Capítulo XXII - Mare

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Simplesmente não creio.

Um pedaço do meu passado. Agora voltou, atropelando tudo e todos a sua frente. Darn. Só pelas últimas letras de seu nome, já desconfiei. Tinha de ser. Tinha de voltar, assim. Darn só pode ser quem penso que é. As histórias batem.

Kilorn.

Mas ele nunca me disse que tinha uma irmã, só sua história. Egoísta. Ainda sinto rancor dele. Menos, mas ainda sinto. Não tenho notícias de Kilorn à muito tempo. E nem quero. Mas não posso impedir. Uma avalanche vem a mim. Seus olhos. Eu devia ter imaginado. São verdes. Igual ao dele.

Meus pensamentos se voltam para aquela noite. Tudo aconteceu por causa daquela noite. Quando tentei assaltar o herdeiro do trono. Estara atenta ao bar, esperando bêbados para roubar-lhes. Tentando esquecer meus problemas. E Kilorn tinha me entregado um de bandeja de prata. Brigamos. E não foi bonito. Me lembro como se fosse hoje.

- Então... Não há escapatória. Sinto muito. - Havia lamentado.

- Tudo bem.

- Olha, eu não vou desistir, mesmo agora. Você não pode ir para o alistamento!

- Mare... - Kilorn balbuciava.

- Não, Kilorn! Você não pode, e não vai.

- Mare! Nem todos escapam.

- Mas você será um deles. E eu também.

- Você faz isso por você, não por mim. - Vocifera. Eu arregalei os olhos, assustada. Ele nunca havia agido dessa forma comigo.

- Kilorn, eu... Eu tentara ajudar.

- Eu sei que você faz isso porque não quer perder-me. Perder seu melhor amigo. E além disso, você já se perguntou se quero viver na bandidagem? - Continuou. Eu estava ainda mais assustada. Por que ele decidiu trazer a tona tudo isso novamente? E por que tanto despreza meu modo de sobreviver?

- Pensei que não ligasse pra isso. - Choramingo.

- É, é, é. Você pensou. Você sempre pensa. Nunca pergunta o que eu acho de verdade. O que eu sinto de verdade.

- Kilorn, eu já perdi três irmãos para a guerra, e quase meu pai. Não vou te perder. - Junto coragem. - Não vou.

- Mare, a guerra pode até ser boa para mim. Posso aprender coisas novas. Garanto voltar inteiro. - Ele tenta uma recuperação suave. Mas não adiantara, o que está feito, está feito.

- Se você voltar inteiro, quer dizer. - Digo. Envergonhada por gorar a vida de meu amigo. Estou tremendo de raiva e tristeza. Como ele pôde? Eu apenas tentava ajudar-lhe. - Você está doido! Não pensa com clareza. A guerra não é uma brincadeira. Não é algo para zombar. É coisa séria. Você sempre levou na brincadeira as Primeiras Sextas, mas saiba que é apenas um aviso. Um aviso de que nós vermelhos somos nada, e os prateados tudo. Você sabe que a guerra não é diferente. Pelo contrário, é muito pior. Você é vermelho, e sempre será! Nesta guerra, você está em desvantagem. Nós estamos em desvantagem. A perda é mútua.

- Como você é egoísta. Mare, por mais que tente esconder, eu sempre sei. Te conheço desde sempre. Você não quer me perder. Simplesmente isso. Não liga para mim, para minha vida, para o que eu acho. Só não quer me perder. E se eu quiser ir? Não tenho mais nada aqui. Só você. E agora, nem tenho tanta certeza disso.

- O que quer dizer? - Pergunto. Mas ele não responde. - Kilorn, qual é a razão de tudo isso? Sei que não é somente a guerra. É outra coisa.

- Você Mare. Sempre você. Nunca se ligou não? Somos amigos a tanto tempo. E você nem reparou. Acho que não repara em mim, só em nossa amizade. - Vocifera. A última ele fez questão de pronunciar com nojo.

Príncipe EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora