Um golpe me acerta no peito, tirando meu fôlego. Abro a boca, em busca do ar que falta em meus pulmões. Meus pensamentos me encobrem como uma onda, e eu me deixo mergulhar. Por que querem destruir a mim?, penso. A filha da falecida Mackenzie Merandus disse, provavelmente em nome de sua mãe, que iria destruir a mim. Não ao reino, o rei ou a rainha. A mim. Isso me apavora, me cega de medo e confusão. Mare me deixa são. Por enquanto.
Outro golpe, mas falho. Giro as mãos e meu bracelete solta faíscas que em questão de segundos transformam-se em labaredas altas. A mulher que tenta lutar contra mim é uma telec, e chama vários destroços ao nosso redor para me atingir. Mas falha também. Aumento as labaredas que passam a consumir seu corpo. O inferno que criei para a filha de Mackenzie se une ao inferno que criei para a telec. Crio um incêndio florestal, mas não me importo. Verdes irão cuidar disso, e com prazer.
- MAVEN! - Mare grita. Dois homens a puxam pelo braço. Forçadores. Um outro chega e aperta seu pescoço, a impedindo de gritar.
Corro mais rápido do que é possível, com meu corpo inteiro em chamas. Torro o forçador que aperta sua garganta. Sinto cheiro de órgãos queimando, mas não ligo. Não quando Mare está em perigo. Estico os braços e miro nos dois homens que insistem em levá-la. Eles são atingidos, mas eu também. Um magnetron formou uma adaga simples e rápida e a mirou em meu coração. Os dois caem. Seus corpos queimando aos poucos. E eu também.
Sinto uma dor imensa. Mare vem até mim, e lágrimas caem em meu rosto. Delas, não minhas. Um curandeiro chega para me ajudar. Ele puxa a adaga e eu solto um ruído agudo de dor. Suas mãos deslizam para a poça de sangue que encharca o uniforme. Aos poucos, os tecidos se fecham e já estou de pé. A mão que eu havia perdido voltou.
- Está tudo bem, Mare. Eu estou bem. - Digo, tentando reconfortá-la. Seus olhos ainda estão marejados, mas ela não deixa as lágrimas caírem. Ela me puxa para um abraço apertado.
- Eu sei que sim. - Sussurra no meu pescoço. Olho por cima de seu ombro. Cal luta contra dois. Um curandeiro se demora em Evangeline, que está cheia de raízes, espinhos e folhas por tudo. Algumas perfuraram seu braço. Mas muitos dos que nos atacaram já não estão aqui. A maioria fugiu. Alguns estão jogados no chão, queimados, eletrocutados e com facas em seus corações.
Mare se desvencilha. Ela está sangrando. Uma parte de sua coxa se foi, deixando um buraco. Deve ter lutado com um oblívio.
- Temos que ir. Palafitas ainda está sob ataque.
- Certo - Sussurra. - Você tem razão. Isso deve ter sido apenas uma distração para fazerem alguma coisa a mais lá. Precisamos correr.
- O rei avisou. Ele disse que não deveríamos ter vindo. É perigoso. - Evangeline se revela, totalmente curada.
- Mas sabemos que nenhum de nós teria obedecido. Principalmente seu noivo, Eve. Ele não perde uma chance de lutar. - Mare argumenta. Evangeline arqueia as sobrancelhas e analisa Cal. - Agora realmente precisamos ir.
Com alguns acenos, vamos até o veículo. Cal vem também, após acabar com os dois que ainda insistiam nele. Curandeiros e sentinelas o seguem, mas ele dispensa todos. Temos pressa, então o veículo acelera, deixando uma nuvem de fumaça e pó atrás de nós. Os outros vem junto. Alguns soldados estão na parte de cima. Outros se amarraram ao lado do veículo.
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Palafitas está um desastre.
Paramos próximos a uma floresta, em terreno pedregoso. O cheiro de lama e rio é substituído por fumaça e sangue. Há caos por todos os lados, em todas as direções. Minhas botas altas me protege da lama, mas não do ar empoeirado. Partículas de pó caem como neve em mim. Há estrondos de bombas por todos os lados. O chão treme sobre meus pés. Mare se agarra aos meus braços. Ela treme.
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Príncipe Esquecido
FanfictionMaven Calore, o príncipe que Norta esqueceu, tem que lidar com segredos perigosos que lhe confiam, para impedir que descubram e destruam o mundo com ele. Algo inimaginável está sobre suas mãos, assim como o futuro de seu reino. Dentre tantas mentira...