Capítulo 1: Helene e o nascimento de um rei

719 57 2
                                    

Theobald se instalou no seu quarto na última torre do castelo  de Brugnaro.
Sua cabeça doía de  pensar nos problemas que estava tendo nesse reino que havia acabado de conquistar com a ajuda da cavalaria  de Derek e Cornell.
Da ampla janela da torre do rei, Theo viu a imensidão de terras que agora lhe pertenciam por direito de guerra.
E junto com as terras, ele também herdou todos os problemas daquele reino com suas finanças em  baixa, vassalos e camponeses insatisfeitos, uma corte rancorosa e extremamente conspiratória e ódio, muito ódio ao seu redor.
Era perigoso estar ali.
Mas Theo  estava acostumado a ser comparado com o  próprio demônio. Ele era o filho bastardo do Rei Petrus que possuía as maiores e melhores terras dos cinco reinos.
O reino de Walden,  também conhecido como o Vale da Madeira era rodeado por imensos bosques de coníferas e uma vasta floresta de carvalhos.
Walden fornecia madeira  para todos os reinos, desde construções de castelos, paliçadas e estábulos, até utensílios domésticos como pratos e taças.
O próprio imperador Anien utilizava objetos oriundos de Walden.
E foi os laços familiares de sua madrastra Hélene com o imperador, que possibilitou a sua chegada ao trono de Walden.
Petrus seu pai, foi casado com a princesa Hélene de Aethelu durante mais de duas décadas e tiveram quatro filhos: O príncipe Pavel, que morreu aos 5 anos de idade, depois ter sido atacado por um porco selvagem, Brighid, que renunciou a vida na corte e se tornou abadessa e Sige e  Jather, os gêmeos, que morreram juntos como guerreiros, no campos  de batalha em nome do imperador.
Padecendo de uma doença desconhecida que lhe dava muitas dores e devaneios, que acabou incapacitando-o, o rei Petrus faleceu, tornando assim, Hélene, a rainha regente.
Foi exatamente quando subiu ao trono para governar,  que Hélene descobriu a existência de Theobald. Nessa época, ele tinha sete anos de idade.
Em bem pouco tempo  sentada no trono, a rainha descobriu que o rei havia sido amante de uma de suas mais amadas damas de companhia, a Marquesa Lenore.
Havia alguns anos que Lenore havia pedido para deixar de ser sua dama e tinha se refugiado em terras estrangeiras, sem nunca lhe  mandar notícias. De início Hélene estranhou, pois eram amigas leais e fidedignas, mas acabou entendendo que a vida na corte levava algumas pessoas a buscarem uma vida longe de intrigas e conflitos pessoais.
Embora estivesse  magoada com a atitude da amiga,  nunca desconfiou do que acontecia pela suas costas, e decidiu esquecer a sua dor por nunca receber notícias  de  Lenore, considerou que não havia porque saber notícias de uma pessoa que não queria dá-las e seguiu em frente com sua vida.
No trono, os conselheiros lhe informaram da relação extra conjugal do rei com  Lenore e que desse relacionamento impróprio,  havia nascido um menino.
Mesmo magoada com os conselheiros que haviam omitido dela  um fato tão importante, se apressou a trazer o menino de volta para walden.
Os conselheiros aprovaram sua decisão, julgando que a rainha após saber da traição e da existência de um bastardo, tomaria a decisão justa para o caso. Ou seja, o exilaria para sempre, num lugar bem longe de Walden e de suas raizes reais.
Mas, assim que Hélene viu o menino pela primeira vez, ela chorou de emoção.
Ele era um legítimo filho de Petrus. O mesmo olhar desconfiado, os cabelos loiros e os olhos azuis acinzentados. Sim! Ele era filho de Petrus. E na ausência de um herdeiro legítimo para assumir o trono, Hélene  o adotou simbolicamente. A corte ficou horrorizada com a atitude da rainha, pois já havia pessoas interessadas no cargo, havia um duque em especial, que esperava o luto da rainha terminar, para que ele pudesse investir num pedido de casamento. Ser o rei consorte era melhor do que ter um bastando no trono.
Alheia a todos que a julgavam pelos seus atos, Hélene iniciou uma verdadeira jornada para que Theo pudesse assumir o trono de Walden e iniciou  uma série de acordos para que isso se realizasse.
A corte ficou indignada com aquela possibilidade. Havia conspirações de todos os lados para que  isso jamais acontecesse.
Um bastardo nunca seria legítimo num trono legítimo de um nobre!
Entretanto, Theo ainda era um menino, e ele não tinha grandes problemas naquela época. Quando sua mãe morreu,  ele vivia tranquilamente num pequeno castelo da família de Lenore, rodeado de amas que o tratavam muito bem. Até que um dia, seu tutor chegou e o levou para Walden.
No caminho para o reino, o  tutor o explicou de maneira simplificada o contexto de seu nascimento e  que não sabia o que iria acontecer quando chegassem a walden.
Mas a despeito de tudo de ruim que poderia ter acontecido, a rainha o acolheu como a um filho.
Imediatamente, Hélene entrou em contato com dois reinos amigos que sempre deram suporte ao reino de Walden: Craig e Dalibor. Hélene sabia que precisava tirar o menino dali para que ele pudesse viver e mais do que isso, ele precisava aprender a ser um rei. Um rei justo,  comprometido com seu povo, independente de sua origem.E ela sabia que conseguir a cooperação desses dois grandes reinos seria vital para que Theo fosse aceito por todos.
O rei Ozzil de Dalibor, recebeu o menino de braços abertos e tudo o que ensinou a seu filho Cornell, também foi ensinado a Theo.
O menino se tornou pajem do rei, assim como seu filho o era. Desajeitado a princípio, Theo sempre caía com o escudo pesado do rei. Ozzil ria e dizia:
-Não se importe Theobald. Um amassado a mais, dará a impressão que sou um grande guerreiro.
O menino amava Ozzil, o Velho. Ele era bom e justo, e junto com Cornell, sempre o  acompanhava nas Reuniões do Conselho, nas visitas aos vassalos, e nos julgamentos dos camponeses. Assim, os dois meninos foram aprendendo  como um rei deveria agir em cada situação específica.
Com Heloise, aprendeu a usar o arco e flecha e a ler. A rainha era exigente e sempre lhe dizia que um rei que não sabe ler é como um cego num campo de batalha e foi com ela também, que aprendeu a usar o arco e flechas, pois Heloise era reconhecida como uma exímia atiradora.
Terminada a sua primeira infância em Dalibor, Theo seguiu para Craig.
Zeferin, o Justo, apoiava a rainha Hélene, pois acreditava que os laços de sangue que existiam no pequeno menino era legítimo.Theo era filho da marquesa Lenore,  uma mulher de sangue azul com uma longa linhagem nobre e isso não podia ser esquecido, e carregava o sangue de Petrus, portanto, Theo era herdeiro de várias gerações de nobres que eram vassalos do imperador.
Em Craig, Cornell e Theo aprenderam a usar as armas: espadas, lanças e flechas. Treinavam todos os dias e já participavam juntos de pequenas insurreições que surgiam nas proximidades. Os jovens garotos, dormiam juntos, comiam juntos e aprendiam juntos a serem reis assim como os seus pais.
Quando Theo completou 17 anos, Hélene então decidiu recorrer ao seu primo, o imperador Anien, que interveio diretamente em walden. O jovem estava pronto para se tornar um cavaleiro e após participar de uma batalha onde se sobressaiu pela sua coragem, o inperador decidiu que consagraria os três jovens, cavaleiros do seu império tornando-os assim, vassalos diretos de Anien.
Foi a partir dessa condecoração tripla,  que surgiu a alcunha dos Três Reis.
Quando Theo retornou para Walden ele estava pronto para assumir o trono. Havia se tornado um homem com uma personalidade forte, um e um cavaleiro do imperador, mesmo ele sendo o filho ilegítimo de um rei.
Hélene conspirou bravamente  para que Theo assumisse o trono. E quando viu que a alta nobreza repudiava a sua iniciativa, iniciou-se uma guerra interna em Walden.
A batalha foi  longa , e o reino de Dalibor e o reino de Craig lutaram juntos para a ascensão de Theo ao trono e acabar com a insurreição, tornando seus líderes, inimigos de Walden, Dalibor e Craig.
Passado a insurgência, a rainha  Hélene reinou junto com o filho por alguns anos. Ele era um jovem, e tinha uma rede conspiração ao seu redor. Hélene  foi mais do que uma mãe para ele. A rainha eta muito piedosa, caridosa e muito corajosa.
Ela acolheu Theo como seu próprio filho e lutou por ele até o último dia da sua vida. 
Assun que o viu pela primeira vez, Hélene sabia que ele tinha uma força interior pela dor de ser criado num país estrangeiro, e de ser duramente discriminado por ser um bastardo. Mas isso o  tornou um homem valente, que amava lutar contra as injustiças humanas.  Mas em Walden havia muitos inimigos, principalmente o Conselheiro Mor, Demétr, que sempre que podia lembrava a Hélene a origem ilegítima do rei. Mas a rainha sempre respondia  que  o rei tinha sangue de nobre, pois sua  mãe, mesmo tendo traído a sua amizade tinha uma  antiga e longa linhagem ba nobreza.
E quando o Conselheiro mor insistiu nessa abordagem, a rainha mandou enforca-lo  em praça pública por conspiração. E desde então, fez-se um silêncio em relação a origem do rei por toda a parte da nobreza.
Desde que era pequeno,  Hélene havia preparado Theo  para ser o rei de Walden. Ela o amava profundamente e no seu leito de morte, lhe confidenciou:
-Você é um  guerreiro, meu filho. Desde que te vi a primeira vez, não consegui te odiar. Você é o filho que gostaria de ter gerado. Você é forte, é honesto, é justo. Reine Walden com amor. Eu te amo meu filho querido.
E quando  Hélene morreu o que lhe restou foi assumir sozinho o trono de Walden.
Como  ele era muito rejeitado  pela maioria dos nobres que habitavam o castelo, sua corte aos poucos foi diminuindo, com os nobres retornado as suas cortes de origem.
Não havia nobres habitando em Walden fazia muito tempo. Os nobres não faziam questão de estar lá,  e ele tampouco fazia questão de te/lós ali. Estava feliz na sua reclusao.
Ser bastardo foi sempre um desafio para Theo. As pessoas o menosprezam em sua grande maioria. Fato esse que o fez viver em seu castelo chamado somente com seus criados e cavaleiros, únicos nobres a compartilhar de sua mesa.
Seus vassalos herdados lhe eram hostis e maioria não pagava os impostos e taxas fazendo com que Theo tivesse que ser severo para conseguir os pagamentos dos inadimplentes.
Por mais que tentasse ele não conseguia fazer com que o povo de Walden o considerassem seu rei e ele já havia dado todas as provas possíveis a eles,  mas mesmo assim, o estigma de seu nascimento o perseguia. E não houve outro jeito a não ser viver com esse dilema: ser um rei que seu povo amava odiar.
Quando se tornou rei, o papa  quis excomunga-lo mas graças à intervenção do imperador que o consagrou rei, , ele não o fez. Mas todos o consideravam um pária entre a realeza. Eram poucos os reinos que mantinham amizade com Walden, entre eles estava Dalibor cujo rei Ozzil era um dos melhores amigos de seu pai. E do outro lado, o rei de Craig, que mantinha relações amistosas e cordiais com Walden desde tempos ancestrais. .
E os três reis foram coroados praticamente na mesma ocasião, com diferença de alguns dias. O próprio imperador percorreu as estradas para garantir legitimidade ao reinado de Theo, já que o papa havia ameaçado a todos de excomunhão.
Foi preciso uma intervenção forte de Anien é um pagamento de muitas moedas de ouro e algumas terras escolhidas pelo papado.
Mesmo tendo se tornado rei junto com seus dois amigos, Theo não se sentia igual a Derek e Cornell.
Eles eram filhos legítimos e isso trouxe aos dois, uma segurança, e uma aceitação que não lhe era familiar.
Tudo em sua vida ele tinha que lutar para conseguir.
Tinha que matar, prender, exilar , e ao longo dos ano, isso lhe era tão comum,  que muitas vezes,  que não existia mais sensibilidade nele. De nenhum tipo.
E  agora havia Brugnaro em sua lista de conquistas e problemas.
Brugnaro era bucólico  reino ao ao pé de uma colina onde havia muitos rios pequenas florestas muito bem preservadas. Em uma cavalgada na manhã anterior, ele galopou até a divisa com Walden, demarcando terras, ficando bandeiras, buscando conhecer o vilarejo  e também se fazer presente para os moradores das vilas.
Chegando a vila principal, cercado de seus cavaleiros, ele  parecia um guerreiro pagão e sua fisionomia não ajudava a dar uma boa impressão, os vincos do seu rosto estavam marcados, pois ele sentia dor em todas as partes do seu corpo, mancava  com ferimento na coxa e usava  um tapa olho no seu olho esquerdo. Tinha sido muito ferido nesta batalha. Seus adversários tentaram a todo custo mata-lo, mas não conseguiram seu intento. ele estava ferido, mas vivo! Seu Boticário Alisander que o acompanhava desde Walden,  estava cuidando d e suas  feridas com emplastos de ervas curativas que estavam  aos poucos sendo curadas.
Durante sua visita ao povoado, Theo  apeou do cavalo e sentou-se embaixo de uma árvore,e jogou seu pesado manto de peles para o lado deixando à mostra seu arsenal  de armas pessoais: espada, adagas, e um arco pendurado na parte de trás das costas,
Ele passava a imagem de um homem que sabia muito bem o que queria e estava pronto para enfrentar qualquer coisa e qualquer um.
O trono é um lugar perigoso. É uma possessão cheia de riscos e intrigas, mas ele havia sido criado para lutar. E ali agora, era seu reino também.

O Rei Bastardo Onde histórias criam vida. Descubra agora