UM DIA UM ADEUS EU INDO EMBORA...

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Jully abre os olhos. Aos poucos  se dá conta que não está em seu quarto. Observa o teto com o pensamento leve, promissor. Passa a mão pela barriga e sorri. Ouve um balbucio, volta a sorrir com todos os dentes. Ergue-se e nota Kim vasculhando uma mala preta no chão.

- Mocinha não pode mexer no que não lhe pertence.

Se aproxima da garota que retira alguns blocos antigos de empilhar.
Jully se surpreende ao notar que Emma possui objetos tão específicos.

Olha para a porta e observa uma sombra se aproximar. Tenta guardar os blocos, mas Kim tenta tirar e os movimentos ficam engraçados ao passo que ela coloca um bloco caem dois e Kim tira três.

Emma sorri ao perceber o desespero de Jully.

- Deixa a menina. Ela gosta desses blocos...

- Sim, é que...

- Acho que os blocos a incomodaram por outro motivo. Quer saber porque eles estão aí não é mesmo?

Jully se vê sem jeito com a observação.

- Em breve Jully. Venham. Vamos tomar um bom café que preparei.

- Acordei com vontade de tomar um ar, sei lá, passear.

- Que coisa boa! Sim. Conheço um parque aqui próximo que podemos fazer um belo piquenique.

Ambas se dirigem a cozinha para embrulharem os alimentos, Kim continua brincando com seus blocos. A cada queda uma risada estrondosa.

- Que saudade dessa risada.

- Como? - questiona Jully espantada.
- É algo para conversarmos depois.
- Quanto mistério.

- A vida é um mistério. Estamos acostumados com tudo ao nosso redor por isso não nos admiramos com a maravilha que é estar vivo. Me diga Jully, o que é a vida pra você?

- Algo que deveria vir com um manual de instruções.

Emma ri alto, jully compartilha do riso e logo ouvem Kim rir também.
- Parece que hoje estamos em sintonia.
- Sim. Estamos claramente no mesmo time.

Jully deixa Emma produzir Kim para o passeio, gosta de como trata a filha. Desde que percebeu seu valor quer que todos a tratem como ela merece. Emma enrola seus cachos um a um.

- Sinto que chegou a hora minha pequena. A vida é um ciclo ininterrupto onde os mais fortes sobrevivem. Sobrevivi uma vez, agora estou mais tranquila.

Separa uma fita branca mas logo a deixa na cama.

- Não. Ao natural, é melhor.
Jully aparece a porta e nota que os cabelos de Kim estão moldados de uma forma que só pessoas experientes conseguiriam produzir.

Kim está com um vestido branco simples que usou apenas uma vez para um casamento. Não há mangas, apenas um leve bordado. Ele marca o busto e aos poucos se abre.

Há bordado ao final do comprimento também e fios prateados por toda sua extensão. Jully sorri. Abraça a filha com vontade e a beija na testa.

A olha no fundo dos olhos, mas Kim não responde da mesma forma.

- Foram anos difíceis. Eu sei que eu não fui sua melhor amiga. Eu nem tentei te entender, só pensei em mim, mas ao mesmo tempo me perdi nos meus próprios pensamentos. Tudo poderia ter sido diferente, mas agora eu não vou deixar que o egoísmo me controle novamente. Agora seremos nós quatro. Uma família como inicialmente deveria ter sido.

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