2000 - 2015

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Há aproximadamente cinco anos o casal Lester vendeu a confortável casa que os pais de Henry ajudaram a construir em um terreno de propriedade do avô do rapaz para morarem em um modesto apartamento próximo ao escritório do agora respeitável engenheiro Dr. Lester, dono de não apenas um escritório, mas uma grande e honorável empresa.

Julliene decidiu mudar-se para um local sem muita visibilidade por um motivo bem particular e Henry apesar de contrariado compreendeu suas razões e fez as coisas como sempre costuma fazer: pressionado por um filme de um futuro nada próspero e rancoroso que sempre lhe passa pela cabeça quando tenta, em vão, discordar da esposa.

A jovem Julliene agora tem uma expressão madura de uma mulher de trinta e oito anos e seu esposo uma leve calvície nas laterais da cabeça assemelhando-se às entradas de estadio de futebol. Essa é a piada que ouve constantemente de seus familiares e amigos íntimos.

Como de costume, Henry entra nas pontas dos pés pela cozinha e encontra Jully lavando algumas louças o que ocorre com frequência pontual.
Aproxima-se de Jully e a abraça pela cintura. Jully retira suas mãos, incomodada.

- Chegou cedo.

- Deixei tudo nas mãos do estagiário. Sabe, sinto segurança no Fabrício , muito mais que no Pedro, não sei... -Nota que Jully não está interessada em sua conversa. - Algum problema?

- Tirando o de sempre?

Henry senta na poltrona da sala que é contígua a cozinha.

- A kim?

- Como adivinhou?

- O que foi dessa vez?

- Não consigo Henry... Eu tento, mas somos muito diferentes. A kim está sempre me irritando, não obedece, não me olha, parece estar em outro mundo. Eu não aguento mais isso.

Passa por Henry e começa a organizar de forma frenética os objetos da estante.

- Onde está?

- No quarto fazendo aquela besteira de sempre...

Mal Jully termina a frase e escutam o som forte de coisas caindo no cômodo ao lado. Henry sorri sem jeito, pois sabe que a esposa está nervosa. Vai até o quarto e procura pela filha.

Encontra dois grandes pares de olhos escondidos atrás da cama coberta por uma colcha digna de princesa com laços de um rosa leve e pálido.

- Tem uma boneca perdida nesse quarto?

Ouve risadas altas, semelhantes a de um bebê. Se aproxima de Kim fingindo não vê-la.

- Onde será que está meu anjinho?

A risada de Kim enche o quarto de alegria. Ergue seu rosto por detrás da cama e balbucia algo incompreensível. Henry beija sua testa e passa uma das mãos em seu delicado rosto.

- Você sabe que eu te amo?

Kim passa por Henry se senta no chão de tacos de madeira e começa a empilhar blocos do mesmo material em forma de pirâmide. Após colocar a última peça deixa todas caírem e ri com gosto.

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