4. Uma amostra do hospício

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- O que você quer? - Changkyun disse em um tom alto o suficiente para que o de fios roxos o escutasse do outro lado da sala, ele escutou, mas não disse nada, apenas o ignorou e se sentou - KIHYUN! - o de fios pretos gritou, eu fui pego de surpresa e acabei me assustando. Ao perceber que o outro rapaz não o responderia, Changkyun se levantou de sua carteira com força, quase a derrubando

- Chang - Hyungwon disse ao se levantar e tentar segurar o braço de Changkyun, mas não conseguiu. O de fios pretos praticamente correu até a carteira do outro garoto e assim chegou, bateu com as duas mãos na mesa dele, se apoiou nelas e se aproximou um pouco do rapaz, que se assustou com o ato e eles se encararam

- O QUE VOCÊ QUER, KIHYUN? - Changkyun ainda gritava com o de fios roxos, mesmo que já estivesse na frente dele - FOI VOCÊ QUE ESCOLHEU ISSO E AGORA FICA AGINDO ASSIM? - os dois estavam com os olhos cheios de lágrimas, o de fios roxos não disse nada e continuou o encarando assustado - O-o que você quer de mim? - Changkyun perguntou em um tom bem mais baixo ao deixar algumas lágrimas cairem de seus olhos. A essa altura, Hyungwon e Wonho já haviam corrido até eles, o mais forte abraçou Changkyun e os dois sairam da sala. Hyungwon olhou para Kihyun, que também deixou que suas lágrimas caíssem e permanecia com o olhar fixo no mesmo lugar, como se Changkyun ainda estivesse ali

- Satisfeito? - Hyungwon perguntou com um sorriso claramente falso no rosto

- Vocês não entendem - Kihyun ainda olhava para o mesmo lugar

- É você quem não entende, Kihyun - o mais alto rebateu, o sinal de que o intervalo havia acabado tocou e alguns alunos começaram a entrar na sala - você não entende ninguém além de você mesmo. - concluiu ao se debruçar na carteira do rapaz e o olhar nos olhos - Você tomou a sua decisão garoto, agora vê se deixa a gente em paz e segue a sua vidinha perfeita sem encher o nosso saco - o mais alto sussurou antes de girar os calcanhares e voltar pro lugar dele

Eu não soube como reagir a nada daquilo, apenas assisti tudo o que aconteceu, sentado no meu lugar. Não consegui entender nada do que havia acabado de acontecer, o jeito como o Changkyun mudou de uma hora pra outra realmente me assustou, alguma coisa muito séria aconteceu entre aqueles dois e eu pensei que fosse explodir de tanta curiosidade. Hyungwon se sentou em sua carteira ao meu lado e suspirou, eu olhei para ele assim que o ouvi dar uma risada baixa

- Bem vindo ao inferno, Jooheon - ele curvou o corpo pra se aproximar de mim - isso é só uma pequena amostra do que costuma acontecer nesse hospício - sussurou antes de se afastar novamente e cruzar os braços

Dessa vez, a hora passou muito devagar, cada aula parecia durar uma eternidade e eu estava louco para que acabasse logo. Fiquei o tempo inteiro olhando para Hyungwon e Kihyun, o mais alto abaixou a cabeça e dormiu em todas as aulas, enquanto Kihyun ficou encarando a mesa, provavelmente pensando em milhões de coisas.

O sinal finalmente tocou e todos os alunos se levantaram e se retiraram, inclusive Kihyun. Hyungwon colocou sua mochila nas costas e pegou a dos outros dois meninos

- Quer que eu te ajude a carregar? - perguntei ao me levantar e colocar minha mochila no ombro esquerdo

- Não precisa, eu posso fazer isso, já pedi para que alguém viesse me buscar - ele sorriu - Obrigado e desculpa por hoje, o clima vai continuar bem tenso por aqui, mas uma hora você se acostuma - ele riu sem vontade e eu apenas assenti - Você quer muito entender o que aconteceu, né?

- Olha, eu não vou negar

- Eu não sei se Changkyun gostaria que eu te contasse, a escola inteira já sabe, mas acho que eu não estaria agindo certo se te contasse antes de falar com ele mesmo assim, espero que entenda

- Ah, sem problemas, eu entendo sim

- Você é um cara legal, Jooheon - ele sorriu, e dessa vez, o sorriso parecia sincero - Pode me passar seu número? - eu o olhei surpreso e ele riu da minha reação - Não, não pense besteira, você já deve ter percebido que eu namoro, não pedi seu número com essa intenção

- Não, que isso, eu não pens... - parei de falar assim que o vi deixar uma das mochilas na carteira, tirar seu celular do bolso e me entregar

- Pode anotar? Meu motorista já deve estar me esperando

Eu assenti e peguei o celular, anotei meu número e o devolvi. Ele sorriu e eu o vi sair com as mochilas, era incrível como aquele cara conseguia andar como um modelo mesmo carregando três mochilas.

Não demorei muito para chegar em casa, já que dessa vez eu não me preocupei em observar nada, apenas parei na calçada do outro lado da cafeteria e a observei, pensei em entrar e conferir se Changkyun estaria lá, ele parecia realmente mal ao sair da sala e eu queria saber se ele estava se sentindo melhor, já que ele me tratou tão bem antes daquilo tudo acontecer. Não entrei na cafeteria, apenas fui para casa e assim que cheguei, escutei alguns barulhos vindo da cozinha e corri até lá, pensei que conseguiria almoçar com meu pai pela primeira vez depois de muito tempo. Eu sempre levava Shownu para almoçar comigo na minha casa, nós dois odiavamos comer sozinhos, então comíamos juntos sempre que possível, a ideia de que agora eu teria que começar a fazer todas as refeições sozinho me chateava. Assim que cheguei na cozinha, não encontrei meu pai e sim a mulher que me entregou o uniforme mais cedo, ela estava mexendo em uma das panelas quando me ouviu chegar e me olhou

- Boa tarde

- Boa tarde - respondi a mulher e sorri - Quer ajuda?

- Não, que isso, não precisa - ela disse e eu ignorei enquanto me aproximava dos armários, abri e fechei um ou dois até que finalmente descobri onde os pratos estavam guardados, peguei dois deles e coloquei na mesa - Seu pai me disse que não virá para o almoço - ela me avisou quando viu que peguei dois pratos

- Eu sei - peguei os copos e os talheres, coloquei eles na mesa e a olhei - o outro é seu

- Não senhor, eu não posso aceitar

- Por favor, acho que preciso de companhia - eu disse em um tom baixo e doce, sempre conseguia convencer Shownu a fazer qualquer coisa quando eu falava assim e com ela não foi diferente. Ela suspirou e assentiu, colocou a comida na mesa, se sentou na minha frente e nós nos servimos

Assim que começamos a comer, tentei puxar assunto, ela hesitou em manter a conversa no começo, mas logo percebeu que eu não pararia de tentar e começou a conversar comigo. Eu não quis falar muito de mim, então apenas fiz perguntas e elogiei a comida. Descobri que ela era divorciada, tinha um filho mais ou menos da minha idade, começou a trabalhar como empregada depois que foi demitida do emprego de secretária e gostava de música clássica

Assim que terminamos de comer, comecei a tentar lavar a louça enquanto ela tirava tudo da minha mão e reclamava que eu estava fazendo o trabalho dela, eu apenas ria e continuava tentando. Ela era divertida e deixou que eu levasse a louça em paz quando prometi que a deixaria secar e guardar, o que não fiz e acabei apanhando com um pano de prato como consequência, nós dois rimos e eu subi para o meu quarto

A New Life [Joohyuk; Jookyun]Onde histórias criam vida. Descubra agora