A GENTE SE ILUDE DIZENDO JÁ NÃO HÁ MAIS CORAÇÃO...

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Henry insiste em ficar com Jully, mas ela está irredutível. Conformado, passa pelo apartamento de Emma para pedir proteção à esposa ao passo que se notar qualquer problema o informe.

Emma concorda e lá pela metade do dia visita Jully. Dessa vez a moça não se faz de rogada. Precisa conversar com alguém e pelos últimos acontecimentos percebe que Emma pode lhe ajudar.

- Fico feliz em poder ser útil, mesmo que para uma conversa, ou companhia. Pelo que entendi não se sente confortável com a visita.

- Não é alguém que gostaria de ver agora.

- Deixe a menina comigo então.

-Por quê?

- Confie em mim Jully. Não é bom que Kim esteja aqui quando chegarem.
Apesar de não compreender o motivo, concorda com a senhora que notando a confusão excessiva na mente de Jully e um possível confabular assertivo, disfarça.

- Assim que se sentir excessivamente desconfortável eu chamo você para ver Kim. Digo que fez algo diferente.

- Henry vai querer ver.

- Sim. Verdade.

- Então digo que é coisa de mulheres. Me entende?

- Ah claro. Mas Henry ficaria assustado nossa filha nunca teve disso.

- Mas ele não poderá ver.

- E depois?

- Eu digo que me enganei.

Jully sorri, mais tranquila. Segura as mãos de Emma, firme.

- Acho que ganhei uma amiga.

Emma sorri convencida.

- Não me ganhe com elogios.

Ambas riem com gosto. Jully prepara um café enquanto Emma liga a TV para que a nova amiga se distraia.

Começam a conversar sobre os programas que assistem. Jully nota que Emma olha para Kim de uma forma muito especial.

- Você gosta muito da minha filha. E eu acho que ela também gosta muito de você. Queria que ela também gostasse de mim.

- Mas ela gosta Jully, mais do que você imagina.

Ela encara a filha de uma forma muito diferente. Um meio sorriso que acaba se estendendo até seus olhos confere uma amorosidade que brota timidamente.

Emma percebe e a convida a sentar-se próximo a filha.

- Não levo jeito com ela.

- Tudo tem uma primeira vez.

- Emma... Você entende de crianças especiais?

- Todas as crianças são especiais...
- Você me entendeu.

- Sim. Aprendi a compreendê-la.
Jully a encara com um ponto de interrogação em sua expressão. Emma disfarça.

- Compreendê-las... Todas. Porque me faz essa pergunta?

- Não entendo porque a Kim repete esse gesto de derrubar blocos e depois reerguê-los. E essa alegria? Um médico disse que minha filha poderia ser autista... Será? Ela não olha pra ninguém,  fica repetindo os mesmos gestos, se isola. Acho que deve ser isso mesmo.

- Acredito que não.

- Mas olha bem pra ela...

Mal Jully termina de falar e Kim encara Emma com um sorriso. Jully se assusta.

- Ela não olha pra ninguém.

- Ela olhou pro Henry.

- Como? Quando? Porquê? Ele nunca me disse.

- Calma Jully. Tudo tem o seu tempo. Isso também ocorrerá com você.

- Quando?

- A resposta está em você mesma. Quanto aos blocos pense em sua própria vida, no seu medo do novo, do que você não pode controlar. Você  possuia coragem em encarar as pessoas e as adversidades, mas tudo isso veio ao chão. A vida é como esses blocos: você cai, em algum momento da sua vida, isso é  um fato, mas reerguer-se, bem, é opção, mas se você resolve se levantar novamente, vem a satisfação e a alegria.

Jully achou aquilo medonho e enigmático. Emma sabia muito sobre ela, traços marcantes de sua personalidade. Senta-se próximo a filha mais para fugir da situação.

Quando Henry chega mal pode crer no que vê: Jully, Emma e Kim sentadas no chão brincando com os blocos. Não diz nada. Apenas deixa a pasta sobre o sofá e senta-se junto as mulheres, e agora Dona Emma inclusa, da sua vida.

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