X - Cal

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Demoro um segundo para perceber o ruído agudo que nos aflige. A primeira bomba aterrissa em um estrondo ensurdecedor, e destrói o teto sobre nossas cabeças. O chão treme e as paredes cedem. Caio, empurrado pelos destroços do que foi uma coluna.

Minhas pernas ficam presas no mármore destroçado. Os restos da destruição me perfuram, deixando o líquido grosso e prateado escorrer e formar uma poça. Sinto pontadas fortes na cabeça e minha visão está turva. Mesmo assim, tento analisar o que está acontecendo.

Vejo criados fugindo, os Welle jogados em meio aos escombros. A pequena Heron Welle está quase escondida pelo grande lustre quebrado. Seus olhos encaram o vazio, sem piscar. Sua mãe chora ao seu lado, também presa por ruínas da parede. Não vejo o lorde Welle, meu pai, Evangeline, a rainha, ou Maven. Apenas Mare, que por sorte, ficou protegida da pior parte pela estruturação de ferro das paredes.

Ela se desvencilha com agilidade das estacas. Faíscas elétricas correm por toda a extensão de seu corpo, que somadas aos diversos hematomas e sangue pingando, lhe confere um ar perigoso e mortal. Mesmo com toda essa aparência assassina, Mare parece assustada. Seus olhos correm pela destruição em massa, encontrando os meus.

- CAL! - seu grito é quase levado pelo som de coisas se quebrando e caindo. - O que foi isso?

Minha cabeça trabalha com vigor em busca de uma resposta. Enquanto isso, ela me ajuda a sair de baixo dos escombros, me puxando de volta. Meu corpo todo sangra com pedaços da destruição, mas minha perna jorra sangue e pende de uma forma estranha. Ignoro a dor, e me levanto. Sou um príncipe e general, preciso estar no controle.

- Tem certeza que consegue andar, Cal? - Ela diz, aparentando grande preocupação. Cravo meus olhos nos dela, esperando que entenda.

- Eu preciso. Não sabemos o que foi isso. Ou quem fez isso. Lakeland jamais poderia ter chego tão longe. Não sem passar por nossas inúmeras legiões de soldados nas trincheiras, guardas em todas as regiões e estradas, além dos próprios sentinelas do rei que rodam todo o perímetro da cidade enquanto estamos por aqui. Não faço a mínima ideia de quem pode ter sido.

- E isso te assusta. - Ela conclui. É claro que me assusta Mare.

- Devido aos últimos acontecimentos, tenho que me assustar.

- Quais acontecimentos?

Por um minuto, esqueci quem sou e quem Mare é. Não deveria ter lhe escapado algo como isso. Embora eu mude de assunto, ela vai voltar a perguntar.

- Vamos! - Trovejo, como o general que sou.

- CAL! Estamos sozinhos. Você não tem nenhum sentinela ao redor. Nem Maven. Como pretende ir a caça?

Ela tem razão. Não tenho ninguém ao meu dispor. Não consigo ver ou ouvir nada com tantos destroços e mais bombas caindo. Inclusive uma chega próximo a nós, e somos obrigados a abaixar-nos.

Começo a andar. Quase havia me esquecido meu osso distendido. Por sorte, dois sentinelas nos encontra. Mas não é o bastante.

- Onde está meu pai? - Grito por cima dos ruídos de novas bombas e coisas cedendo.

- Não o encontramos, alteza. Estávamos pelo perímetro quando vimos os aviões se aproximarem. - O sentinela mais alto fala. Por suas cores, reconheço ser Ethan Lerolan, um oblívio. E o outro sentinela, um pétreo, é Dener Macanthos.

- Acho que ele pode se cuidar. Vamos. - Ordeno para que me sigam. Mas quando Mare se une à nossa precária infantaria, tento impedi-la com um braço. Sua altura lhe permite passar por baixo, e sou obrigada a usar as palavras.

Príncipe EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora