passar por uma das portas abertas, o silêncio acompanhou a sua aparição. Todos os convidados olharam em sua direção, flashs foram disparados e sem pensar se viu olhando em direção a Michael, o qual permanecia sorrindo ao conversar com duas mulheres, enquanto seus olhos estavam fixos nela. – Futura esposa do príncipe Michael August Stone, Senhorita Lis Muller – Lis foi anunciada por Sebastian e mesmo após se viu hesitante sobre o que fazer. Os olhares continuaram ainda mais por alguns insistentes e em meio a indecisão se viu caminhando em direção a Michael, atraindo a atenção de todos.
Seus passos ecoavam pelo salão, seu vestido balançava levemente fazendo com que todos a vissem como um anjo caminhando.
— Parece que cheguei atrasada – Lis disse assim que parou em frente a Michael. – Se divertiu bastante em minha ausência?
Um singelo riso foi escutado atrás dela, entretanto Lis não se dignificou a olhar, pois mantinha seu olhar em Michael.
— Valeu a pena a esperar – O modo galante dele a fez desejar vomitar assim que o príncipe segurou em sua mão. Em um gesto de cavalheirismo, Michael levou a mão de Lis até seus lábios – Está perfeita.
— Obrigada – Agradeceu sorrindo falsamente mordendo o seu lábio inferior para conter a raiva e a vergonha que sentia.
— Parece que é a nossa musica – Disse ao segurar em sua mão e puxá-la em direção ao centro do salão, em seguida uma melodia preencheu o ambiente. Michael segurou em sua cintura com uma mão e com a outra manteve suas mãos unidas – Espero que saiba dançar.
— Para a sua infelicidade, eu sei – Depositou a mão em seu ombro e não demorou para rodopiarem o salão  - Eu o desprezo, não se esqueça disso.
— O sentimento é mutuo – Sorriu ao olhar para as pessoas ao redor – Mas devo admitir que a sua atuação foi quase perfeita.
— Tudo isso é um jogo para você. Seu lunático – Falou ao se deixar ser guiada por ele pelo salão.
— E o que mais poderia ser?
Lis se manteve em silêncio até a musica acabar, e não demorou para se ver sendo guiada novamente para o centro do salão desta vez por Augusto. O primeiro príncipe a segurou com mais força do que deveria, ao puxá-la de encontro ao seu corpo.
— Nem parece a mesma garota atrevida de antes – Augusto falou próximo ao seu ouvido – Estou realmente curioso em como irá sobreviver ao meu irmãozinho.
— Qual o problema de vocês? Nem tudo é um jogo.
— Para nós, a vida é um jogo. Todos são peças de xadrez e somos os únicos jogadores. Agora a sua posição é de peão. Quero ver até onde pretende chegar.
Lis se manteve em silêncio por alguns segundos até pisar no pé de Augusto.
— Desculpe, acho que não sou um bom peão – Sorriu ligeiramente antes de voltar a sua expressão neutra. A sua vontade era de empurrar Augusto e pisoteá-lo.
— Acredito que seja a minha vez – Philipe disse interrompendo a dança de Lis com Augusto. – Não poderei permanecer por muito tempo, tenho trabalho a fazer – Se explicou diante do olhar surpreso do irmão. – Estou com pressa.
— Tanto faz – Augusto disse ao dar de ombros e afastar-se. Philipe olhou para Lis de cima a baixo, concordando em silêncio ao lhe estender a mão.
— Caso aceite dançar, basta segurar – O terceiro príncipe foi o primeiro a lhe dar uma escolha, o que a fez segurar em sua mão. – Agora deixe que eu a guie – A formalidade em sua voz, a fez sorrir pela primeira vez naquele palácio. Um sorriso de verdade. – Disse Algo engraçado?
— Na verdade disse – Sorriu mais uma vez ao rodopiar pelo salão – Parece ser o único nessa família que ainda tem alguma decência.
— Talvez esteja enganada.
— Talvez – Sorriu ao relaxar assim que Philipe apertou ligeiramente a sua cintura. Por alguma razão, conversar com ele era fácil e agradável apesar de pertencer a família que desprezava. – Não serei sempre agradável com você – O advertiu.
— Não espero que seja – Respondeu frio – Além do mais, não nos veremos, certo?
Lis assentiu em silencio. Ela havia esquecido por alguns instantes que logo estaria longe de quase todos.
Mas não longe daquele lunático.
Se deu conta ao suspirar.
— Cada vez que suspira é um ano a menos que tem de vida – Philipe falou a fazendo encará-lo com surpresa.
— Acredita em tolices como essas?
— Imaginei que fosse rir.
— Obrigada pela intenção – Sorriu levemente ao imaginar como seria se tivesse sido obrigada a casar-se com ele.
Isso não mudaria nada. Pensou ao olhar de relance para as pessoas a sua volta.
— Poderia me responder algo?- Lis indagou com a voz baixa tentando não atrair atenção.
— Sim, pode perguntar.
— Porque fui escolhida? – Indagou tentando enxergar alguma expressão que não fosse indiferença.
— Infelizmente não tenho uma resposta para a sua pergunta. O único que poderá responde-la é o rei, meu pai Leopold. Entretanto, estou disposto a responder outra questão.
— Não sabia que a gentileza estava na genética de sua família.
— Engana-se. Não estou sendo gentil e sim justo – A corrigiu antes de rodopia-la, afastando-a ligeiramente de um grupo de homens que pareciam interessados na conversa. – Não tem curiosidade sobre nada?
O que mais habitava na mente de Lis eram perguntas, mas nenhuma delas poderia ser respondida pelo príncipe, ela possuía plena consciência sobre isso, contudo se viu tentada a descobrir o quanto ele poderia saber.
— Por qual motivo chamam seu irmão lunático de sádico? – Questionou concentrada em Philipe, buscando alguma alteração, contudo nada aconteceu.
— É como disse, ele é um lunático. Meu irmão tem muitos problemas e acredita que machucando as pessoas vai fazer com que seus fantasmas desapareçam.
— Mas isso... – Calou-se no mesmo instante em que sentiu Philipe parar abruptamente, puxá-la ainda mais de encontro ao seu corpo e seu rosto bater levemente no ombro do terceiro príncipe. Virou o rosto para o mesmo lugar que Philipe encarava friamente.
— Acredito que está na hora de dançar com a minha noiva – Michael disse sorridente ao manter a sua elegância assim que estendeu a mão em direção ao casal – Não queremos enganos, não é? – O modo dissimulado fez Lis morder seu lábio com força ao ponto de sentir um ligeiro gosto de sangue. Ela não conseguia acreditar no modo como Michael manipulava as pessoas a sua volta.
— Espero poder dançar novamente com você – Philipe falou ao soltá-la, afastando-se em seguida. Com um sorriso, Lis agradeceu antes de virar-se ficando de frente para Michael.
— Finalmente a sós – Falou assim que colocou a mão em sua cintura e a com a outra segurou a sua mão – Deveria ser mais discreta – Apertou a sua cintura com força, fazendo-a gemer em resposta.
—Está me machucando.
— Estou? Também machucou o meu ego vê-la flertando com meu irmão em frente das pessoas.
— Não fale como se tivéssemos algo ou como se gostasse de mim. Você tentou me matar, seu desgraçado doente.
— Não preciso gostar do meu brinquedo para não querer que outro se divirta com ele. Sou possessivo com meus brinquedos, Senhorita Muller.
— Não sou seu brinquedo – Vociferou ao parar de dançar fazendo com que algumas pessoas olhassem com curiosidade para o casal. – Seu doente, eu não sou seu maldito brinquedo.
—Tem certeza? A partir de agora sou seu dono e você é o meu cachorrinho. Vai ser divertido adestra-la.
Imersa em raiva, Lis se viu erguendo a mão prestes a esbofetear o príncipe quando percebeu onde estava, retornando a realidade.
— Se fizer isso poderá acabar na prisão e não queremos isso – Michael sorriu convencido.
— Não se preocupe, vou fazer isso quando ninguém puder ver – Assegurou ao passar a mão pelos seus cabelos, sorrindo em seguida – Serei a noiva perfeita aos olhos de todos, mas assim que eles virarem as costas transformarei a sua vida em um inferno.
— Gosto do seu entusiasmo, será melhor quando quebra-la – Sorriu largamente ao encará-la.

CONTINUA

DARK - Amor Sombrio (Degustação até junho ou julho)Onde histórias criam vida. Descubra agora