Sob meus Cuidados

A BOLADA

CAPÍTULO 16

DIANA RAMOS

As palavras apesar de plantadas em minha boca faziam total sentido pra mim. Mesmo chateada eu voltei pro meu livro e mergulhei em uma ótima leitura só pra variar um pouco a minha noite! Tyler como o esperado não voltou pra casa e não é como se tivesse sido eu a observar isso. 

Na hora do café:

— Pelo visto meu filho dormiu fora de casa! 

Vera carrega um certo tom de deboche na voz que não se passa despercebido por todos nós na mesa. Dorota me olha por cima da xícara e eu do de ombros, se ele não falou pra elas quem sou eu para abrir a minha boca? MAAAAAAAAAAAAAS, David claro que como um bom observador e uma criança inocente acaba se pronunciando.

— Tio Tyler deve estar com a namorada dele. 

O olhar de desgosto de Vera para o nada em específico me faz repensar sobre a minha decisão de descer pra tomar café, Dorota lança um olhar de repreensão para o seu filho e eu nem sei o que falar. Não podemos mentir dizendo que o que garoto fez foi errado, ele só saciou a curiosidade de ambas porquê convenhamos Dorota desde que fez amizade com Vera adora ficar à par das fofocas, até age como uma segunda mãe para o seu grande e babaca "Menino Tyler", um nojinho pra essa idolatração dela por ele. 

Termino de tomar meu café da manhã e me levanto, calada! Com um pouco de preguiça subo até o meu quarto apenas para pegar minha bolsa, sinceramente não sei por que diabos eu já não desci com ela. Hoje eu decidi dar um passeio sozinha, coisa que nunca fiz desde que tomei alta do hospital. Sem Evandro, Rebeca, Tyler, Vera, David ou Dorota, que no caso são as únicas pessoas que conheço desde que acordei, na verdade tem a Tara, mas essa eu nem sei por anda, ela sempre some do nada! Acho minha vida tão monótona e sem graça. Tenho até medo dela cotinuar assim, se bem que quando meu bebê nascer vai ser uma pessoa a mais para essa lista tão pequena e sem vida social. Será que antes de tudo isso eu tinha uma vida agitada ou era só uma louca sem amigos como agora? Tudo bem que vivem dizendo que é melhor andar sozinha do que mal acompanhada, mas fala sério, quem não gosta de conhecer várias pessoas? Olha até tem esse tipo de pessoa, uma pena que não me encaixo nessa categoria de seres humanos, na verdade... Por mim eu já teria feito amizade com o bairro inteiro, só não faço pelo horrível fato de que noventa e nove por cento das pessoas que moram nele são ricos esnobes e já tiveram o grande e terrível prazer de me olharem com cara feia por pelo menos umas dez vezes cada um. Bem triste, eu sei! 

— ESTOU SAINDO! TENHO DINHEIRO E NÃO SEI SE VOLTO PRO ALMOÇO, NÃO SE PREOCUPEM EU VOLTO VIVA E TRAGO OVOS. 

Pra que esperar respostas não é mesmo? Provavelmente elas vão me impedir recitando uma série de coisas chatas, quero dizer motivos desnecessários. Talvez nem tão desnecessários assim, para me convencer a não sair sozinha. Tudo bem que minha gravidez é meio que de risco, que minha pressão pode abaixar, que eu posso desmaiar e bater a cabeça e talvez lembrar de tudo como nos filmes, ser raptada e estuprada por um cara louco ou uma mulher mais louca ainda que goste de buceta e estuprar pessoas ou que eu possa ser vítima de racismo até mesmo terrorismo já que ultimamente né... aah chega de falar de desgraças. Eu só vou andar um pouco, cumprimentar estranhos e provavelmente falar sobre o preço absurdo das comidas enquanto espero em uma fila preferencial de idosos. Talvez conversar com uma ou duas crianças em uma pracinha e fazer uma amizade com o homem do carrinho do sorvete enquanto experimento sabores inusitados, um dia normal para uma pessoa que não se lembra de nada e que se encontra grávida de sabe-se lá quem... Enfim tudo normal! Tudo em sua mais absurda natureza de pessoas solitárias. E falando sobre mercados, ovos são mais leves do que uma garrafa ou uma caixinha de leite. Um litro é exageradamente pesado pra mim que fiquei com preguiça só de me imaginar trazendo. 

Minha rota será bem simples vou ir para alguma pracinha aqui perto, comprar sorvetes, eu mereço, está um calor dos infernos e estou salivando só de imaginar um em minhas mãos, depois vou... sei lá, visitar algumas barraquinhas de comida e andar pelas maravilhosas praias que têm por aqui. Até acho que o plano inicial está muito bem planejado, então o que rolar depois é Deus no comando. Sim, eu estou sorrindo igual idiota por causa desse pensamento. 

Crianças brincando, correndo, se machucando, se sujando, comendo, tomando bronca dos pais, comendo terra, jesus estou vendo uma até comendo mato, que nojo se o meu bebê fizer isso fico louca. Me sento embaixo da sombra de uma grande e larga árvore, além de cansada quero observar melhor esse cenário tão rico de CRIANÇAS! Se por ventura eu continuar na casa de Tyler até meu amorzinho nascer juro trazer ele pra passear aqui. Mas sabe a vida é cheia de altos e baixos e em um minuto eu estou sentada sorrindo e no outro estou sendo atingida de uma forma nada delicada por uma bola bem NO MEIO DA MINHA TESTA! A dor de cabeça que se instala de forma nada agradável dentro do meu crânio não é nem um pouco positiva. Não consigo parar de gemer de dor, sério se um galo enorme não nascer aí eu não digo mais nada, até esqueci de contar que com o impacto eu meio que acabei batendo a parte de trás da cabeça no tronco nada macio da árvore. 

Hoje às coisas resolveram NÃO ESTAR NADA FAVORÁVEIS! 

— Ei, você está bem? Deixa eu ver isso aqui. 

Com a visão um pouco turva pelas lágrimas que já rolam livres pelo meu rosto eu só vejo a sombra de um cara muito forte e aparentemente gostoso e muito cheiroso se aproximar e agachar para examinar o local atingido. 

— É não vai ter jeito, você vai ganhar um belo galo como enfeite. — Limpo meus olhos com às costas da mão a tempo de ver um sorriso encantador. 

— Como pode sorrir sabendo que eu acabei de quase perder meus sentidos? 

Tudo bem que a culpa nem deve ser dele, é que eu estou chateada, com dor de cabeça e PUTA DA VIDA POR CAUSA DE TUDO E NADA EM ESPECÍFICO. E meio que ele ganhou o direito de receber minha voz nada cortês sendo direcionada a ele como se tivesse culpa da minha má sorte e dos meus problemas. 

— Me desculpa pela bolada na cabeça, pela provável dor que você está sentindo, pelo galo gigante que vai se formar bem no meio da sua testa e por estar rindo de você enquanto chora! Eu sou o maior babaca do mundo e pretendo me redimir te comprando um sorvete e te levando pra almoçar. — Aquele maldito sorriso idiota e maravilhoso continua no mesmo lugar, dessa vez manterei a compostura, o cara me chamou pra ALMOÇAR E TOMAR SORVETE! Estou me sentindo uma vadia maluca por pensar em aceitar, isso é tão errado e chocante. Eu não deveria, o que aconteceu comigo naquela estrada foi um aviso, meu corpo está me enviando sinais tão confusos que mal sei descrever o que sinto sem ser dor. EU NEM O CONHEÇO! Estou grávida e não devo agir por impulso, sou adulta e racional, não posso pensar só em mim. 

MAS ESTAMOS FALANDO DE COMIDA.

MEU DEUS QUE DOR.

SINTO QUE VOU PERDER MEU CÉREBRO, QUE MINHA CABEÇA VAI EXPLODIR E QUE NO PROCESSO EU VOU FAZER UMA CARA HORRÍVEL! 

ELE NÃO É UM BABACA! TYLER É UM BABACA, POR QUE EU ESTOU PENSANDO NO TYLER? ELE ESTA COM A REBECA, NA CASA DELA, DEVEM ESTAR TRANSANDO NA CAMA DELA, ELE DEVE ESTAR FAZENDO AMOR COM ELA ENQUANTO EU ESTOU AQUI TENTANDO DECIDIR O QUE É MELHOR PRA MIM, NESSE MOMENTO EU ESTOU CHORANDO E GRITANDO MENTALMENTE, EU NEM POSSO DIZER QUE SEI REALMENTE O QUE ACONTECEU COMIGO, NÃO LEMBRO DE NADA E SINTO QUE TODOS NAQUELE MALDITO HOSPITAL QUANTO NA CASA DA TYLER FONTAYNE ESTÃO ME ESCONDENDO ALGO IMPORTANTÍSSIMO. EU ESTOU COM SONO E CANSADA, nossa como estou cansada. Aos poucos vou fechando meus olhos enquanto escuto algo que soa como: 

— EI, EI, NÃO DURMA, NÃOOO, EI, VOCÊ NÃO PODE DORMIR! SE VOCÊ DORMIR PODE NÃO ACORDAR MAIS, EI... Espera o que é isso? MERDA! CARALHO! PORRA, ME AJUDEM AQUI ELA BATEU A PARTE DE TRÁS DA CABEÇA, ESTÁ SANGRANDO! PORRA, FICA ACORDADA MOÇA, NÃO OUSE FECHAR ESSES OLHOS!