Capítulo XXIV - Mare

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Boquiaberta. Assim fiquei.

- Prima? - Perguntei à Gisa.

- Você não teve a oportunidade de conhecê-la. - Sibila. - Temos um tio que morava na Cidade Nova. Ele e suas duas filhas. A mais velha, Amy, sempre foi invocada com sua situação. Não gostava de ser operária. Então, deu um jeito clandestino de vir para Palafitas. Alguma Guarda. Trouxe a família consigo, mas se tornaram procurados. Então andavam nas sombras, mesmo em Palafitas. Amy nos abandou numa tarde, disse que tinha algo para fazer.

- Mas... Ela só tem quinze anos. - Digo. Ela zomba.

- Mare, Mare... Ela tem dezenove. Mas parece uma criança e age como uma. Nunca disse o que iria fazer de fato. Agora ela está... Morta. - Diz, com a última abafada. Algumas lágrimas caem de seus olhos. - Tio Lewis vai ficar arrasado... - Lamenta. Estranhamente, ela não demonstra muita tristeza. Parece até que já sabia que isso iria acontecer.

- Gisa, você... Sabia disso? - Pergunto.

- Consultei uma vidente, só isso. - Tenta. Mas suas bochechas rosam rápido.

- Gisa... - Murmuro. Estamos tratando a morte de uma parente com tanta frieza. Acho que não temos mais coração.

- Eu já disse, Mareena. - Gisa diz, e sai antes que eu possa contestar. Franzo a testa. Ela não costuma agir assim. Acho que muita coisa mudou desde que eu saí de casa.

*****

Sendo uma dama da corte, pensei que seria poupada de qualquer tipo de desconfiança, mas não. Maven tentou, e não conseguiu. Serei interrogada mesmo assim, e se divulgar a informação de que ela é minha parente, não irá facilitar. Mas não posso. Não posso dizer que sou parente de vermelhos. Me esqueço desse detalhe. Apesar do meu sangue, que está mudando, assim como a aurora.

Ainda não contei a Julian sobre ele. Não que eu não tivesse a oportunidade. É porque tenho medo. Medo do que pode significar. Medo de me prender ainda mais ao mundo prateado. Mais do que já estou. Maven é meu laço mais forte com esse mundo. E não vou perdê-lo.

- Mare! - Evangeline diz, ao tocar meu braço. Está toda entusiasmada, dando pulinhos. Fico surpresa com sua alegria repentina, em pleno funeral.

- O que houve? - Pergunto, rindo dela.

- Venha. - Diz, me puxando. Vamos às risadas. Ela me leva para o pátio mais próximo, e sentamos. - Sabe, Cal e eu estamos noivos porque somos obrigados, apenas formalidades. Mas, eu queria que essa nova vida não fosse tão entediante. Tentei agir como noiva, mas ele sempre me dispensava com um gesto. Me ignorando. Eu já havia me acostumado. Então, hoje, quando eu passei a ignorá-lo, ele quis investir. Me chamou para bebermos em um bar que ele gosta. No início, pensei que queria apenas brincar comigo. Mas não. Ele falou sério. E agora, eu acho que... Deixa para lá.

- Não, agora você irá dizer. - Sibilo. - Vai.

- Eu... Sei lá. Não sei se estou pronta. - Diz. Mas percebendo minha expressão de dó, ou apenas surpresa por sua delicadeza, cospe as palavras. - Pronta para ele, só para você saber.

- Ah, sim. - Tento suavizar.

- Tem... Outra pessoa... - Conta. Eu apenas ergo as sobrancelhas. - Elane.

Quase caio do banco, devido a surpresa.

- Elane? Elane Haven? Da casa Haven? - Questiono.

Príncipe EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora