XII - Cal

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Estava convencido que eu morreria.

Eu sentia.

Mas nem morrer em paz eu posso. Mãos fortes e anêmicas me trouxeram para uma prisão. Antes, eu costumava levar as pessoas para atrás das grades, agora, sou eu quem sou levado.

Os blocos de pedras silenciosas me sufocam. Xingo ao máximo o criador dessas pedras, mesmo que eu devo ter sido quem mais aproveitou-se do benefício que elas nos dá.

Meus sentidos estão afetados, então não sei ao certo onde estamos, ou que horas são. Devem ter me dopado durante a vinda, pois não me lembro de nada. Acredito que algum curandeiro a disposição deles trabalhou em mim, porque não sinto mais prestes a morrer. O único contato que tive com um ser humano foi um guarda que me trouxe comida umas duas vezes e outro que nunca deixa seu posto próximo a minha cela. Aquele ser tão branco que chega a ser transparente ainda não me visitou. Não consegui ver seu rosto, de modo que só posso me lembrar de suas mãos estranhas.

Não consigo ver a saída. As grades dão de frente para uma parede de pedras escuras como o ambiente, e se me esgueiro pelas barras, meu campo de visão só alcança o guarda. Ele deve ser um sombrio, porque esse lugar parece mais escuro do que é possível. Seu uniforme é de um amarelo queimado como seus cabelos. Ele carrega um símbolo no peito, mas não consigo ver.

- Especulando, alteza? - Uma mulher me questiona. Ela parece ter se materializado do nada, pois não percebi sua chegada. Sou tomado pelo ímpeto de avançar em sua direção. Ela zomba de minha tentativa fraca e falha. - Poupe suas forças, talvez precise delas mais tarde.

Forço minha postura passiva, serena, mas minha mente suplica por chamas. Fogo derretendo tudo. As grades, as pedras, essa mulher que zomba de mim. Tudo. Mas apenas meu olhar pode fulminar aqui. Uma outra mulher aparece. Temo pelo corredor de onde saiu, provavelmente está brotando mulheres irônicas que vem zombar de mim. Não reparo na face da outra, e quando vejo, tropeço na cadeira, derrubando-a.

- Bom te ver novamente, Tiberias. Lembro-me de você, ainda aprendendo a arte de caminhar. - Ela zomba, também.

- Elara? - Questiono. A mulher é idêntica a rainha. Minha sugestão pareceu lhe ofender.

- Não precisa me xingar dessa maneira, alteza. Ainda não lhe causei mal.

Minhas gargalhadas forçadas reverberam pelo ar úmido e frio dessa espécie de caverna ridícula.

- "Não lhe causei nenhum mal." - Tenho que reconhecer que meu tom irônico não é tão bom quanto o dela. - Só me tirou tudo, inclusive o direito de morrer! - Rujo, bravo pela perca de uma morte. Como se fosse algo ao qual lamentar. Mas dependendo do destino que terei, talvez a morte fosse bem-vinda mesmo.

- Não se preocupe, meus assuntos com você são rápidos. És apenas uma arma, Tiberias. Uma troca. A rainha não hesitará.

- E pelo que irão me trocar?

- Por Harbor Bay, talvez. Cidade Nova. Precisamos de bases confiáveis no próprio país. Nem sempre conseguiremos exportar produtos de Prairie.

Finalmente, o traje das duas parece fazer sentindo. As mulheres ostentam armaduras douradas e muito reluzentes, nada comparado ao uniforme grosso e amarelo queimado do guarda. Porém, acho que elas seriam muito burras a ponto de fazer uma armadura de ouro. O ouro é fraco em combates. Não, isso não é ouro. É um metal desconhecido.

Também noto o símbolo que carregam no peito. É como a onda do mar, só que dourada, e seu fundo azul. É a insígnia de seu país.

- Prairie? - Pergunto, atônito.

Príncipe EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora