Kurt e Camille encabeçavam a fila de corredores, seguidos de perto por Dumali e Darrien Arven, Kallai Gliacon, Leonard, Eirian e Callum Samos, Styr Tyros, e então todos os outros herdeiros. A arena de treino sempre tinha sido o lugar onde ambos eram os mais eficientes. Não que não o fossem em todo o resto, mas era o local mais explícito. Tinham sido treinados desde que sabiam andar — Sulpicia nunca admitira fraqueza.
Ali dentro já podiam ver os círculos internos se refazerem. Seamus Welle ainda não tinha anunciado seu noivado com a garota Merandus, mas era de ciência pública que ele o faria até o fim da semana. Por outro lado, houvera uma proposta Gliacon a Dumali Arven. Os gêmeos não acharam muito do fato sozinho, era do feitio dos Arven se associar aos clãs com maior poder. Mas alguma coisa não parecia certa. As irmãs de Kallai pareciam felizes demais com isso — embora Elisa não tivesse parecido exatamente feliz uma única vez desde que chegara — e Dumali parecia extremamente satisfeita. Kurt não entendia bem por que alguém se sentiria feliz em estar noiva do monstro que era ele, Camille achava que ela pretendia domá-lo. Sendo aquilo ou não, os rumores acerca de Kallai eram tão ruins quanto os a respeito de Leonard. A concordância dos gêmeos era que deviam ser relegados à guerra, não pertenciam aos ambientes da corte.
Camille passara a fazer parte do pequeno grupo que consistia de Eirian, Minerva, Margrethe e da qual Esme faria parte se estivesse presente. A princesa tinha se certificado de que a noiva do irmão estava próxima dela, e por mais que ela e a Merandus não fossem a companhia de escolha dela, ela se via obrigada a aceitá-la. Estar ali era bom para acimentar a tão necessária aliança com os herdeiros Merandus, e ótimo para Margrethe, que estaria logo recebendo propostas de casamento — uma curandeira Skonos com a aparência dela certamente não ficaria solteira por muito tempo — e cuja aproximação da Samos a deixava em condições para melhores ofertas.
Kurt por outro lado, egoistamente, e ele tinha plena consciência disso, se via várias vezes sem companhia. A irmã tinha estado lá por tanto tempo que ter de observá-la de longe durante as pausas dos exercícios era desolador. Bizarramente, encontrou-se conversando com a prima Osanos. Parthenope também tinha pouca companhia — depois da má publicidade que Esme espalhara, suas amigas tinham saído de perto dela como se ela tivesse a peste, e se aquilo não provava sua veracidade como amigas, ele não sabia o que o fazia. Aquilo gerava mais rumores do que os acalmava, e, embora não tivessem mais do que interesse de ordem fraterna um no outro, não era assim que era visto. Mas tinha se tornado comum, ver a ninfa e o ardente competirem, e muito mais comum, vê-lo pedir para que ela o "afogasse" numa esfera de água. Camille o tinha ouvido dizer animadamente que queria ser capaz de ficar sem respirar por cinco minutos.
Parthenope o observava e mais vezes do que não, o via alternar olhares entre a princesa e o herdeiro Viper. Ele era discreto, ela não negava, mas não entendia muito bem. Tanto ele quanto Bel tinham o dever, por serem herdeiros, de tomar uma esposa e deixar ao próximo herdeiro o comando de sua Casa. Natural seria que esquecessem um do outro. Não parecia que ele estava substituindo um por outro, apesar, apenas dividindo. O outro sabia interceptá-lo com facilidade, conhecia seus padrões, e retribuía seus olhares com perguntas silenciosas. Perguntas às quais o Calore não tinha resposta, e não sabia se queria ter. Ela suspeitava não conhecer a extensão total do caso deles, e provavelmente estava certa. Um verão de uísque e encontros escondidos não fazia aquilo com alguém.
A sala de treino também era a única ocasião em que Fried Welle não usava sua — na opinião de Parthenope — horrível pintura facial. Ela realmente não entendia a necessidade daquilo, mas também não era feliz poder ver a melancolia que se apossava dele. Parecia que tinha se tornado companheiro de tristeza de Elisa Gliacon. Parthenope realmente não sabia por que ela estava daquele jeito quando em todos os anos anteriores ela tinha sido altiva e bem disposta. A melancolia tinha sido o território do Welle desde que a Osanos conseguia se lembrar.
Ela estava muito feliz de Esme não ter mostrado a cara em público desde o fiasco do banquete de anúncio. Não queria ter de ver sua cara de derrota, nem ouvir seus comentários ácidos e amargos de derrota, atirados displicentemente a Camille e quem quer que estivesse em torno. Ela provavelmente tinha voltado para as aulas de protocolo com a instrutora de etiqueta da corte, lady Mihaela Jacos, uma filha de um ramo menor da Casa, idosa e com filhos que já tinham seus filhos. Faria bem a ela. Talvez a ensinasse um pouco de humildade. Wade Titanos tinha ficado furioso com a filha, e embora não tivesse havido uma discussão — pelo menos uma que pudesse ser ouvida pela nobreza — ela tinha cuspido no nome da Casa e precisava compensar por suas atitudes, que, deliberadamente, tinham causado a todos eles uma vergonha absurda. O que ela pensava que aconteceria? Que Callum pusesse as ordens dos pais de lado, a tomasse nos braços e a nomeasse vencedora da Prova e de seu coração?! Todos sabiam que Camille venceria. Sabiam no momento em que ela saiu do navio Calore como um sol, reluzente, cegante, imponente. Esme era a desesperada. Não ela.
O clima estava pesado ali a despeito do burburinho superficial de sempre. Styr estava lá, mas desacompanhado. Lembrava a todos de sua irmã morta e da amiga. Assassina e suicida, eles cochichavam. Seu sangue manchou meus sapatos, alguma garota disse. Camille tinha sido poupada da visão, mas Parthenope tinha estado bem ao lado, conversando com uma menina Marinos. Passou aquela noite inteira se lavando no banheiro espaçoso, o chuveiro ligado para esconder o som de seu choro desesperado. Não tinha amor por nenhuma delas, deuses, talvez as odiasse de um jeito superficial e mesquinho, mas a cena tinha sido horrível e não saía da mente dela. Ela queria imaginar que não tinha sido a única que tinha ficado extremamente abalada, e sabia que certamente a única não era, porém, o sangue frio da grande maioria a assustava mais do que um pouco. Compartilhava do sentimento de Styr. Só queria ir para casa.
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A Silver Knife
Fanfiction"[...] Você esquece daqueles que nos prejudicaram, e você esquece o que nós ainda temos a perder, e as dignidades que ainda precisamos roubar para acertar com um sussurro aquilo que deveria ter sido respondido com guerra quando aconteceu. Você me pe...