TEM DIAS QUE A GENTE SE SENTE, UM POUCO TALVEZ MENOS GENTE...

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Jully não dormira bem à noite. A cada momento que o rosto de Steve surgia em sua mente dizendo as palavras contidas na carta sentia calafrios ao mesmo passo que suava.

Henry notou a inquietação da esposa, mas imaginou ser apenas aversão à visitas.

Emma lhe pedira para ficar com Kim, mesmo a contragosto aceitara, pois dramática,  Emma lhe disse que não passara bem durante a semana e queria muito a companhia da menina para se sentir melhor.

Henry se recorda da história de sua filha que morrera, não queria ser indelicado.

Antes de sair para o trabalho beija a esposa e a lembra do jantar com o amigo e família. Jully se contêm para que sua resposta soe o mais natural possível.

Durante o dia passa um pouco enjoada, mas consegue organizar o ambiente. Vai ao mercado com kim e dessa vez não a limita com broncas. Pede ao vigilante que deixe a menina passear pelo ambiente comendo umas bolachas que pagaria após a compra. Ao notar a natureza de Kim permite sem ressalvas.

Jully pensa porque não agiu assim antes. Porque não se preocupou com o bem estar da filha ao invés de reprimi-la?

O olhar das pessoa sobre Kim, admirada com os produtos, comendo seus biscoitos, afoita com as novidades, não constrange Jully. 

Por vezes encara as pessoas e dessa vez elas que se constrangem com seu comportamento inapropriado, sim, pois o inapropriado não é ser, mas sim a repressão ao que o outro representa.

Em determinado momento se dirige a dois adolescentes que riam e apontavam para Kim que admirada tentava pegar os peixes, que serelepes, balançavam as barbatanas, indiferentes a que se passa ao redor. Jully se aproxima dos meninos e questiona o que é tão engraçado.

Eles respondem de forma grosseira o que Jully não deixa por menos. Ao explicar o comportamento da filha diz que é involuntário ao passo que o comportamento desagradável e sem proveito algum é escolha deles.

Um dos jovens nota o erro e puxa o mais marrento. Jully percebe que o problema nunca foi sua filha, mas sim pessoas sem limite na falta de empatia, inclusive ela mesma.

Se aproxima de Kim que tenta dançar como os peixes e a abraça forte.

- Eu te amo minha querida. Me desculpa por ser tão egoísta.

Ao se afastar seus olhos se encontram ao de Kim que agora a encara. Jully não crê no momento e de forma inesperada chora compulsivamente.

- Você me olhou. Você me viu.

Senta a filha no chão e a abraça forte. Algumas pessoas que acompanham a cena, mesmo sem compreender também se emocionam.

Algumas riem, porque assim são as coisas. Nem todos nascem com a capacidade de sentir pelo outro, de compartilhar sorrisos, tristezas, angústias.

Por vezes alguns fazem bem o papel de se importarem, mas no fundo apenas se preocupam com o que ocorre em seu próprio universo, que criam na inocência do não pertencimento, então fingem para no auge do egoísmo ser aplaudidos por esse fato também.

Nesse momento nada importa, Jully consegue o que para ela parecia algo improvável, impossível. Nada importa nesse momento.

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