Vida longa ao rei.

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Os sinos soaram, e a fumaça foi solta. Essa era uma tradição que tinha sobrado da antiga dinastia Calore, a da fumaça. Ela era preta, densa, e saía do topo de todas as torres de Whitefire, e de duas torres de vigília nas extremidades da ponte ligando Archeon leste e oeste.

Os âncoras dos noticiários usavam roupas também pretas e falavam em tom grave. Em todas as televisões o hino, selo, e bandeira de Norta estava estampado, e os rádios faziam transmissão pelo canal de emergência.

O rei estava morto. Sua falta será certamente sentida, diziam as notícias. Especificavam que não podiam dar melhores informações pois não dispunham delas, mas que haveria um pronunciamento de Whitefire durante a tarde.

A nobreza toda tinha sido acordada com isso. Darrien Arven desligou a televisão sem pressa, e finalmente se virou para levantar da cama. Dumali estava indo para lá também, e sua tia, Sulpicia, já estava lá desde a madrugada. Havia uma investigação em curso, o que queria dizer uma coisa e uma coisa apenas: ele não tinha morrido naturalmente.

***

A Casa Samos estava num estado que Camille gostava de descrever como animação suspensa.

Ela não tinha dormido a noite toda. O que não passara andando de um lado para o outro gastou de olhos abertos embaixo de sua máscara de dormir. Queria estar lá, queria estar ativa e fazer parte de tudo aquilo, mas seu cargo fundamental era ficar no quarto, justamente, a noite toda. Quando suas damas de companhia, lady Margrethe e lady Georgiana, vieram acordá-la e vesti-la em trajes de luto, ela quase deu pulos de alegria por finalmente fazer alguma coisa. Margrethe, sabendo bastante dos humores da outra, escolheu um adorno com um véu tanto grosso sobre o rosto. Qualquer escapada que o riso de Camille desse, o véu cobriria.

Sua escolta chegou pouco depois, e a Calore cuidou de parecer especialmente pálida e assombrada naquela tristíssima manhã ensolarada onde os pássaros cantavam. Ela foi levada até a sala de conferências onde a reunião estava feita. A lista de presentes: Kurt, Lorde Leonard, Príncipe Callum, parecendo chocado, uma chorosa Princesa Eirian, Lady Sulpicia, de guarda do lado da porta, dentro, vestida em uniforme militar, do outro lado da porta Lorde Carries Arven, irmão dela, Lorde Vernon, pai de ambos, idoso, mas como um pilar sólido, Lorde Collan Merandus e seu herdeiro, Zach, Lordes Jacos, Provos, Eagrie, Viper, Titanos, Osanos, Tyros e Macanthos. Os outros ou não tinham podido comparecer ou estavam muito longe para estar ali imediatamente. A ausência da rainha impunha uma tensão sobre o cômodo, e ela soube, imediatamente, que sua chegada era a peça final no cenário que Kurt pintara muito habilmente.

—Podemos então começar. — anunciou Lorde Vernon, com sua voz baixa e rouca. Naquela situação de tensão, nada mais óbvio do que o silenciador presidir. — Kurtis, tenha a bondade.

Camille o viu inspirar fundo, sua expressão de preocupação não era uma farsa.

—Se estamos aqui hoje vossas graças sabem muito bem, e eu não tenciono esconder, a morte de nosso falecido rei não foi acidente.

—E supomos que já tenha o suspeito sob custódia. — Egeo Osanos cruzou os braços, parecendo calmo como se tivesse acabado de dar um passeio pelo parque. Kurt lançou a Wade um olhar apologético antes de continuar.

—A rainha está nas celas sob o palácio. O rei morreu por uma overdose do remédio que ela toma. Não é divulgado, mas ela tem um problema cardíaco cujo remédio, em quem não o necessita, causa avariação do batimento cardíaco, e nesse caso, uma parada.

—E a interrogação? — Lorde Vernon continuou inabalado, expressão neutra. Kurt virou para o herdeiro Merandus.

—A rainha é culpada. — Zach declarou, sem uma única mudança na expressão ou tom de voz. A frieza predominava. — E há mais uma coisa.

A Silver KnifeOnde histórias criam vida. Descubra agora