VOCÊ AINDA PODE SONHAR...

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Há aproximadamente quatro dias o elevador está passando por inspeção ao passo que três inquilinos do prédio permaneceram mais de dez horas presos.

Quase fora Henry o quarto, mas nesse dia resolvera descer as escadas para se exercitar. Um desses raros momentos que uma pequena matéria lida em um instante de folga faz a pessoa refletir sobre saúde e a primeira coisa que elimina é o uso do elevador, pois dieta não passa nem de longe pelo pensamento.

Henry, um pouco exausto, e dessa vez não por vontade própria, chega ao terceiro andar. Ao iniciar a subida de seu andar nota Dexter sentado, encostado ao canto da escada.
Henry senta-se a seu lado. O rapaz ergue o rosto. Seus olhos estão inchados e vermelhos.

- Há alguns dias ela tava de repouso porque começou um sangramento, mas...

Não pôde prosseguir, iniciou um choro compulsivo. Henry o abraça.

- Onde ela está?

O rapaz respira algumas vezes tentando se recompor.

- No hospital. Tá melhor. Ontem pensei que também iria perder a minha mulher.

- Calma. Podem tentar novamente.
Dexter olha para Henry, sério.

- Não é porque nosso filho não nasceu que ele não existe. Ontem perdi um filho. Não é fácil tentar de novo, como chances que a gente vai descartando.

- Me desculpe, por favor. Sinto muito por vocês. Apenas queria ser solidário e fui um tremendo bocó.

- Sabe, me desculpa, fiquei nervoso com o que a médica disse.

- E o que foi?

Dexter leva as mãos à cabeça e a encaixa nos joelhos.

Henry o traz para perto de si novamente e o abraça com mais força, complacente. O rapaz encosta a cabeça em seu ombro, contristado.

- Clair não poderá ter mais filhos. Segundo a médica é perigoso.

- Não pensa nisso. Jully minha esposa também não podia e olha nossa filha.
Dexter sorri enquanto volta seu rosto para Henry.

- Não conheço sua filha. É um bebê?
Henry ri com a pergunta, Dexter o encara confuso.

- Kim é uma criança grande. Tem 16 anos, mas sim, parece um bebê.

- Pros pais os filhos nunca crescem.
- Não, você não compreendeu...

São interrompidos pelos dois garotos que sempre visitam Emma  descendo as escadas.

- Boa tarde seu Henry. Oi Dexter! A dona Emma pediu pra você passar no apartamento dela, quer falar com você.

- Obrigada.

- Acho que quer ajudá-los. - Deduz, Henry.

- Vou subir. - Conclui Dexter enquanto ergue.

Henry também se levanta. Os meninos continuam a descer as escadarias enquanto Henry e Dexter prosseguem a subida ao quarto andar.

Emma está à espera de Dexter em frente à sua porta. Abraça o rapaz que se deixa romper em prantos. Henry observa a cena, sem jeito. Emma pede ao rapaz que entre para conversarem. Antes de entrar também se volta para Henry.

- Sinto muito por sua mãe Sr. Lester.

- Obrigada, mas nesse momento há alguém que precisa mais de consolo.

- Todos sofremos e todos precisamos ser consolados, se precisar conversar estarei sempre aqui.

Henry sorri, complacente.

- Boa tarde, com licença.

Toca a campainha e desta vez para sua surpresa quem atende é Kim. Está com um vestido que se parece muito com um o qual comemorou seus dois anos. Um laço na cabeça circundado seus lindos cachos de anjo.

Henry não pôde conter as lágrimas, mesmo se esforçando para não derramá-las. Jully aparece na porta do quarto com um sorriso maroto.

- A garotinha do papai, vestida como a garotinha do papai.

Henry corre abraçar a esposa.

- Isso merece um jantar não acham?
Kim se distrai com os laços do vestido.

- Não sei Henry. Amanheci estranha. Um pouco zonza, enjoada. Muitas coisas acontecendo.

Henry prefere não comentar sobre uma possível mudança de apartamento.
- Então podemos pedir um jantar.

- Prefiro que saiam pai e filha. Eu preciso descansar um pouco.

- Mas não me agrada te ver sozinha.

- Dessa vez eu prefiro amor.

Henry beija a esposa com paixão. Kim observa por um momento e faz uma cômica careta enquanto tenta imitar alguns gestos.

- Obrigada por arrumar a Kim desse jeito.

Traz a filha para perto de si a beija na testa antes de partirem. Jully mantém o sorriso até a saída de ambos.

Aos poucos sua expressão colorida se transforma em cinzas e mistério. Senta-se no sofá e seu olhar se torna distante.

- O que eu faço agora?

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