Monstros

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A rainha tinha as mãos trêmulas enquanto ajeitava a tiara da filha. Aquele era um dia... Especial.

O rei estava decidido, a mulher a ser esposa de seu filho tinha de ser uma monarca melhor do que ele seria. A rainha não tinha conseguido dissuadi-lo. Não podia negar que a escolha dele era mais do que apta, mas aquilo a deixava desconfortável, a moça a deixava desconfortável, porque a lembrava demais de si mesma. Não nutria amor pelo príncipe por quem competia, apenas pelo título.

Os Calore tinham se resignado a não ter mais a coroa, era bem sabido, mas fazer de suas filhas rainhas ainda era uma questão de honra. Eram ainda uma casa extremamente poderosa, e conforme o tempo passava, firmavam mais alianças do que os Samos jamais teriam em seu tempo de reinado. Ter uma Calore era bom para eles, era bom para a guerra, era bom pelo bem estar de todos. Mas ainda assim ela estava inquieta. Camille era um predador que nunca seria domado.
Emmeline teria preferido Parthenope. Era submissa mas ainda uma rainha apta. Ou Esme, mas Esme sabia apenas de tramoias e muito pouco de governo.

Eirian parecia animada. Não era todo dia afinal que ela podia usar as joias do cofre ou ver um espetáculo daquela magnitude. Callum, pelo menos dessa vez, parecia nervoso. E deveria estar. Se ele não era o melhor no que fazia, a vencedora certamente seria, e tão ou mais difícil de domar ou aprisionar quanto ele seria. Leonard achava particularmente hilário que ele não tivesse sido informado da decisão quase oficial, mesmo que todos soubessem quem era.

Ele não escolheria uma noiva pela Prova. Deixara claro que era um recurso para príncipes, e ele era apenas um lorde. Maximus aceitara relutantemente, embora fosse bem sabido que ele gostava da exclusão de ameaça à coroa do filho.

—Estamos todos prontos? — o rei ajeitou sua gola.

—Como nunca estaremos. — respondeu a rainha.

Eirian se aprumou, Callum tensionou, Leonard levantou de sua posição displicente no sofá, os três filhos do aço com três expectativas diferentes do evento.

A antessala pareceu esfriar dez graus enquanto o rei entrava primeiro no ambiente reservado à família real. Maximus I da Casa Samos, rei de Norta, anuncia a voz que soa pela arena. A rainha entra logo atrás, então o príncipe, a princesa, e o lorde. As grandes casas os encaram em dúzias de olhares diferentes.

—Hoje honramos a tradição. Vamos realizar o rito da Prova Real para descobrir a filha mais talentosa que se casará com o filho mais nobre. Assim, encontramos força para unir as Grandes Casas e aumentarmos nosso poder para garantir o domínio de nossa nobre nação!

— Força! — grita a multidão de nobres prateados, alguns com fervor, outros com raiva. — Poder!

—É novamente tempo de defender esses ideais, e meu filho honra nosso
soleníssimo costume. — Ele estendeu o braço, e Callum deu um passo à frente. — O príncipe herdeiro, das Casas Samos e Titanos, filho de minha consorte real, a rainha Emmeline, herdeiro do trono de Norta e da coroa de ferro, Callum II. — O silêncio que seguiu foi mortal. Podia-se ouvir uma agulha caindo no chão. — Todos os senhores vieram honrar meu filho e o reino, então honro os senhores. Honro vosso direito de governar. O futuro rei, filho de meu filho, terá vosso sangue prata tanto quanto eu. Quem atribuirá para si esse direito?

Dante Calore foi o primeiro a responder, com um urro, e vários se seguiram ao dele.

—Eu quero a Prova Real!

—Pois bem! — bradou o rei de volta. — Lorde Provos, por favor.

Os camarotes do Jardim Espiral subiram e se fecharam na arena que ele tinha sido feito para ser. A proteção elétrica se ativou. As Casas mais importantes estavam nos andares mais altos.

A Silver KnifeOnde histórias criam vida. Descubra agora