OLHOS DE ANJO

O CONFRONTO

Inexplicavelmente Jully não sente o mesmo peso que sentira pela manhã. A paz vem da naturalidade como cuidou das situações no mercado, de ações não planejadas.

Se Jully houvesse forçado a empatia com Kim não sentiria a calmaria que transborda seu íntimo. É como aquela lição que o Professor se esforça em ensinar, mas um dia, sem hora marcada, é compreendida.

A presença de Steve não a abala, não mais, pois suas palavras não mais lhe pertencem. Está livre, está plena. Sim, ama sua filha, não, o outro não lhe machuca, não mais.

Admira Kim que brinca com seus blocos. Admira a cena enquanto termina de decorar o bolo de nozes.
Algo lhe passa pela mente.

"Cair é fato, mas se reerguer é opção". Abraça a filha com uma alegria que não sentia há anos.

Quase não permite que Emma a leve, agora queria que todos presenciassem seu amor pela filha, mas Emma apenas lhe diz que o motivo seria outro, mas não pode lhe contar no momento o que basta para cumprir o prometido, mesmo um pouco impressionada com o que ouvira.

A campainha soa e Jully já trajada com um vestido largo e longo na cor amora mesclado com leves tonalidades de branco formando rosas e cabelos encaracolados de forma não natural, com um baby liss, respira fundo, para então atender seus visitantes.

O primeiro que avista é Henry que a beija na testa. Logo Steve, Mônica, sua esposa e por fim sua pequena filha, Katerine.

É uma princesa de olhos puxados, sorriso contagiante, uma expressão envolta de afeto, amor e paz. Jully não espera que entrem.

Pega a garota e lhe dá um forte abraço. Steve se surpreende, pois o que espera encontrar é uma mulher raivosa com sua armação.

Mônica a beija no rosto, entusiasmada com seu carinho para com sua filha. Jully corre buscar alguns brinquedos de Kim e senta com a menina no chão e brincam, entusiasmadas.

- Sua esposa é um anjo! - Comenta Mônica.

- É? - questiona Henry com uma expressão de dúvida cômica.

- É? - questiona Steve com a mesmíssima expressão.

- Sou. - responde Jully, confiante, enquanto encara primeiro Steve e depois Henry.

Todos se sentam à mesa. Jully faz questão de alimentar Katerine. Henry aprecia a cena.

- E sua filha Henry? - questiona Mônica.
- Sim. E sua filha Henry? - repete Steve, irônico.

- Está com Emma. Falei dela pra vocês. Está doente e quis ficar com ela.

- Que pena. Queria conhecê-la. - Comenta Steve com um olhar provocativo para Jully.

- Não faltará oportunidade Steve. Vocês serão visita constante em nossa casa. - Responde Jully no mesmo tom.

- Creio que não. Nos mudaremos definitivamente para Londres. Consegui me naturalizar no País. É Henry. Cresci na vida!

Henry sorri, compreendendo a indireta.

- Crescemos. Não vou para a Europa, mas iremos para o Mato Grosso onde abrirei outra filial, visto que aqui já possuo meu gerente de confiança. Vão precisar de uma construtora de sucesso.