Medici

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Iphigenia Samos e Lucrezia Calore foram criadas juntas até os três anos, quando Iphigenia finalmente manifestou o dom de seu pai.

Camille nunca a quis como filha. Era uma legítima herdeira Samos, do sangue e carne de Leonard, e ela a desprezava por isso. Durante seus primeiros dias de vida, quem cuidou dela foi Kurt. Ela não queria saber daquele bebê loiro-arruivado de olhos escuros, longe disso, preferia que morresse. Levou tempo e calma para que o irmão a convencesse de que não podia mostrar preferência por Lucrezia. Se o fizesse podia levantar suspeitas sobre a real origem de seus filhos, e mais importantemente, sobre a legitimidade do trono de Alexandrus. Ela fez, então, o esforço. Fingiu amar a criança, a tratou exatamente como trataria a outra filha. Tinha de parecer crível.

Às vezes Camille chorava à noite, infeliz em ter de ser mostrar uma mãe amorosa e devota à uma criança que odiava. Mas engolia as lágrimas, sabendo que podia se livrar daquele fardo no momento em que ela se mostrasse mais Samos do que Calore. Foi também entre lágrimas que pediu que Eirian a treinasse, a partir do momento em que moedas de metal começaram a torcer entre os dedos dela. Fingiu tristeza, mas suas lágrimas ali eram de alívio.

—A Samos irá viver com você, Kurt, e não haverá palavras de discórdia da sua parte. — ela anunciou a ele em privado. — Ela corre perigo dentro do palácio.

—Perigo? Alguém a quer morta? — ele piscou, confuso.

—Sim, Kurt, perigo. Se ela permanecer muito tempo mais corre perigo de eu a querer morta mais do que quero agora, e então não terei certeza de meu controle. — e com aquilo, encerrou o tratado.

Lucrezia separou-se da irmã aos prantos quando o tio veio buscá-la. Iphigenia não chorou, mas a apertou com força. Era muito calma para seus três anos. Kurt esperava que fosse o temperamento de Ibzan que ele via e não o de Leonard. Alexandrus atou uma fita no pulso dela, vermelha como seu fogo. Disse a ela que só poderia tirá-la quando se encontrassem novamente e também a abraçou com força. Iphigenia estava sendo levada para o outro lado da cidade, mas seus irmãos agiam como se fosse o outro lado do país.

Naquele verão, Camille assinou com Cantrix Lafontaine um contrato de casamento. Assim que Iphigenia fizesse dezoito anos, se casaria com Tynan Lafontaine, e seria ela a nova matriarca Samos. Camille a queria morando bem longe dela, e valia a pena abrir mão das propriedades Samos, cujos fantasmas ela não tinha interesse em conhecer. Toda vez que Bel vinha ver o Calore, trazia o filho da esposa. Ambos os magnetrons foram treinados juntos, e bastante próximos à prima ardente, Gianozza.

Eirian teve cinco filhos, com idades bastante próximas. Gianozza nasceu quando Leonard morrera, era mais velha do que Iphigenia e três vezes mais inquieta. Depois, veio Adara, quieta mas ágil. Logo depois, Ishan e Calder, que discutiam por qualquer detalhe, mas não podiam ser separados sob nenhuma circunstância. E por fim, Olenna, mais esperta do que todos eles e disposta a correr riscos. Adara mal andava quando Eirian começou a treinar Iphigenia e Tynan. Ao mesmo tempo, Kurt começou o treinamento de Gianozza, e auxiliava Camille com Alexandrus e Lucrezia.

Mais uma vez, os salões da rainha de Norta estavam em paz. Sua surpresa foi maior do que deveria ter sido quando depois de seu sentinela anunciar que ela tinha um visitante ela ver quem o visitante era. Ela não deveria ter estado nem um pouco surpresa quando ele lhe apresentou um contrato de casamento e assegurou: a única senhora de que ele precisava era ela. Mas se surpreendeu. Assinou às pressas, não queria parar de admirar o anel Eagrie no dedo, nem perder tempo com papéis.

O casamento da rainha regente com seu novo consorte foi opulento, sem procissões, mas com presentes a vermelhos e prateados. Parecendo satisfeito em ver a mãe feliz, Alexandrus oficiou o casamento, em sua posição de rei. Proclamou as juras para que os noivos repetissem com uma solenidade surpreendente para seus oito anos. Ainda fez uma careta quando o noivo beijou a noiva, afinal, na idade que tinha, achava a ideia nojenta.

Depois do casamento, Camille decidiu que estava farta da guerra. Custava a eles bilhões de coroas por ano, sem falar no tempo e material humano gastos naquilo. Sem contar que era uma guerra Samos, e Camille não tinha tempo para disputas imbecis que os Samos começaram.

Convocados, um time de diplomatas de Lakeland e Norta escreveram um tratado, assinado pelo rei Cygnet e pela rainha Calore. Lucrezia se uniria em matrimônio ao herdeiro Cygnet quando ambos completassem dezoito anos. E aquela seria uma paz duradoura, próspera. Uma pena que anos e anos depois, um dos descendentes de Alexandrus decidisse que a guerra era mais interessante do que a paz. Camille preferia, com razão, ser amada pelo povo, mas sempre houveram governantes com menos apreço ao apoio das massas. Não existe um governante que esteja acima das leis dos homens ao ponto de ignorar as instruções d'O Príncipe, ela concluía.

Mas essa era uma história para os descendentes dos descendentes. Para os Calore que esqueceram de como consertar com um sussurro aquilo que se respondia com guerra.

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