O AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER...

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Jully acorda mais indisposta que o dia anterior. Tenta ignorar as fortes náuseas e vertigem, mais por medo do que o incômodo das sensações. Nota que Henry não está em casa.

Olha para a cama de Kim e nota sua ausência. Sai rapidamente da cama. Visita os cômodos estreitos do apartamento e não a encontra.

Jully pensa em ligar para Henry, mas e se a filha não estiver com ele? O assustaria e no mais, Henry a avisaria caso a tivesse levado com ele para o trabalho.

Coloca desconfiada, a cabeça para fora do apartamento, está tudo tranquilo. Quando pensa em descer as escadas ouve um barulho peculiar de blocos caindo.

Confusa se concentra a fim de ouvir o barulho pela segunda vez, mas sede ao ímpeto de voltar para o quarto:
Nada da filha.

Volta a sair do apartamento e agora percebe que o barulho vem do apartamento ao lado, de Emma.
Sem jeito e ensaiando a abordagem, bate três vezes na porta se esquecendo completamente da campainha.

Emma aparece e abre um largo sorriso ao ver Jully que não retribui com a mesma empolgação. Está sem jeito ao mesmo passo que impaciente.

- Me desculpe, não quis te alarmar. - diz Emma com um sorriso mais contido - Entre, a menina está aqui.

- Como foi parar aí? - questiona levemente irritada.

- Estava no corredor. Acho que abriu a porta sozinha.

Jully olha para a filha agora totalmente irritada.

- Obrigada por recolher minha filha. Vamos Kim...

- Calma Jully.

- Julliene... Por favor.

Emma nota que Jully está extremamente incomodada com Kim em sua casa e procura acalmá-la.

- Sei que não me conhece e sinto por parecer invasiva. Noto que você não está com uma boa expressão. Está há dias pálida. Não é fácil cuidar de tudo. Venha. Tome um chá e descanse um pouco.

Jully abaixa a guarda.

- Me desculpe. Estou ansiosa só isso.
- Se quiser ir ao médico eu fico com Kim. Precisa se cuidar.

- Eu prefiro voltar para casa, mas obrigada.

Nesse momento Kim deixa os blocos caírem e começa a rir alto.
Emma admira a cena, empolgada.

- Sabe. Não entendia esse gesto, mas agora ele se enquadra totalmente em minha vida. Se tudo está desabando, é um fato muito ruim, nos desequilibra, nos machuca, mas a beleza da vida consiste justamente em nos reerguemos e organizar o que parece sem solução.

Parece que a senhora à sua frente sabe de tudo, tudo o que está se passando com Jully. Seu olhar é tão invasivo que a moça chega a tremer de receio.
Emma prossegue.

- Se por um descuido Deus perder um de seus anjos aqui na terra, não tente compreendê-lo, apenas o ame.

Agora Jully entende a frase como uma indireta mais que direta que não ama sua filha suficiente e que o fato talvez incomode a senhora.

Sem nada dizer retira Kim do chão. Emma tenta conversar com Jully, mas ela abandona sua casa com pressa e fúria. Antes de fechar a porta se volta para Emma, com fogo nos olhos.

- Deixa minha família em paz. Fica cercando minha casa, me julgando. Deixa a gente em paz e fica longe da minha filha. - Dito isso bate a porta. Emma permanece estática olhando para a porta do apartamento do casal.

- O que vem pela frente não será tão mais fácil do que está passando agora, que Deus a abençoe.

Emma entra em seu apartamento e encara os blocos espalhados pelo chão. Sorri.

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