Mare não é tão ruim quanto pensei. Na verdade, nada é tão ruim quanto imaginava.
Meu pai, sempre ele. Me prendeu com sua coleira chamada paternidade. Devido ao seu poder sobre mim, nunca pude agir contra. Sempre fui obrigada a fazer o que ele quis. Minha vida já vinha com roteiro, escrito por ele. Agora que sou princesa, e serei rainha, dei a volta por cima. Ele não irá me controlar. Não mais.
Finalmente me encontrei. Me sinto feliz em nosso grupo de amigos. A junção foi forçada, mas recebida de bom grado. Poderia ser pior. Cal nunca me deu chances. Sempre desprezou qualquer garota que quisesse disputar por sua mão. Mas agora que me conhece, não me ignora como antes. Ainda estamos encarando a porta. Maven está encarando a porta. Eu estou revirando os olhos, tediosos. Garoto curioso! Instantes depois entendo o porquê dele estar tão ansioso por uma espreitadela. Quer saber se vão lhe citar. O que a família de Mare acha dele. Preocupado com o quê irão achar dele. Sorrio, irônica.
- O que foi? - Questiona.
- Você aí. Preocupado com o quê pensam de você. Parece até um romance adolescente. - Ironizo. Ele apenas revira os olhos, indignado. - Olha quem chegou. - Digo, vendo Cal se aproximar. Estou sorrindo, mas a medida que ele se aproxima, a preocupação assume minha expressão. Maven, que virou para observar, também muda seu rosto. - O que houve?
Ele se aproxima, com os olhos céticos correndo o perímetro. Procurando algo, ou alguém. Eu o analiso, esperando uma resposta.
- Eu... eu vi algo. Alguém. - Gagueja. Arqueio uma sombrancelha, esperando palavras consistentes. - Mais tarde conto. Mare já terminou?
- Sim, alteza. - Diz, descendo as escadas da casa. A família saí pela porta e se agrupa na varanda. A mãe enxuga algumas lágrimas solitárias nas bochechas. E todos encaram Mare com um olhar melancólico. - Vamos? - Pergunta. Demoro a perceber que ela se dirige a mim.
- Claro. Foi um prazer conhecê-los, Barrows. - Aceno, e saio em direção às motos. Cal fez um ótimo trabalho com elas, mesmo que aparentam querer me matar, penso. Subo, depois de Cal. Enlaço meus braços em sua cintura, com medo. E por milagre, ele me deixa escorar a cabeça em suas costas. Ou nem nota. Maven já aguarda enquanto Mare se despede. Logo, vem e se aninha em Maven. Sorrio, maravilhada pelo carinho do príncipe do fogo. Ela é seu ponto fraco. Em outra vida, a outra Evangeline reviraria os olhos, enojada. Mas hoje não. Não desdenho, pois é isso que quero. Esse é meu plano para mim. E Cal.
Nem reparo quando as motos fazem a rua comer poeira. E logo já estamos na estrada novamente. Mare observa seu vilarejo se distanciar, melancólica. As motos estão próximas o suficiente conversarmos.
- Eles vão ficar bem. - Conforto-a. Ela apenas assente, e se reajusta no banco. E continuamos assim, cobertos pelo manto de silêncio. Solenes. Apenas o motor baixo ressoando, e o rio ao longe. Devido a velocidade, chegamos ao casarão Welle ao pôr do sol. Lá, Cal vai procurar o pai, e me promete respostas. Eu apenas assinto, e acompanho Mare para jantarmos.
*****
Ando pelo corredor, observando a lua. Penso em tudo ao meu redor, e ouço vozes ao longe. Me aproximo para ouvir, curiosa. Uma silhueta forte entra pela porta do que deve ser um escritório. Cal. Me estico para ouvir melhor.
- Pai, precisamos conversar. - Ouço a voz de Cal, abafada suficiente para apenas eu reconhecer.
- Filho, estou ocupado. Quem sabe depois?
- Não. Precisa ser agora. Você já não quis conversar antes.
Ouço o rei bufar, sem saídas.
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Príncipe Esquecido
FanfictionMaven Calore, o príncipe que Norta esqueceu, tem que lidar com segredos perigosos que lhe confiam, para impedir que descubram e destruam o mundo com ele. Algo inimaginável está sobre suas mãos, assim como o futuro de seu reino. Dentre tantas mentira...