ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

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Henry acorda com sua habitual sonolência. Desorientado derruba o despertador no chão causando um estrondoso barulho.

Levanta rapidamente para acalmar Jully, mas nota que ela não está a seu lado. Ouve um barulho característico de quem está passando mal.

Corre até o banheiro e encontra Jully encostada ao sanitário, com o rosto suado e pálido. Está assustada. Henry se aproxima, mas ela o afasta com a mão, constrangida.

Henry resolve esperá-la do lado de fora enquanto ferve água para um chá.
Quando jully sai do banheiro sua expressão está mais recomposta. Henry vai a seu encontro e a ajuda a sentar-se.

- Desculpa. Não percebi você saindo da cama.

- Tudo bem. Já faz mais ou menos três dias que estou assim, estranha. Nada me cai bem. Não sei se foi uma boa comer naquele restaurante italiano.

- Era seu aniversário. Queria agradá-la. Me desculpe.

Jully percebe a ironia e não se redime.

- Está desculpado. Vou ao médico depois te ligo.

Henry se retira rapidamente enquanto ajeita a gravata. Sabia que aquela discussão iria acabar em briga séria.

Durante o trajeto pensou em como poderia estar naquela situação em tão pouco tempo. Tenta se concentrar na preocupação com sua esposa, mas algo o atordoa e está prestes a encarar um inevitável confronto.

Entrou em seu escritório afoito. Fecha a porta e faz uma ligação. Em menos de dois minutos alguém adentra sua sala.
Uma moça ruiva vestida com um terno preto e uma saia executiva encara Henry com certa lascívia. Se aproxima vagarosamente de uma forma provocante.

Senta-se a frente de Henry e cruza as pernas graciosamente. Henry a encara, malicioso.

- Então Sr. Lester pensou em nossa conversa? - Sua pergunta é acompanhada de um enroscar de pernas por debaixo da mesa. Henry volta a sorrir, dessa vez com todos os dentes.

- Pensei Mônica. Pensei em tudo que envolva eu e você e acho que podemos...

- Sim...

- Nem começarmos.

Mônica escorrega da cadeira encontrando o chão. Henry corre para acudi-la, mas a mesma raivosa o empurra.

- Nunca fui rejeitada. - Diz enquanto se refaz da queda.

- Então já tentou esse golpe?

- Está me insultando. Você disse que não está bem com sua mulher...

- Não tenho mulher - interrompe um pouco exaltado - Tenho esposa, e cometi um grave erro em me abrir para você. Pensei que alguém que não estivesse no meu ciclo familiar me desse uma luz, mas no fundo você tinha outros interesses.

- Pare de fingir que não quis sair comigo.

Henry volta a se acomodar em sua cadeira, mais calmo.

- Até sonhei com você, mas não é isso que eu procuro. Quero uma esposa... Aliás, eu tenho. Não se descarta uma pessoa porque está enfrentando problemas. Não é uma máquina. É o amor da minha vida. Eu a escolhi. Você não queria me ajudar...

Mônica se controla para não mostrar que sentira as palavras de Henry, palavras nunca endereçadas a ela.

- Você merece isso que tem. Alguém que nem liga pra você. A partir de hoje vou ser secretária do Sr. Ford.

- Já ia lhe propor isso.

- Você é um imbecil.

Bate a porta com tanta força que a pouco só resta a mesma no local. Henry se volta para o céu, límpido, sereno, tão claro quantos os olhos de Julliene. Recorda-se que iria ao médico e liga para ela, apressado.

Julliene não atende o que o deixa nervoso. Durante a tarde tenta ligar para a esposa, mas não obtém sucesso. Inquieto volta para a casa.

Ao chegar se surpreende com o que vira. Juliene está sentada no sofá com dois balões um vermelho e o outro azul. Um suor escorre pela testa do pobre homem a sua frente. Pensa que Jully só pode estar variando.

- Um dia eu fui ao parque e vi dois balões, os últimos nas mãos do vendedor, um de cada lado. Vermelho e azul...

- Jully vamos descansar...

- Meu pai não pôde comprar, era caro. Lembro- me de ter chorado muito escondida, eu queria tanto...

Julliene começa a chorar. Henry se aproxima, mas ela faz um movimento com as mãos a sua frente e os balões impedem que seu marido se aproxime.

- Nós vamos superar tudo isso.

- Eu entendi que há coisas que não podemos insistir. Não era culpa do meu pai. Ele estava mais preocupado em nos alimentar...

Henry está desorientado, espera que Julliene termine logo seu discurso e o deixe correr livre para o nada.

- Nem sempre podemos ter o que queremos. Eu não tive aquele balão, e agora...

- Nós podemos adotar...

Julliene faz uma pausa, para Henry, infinita.

- Henry... Nosso filho ou filha poderá ter um balão.

Henry se afasta de Julliane enquanto seus olhos marejados se movem freneticamente, confusos.

- Você... Você...

- Hoje meu pai pode me dar um balão, mas eu decidi que prefiro um bebê.

Dito isso Jully não contém a risada. Ri tanto que por um momento Henry pensou que a notícia fosse falsa e a jovem estivesse louca, mas Jully estende a mão com um ultrassom onde Henry constata que é felicidade apenas.

Apesar de sua alegria, Jully parece preocupada, sua expressão muda a todos os instantes. Talvez ainda esteja confusa com a questão de ter ouvido que não poderia engravidar, mas isso ocorre muito com as mulheres, poderia ter ocorrido um erro.

Henry olha mais algumas vezes o ultrassom para se certificar que realmente era o ultrassom de jully dada as circunstânciais, mas quanto mais olhava mais se emocionava.

Abraça Julliene como na primeira vez que se encontraram oficialmente como namorados, quando Henry passou no vestibular e quando se casaram. Henry agora tinha um filho e sua esposa de volta.

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