Bitanic

Anya!

               No dia seguinte, quando Lexa finalmente conseguiu pregar os olhos depois que passou a madrugada inteira acordada pensando nos acontecimentos da noite anterior – e em Clarke –, Anya a acordou para que fossem tomar café da manhã. De início, Fairchild relutou levantar da cama e, com o rosto afogado no travesseiro, murmurou algumas palavras incompreensíveis enquanto a outra chacoalhava o seu corpo a fim de despertá-la. Lexa só se colocou de pé após alguns minutos de muita insistência. Estava caindo de sono, mas seguiu em direção à pia ao meio das beliches para escovar os dentes. Anya sentou-se na cama da mais nova e ficou a observando.

           Felizmente, os dois homens com quem dividiam a cabine – o do cabelo mais longo e do cabelo mais curto chamados, respectivamente, Bryan e Trevor – já tinham saído do quarto fazia um bom tempo. Eles comumente acordavam cedo demais. Eram respeitosos, elas não podiam negar, mas não eram muito sociáveis e evitavam quaisquer conversas iminentes que Anya tentava puxar. Por isso, ela acabou desistindo de insistir.

– Você não dormiu muito bem, não é? – a loira quis saber, embora já soubesse a resposta. Franziu o cenho, curiosa e bastante preocupada. – Eu não te vi chegar ontem. Aconteceu alguma coisa?

– Sim, mas é uma longa história. – balbuciou as palavras enquanto escovava sem pressa os dentes. Logo, enxaguou a boca.

– E é uma história boa ou ruim?

– Depende. – disse, voltando a sua atenção à Anya depois de cuspir na pia a água que bochechava. – Para você, ser convidada para jantar na 1ª classe hoje à noite é algo bom ou ruim? – ergueu uma sobrancelha, exibindo um sorriso de canto.

– O quê?! – ela praticamente gritou ao ouvir aquilo, saltando da cama. Lexa riu, enxugando o rosto molhado num pano. – Você está brincando, certo? – presumindo ser mentira, espreitou os olhos em busca de qualquer vestígio de zombação na fisionomia neutra e sonolenta da mais nova, mas não encontrou nada. Portanto, sorriu largamente. – Lexa, o que foi que você aprontou dessa vez?

– Bem, eu só fiz algo que eu realmente precisava fazer e, no fim, o consideraram um ato heroico. Sendo assim, fui convidada a jantar na 1ª classe hoje. – explicou, resumindo toda a história, já que não sabia se contava detalhadamente ou não sobre o que de fato ocorreu, visto que Clarke não estava muito inclinada a fazer o mesmo antes para o próprio noivo. Então, limitou-se em dizer apenas o básico, mas sabia que Walsh a bombardearia de perguntas. – Agora vamos logo, porque eu preciso tomar banho.

– Tome banho depois, já estamos atrasadas e você definitivamente precisa de um bom café, porque está parecendo um zumbi.

– Eu vou encarar isso como um elogio.

– Você é quem sabe. – ela deu de ombros e puxou Lexa para fora do quarto. A morena vestiu um casaco por cima da blusa amarrotada e passou a mão pelos cabelos para ajeitar os fios rebeldes, seguindo pelo corredor com a outra. – Então, comece a me contar sobre esse seu tal ato heroico aí. Quem foi que você salvou, han?

– Ninguém.

– Você não vai mesmo me contar?

– Deixe isso para lá, Anya. Eu estou morrendo de sono e é uma longa história.

– E eu estou pronta para ouvir. – replicou, fazendo Lexa revirar os olhos. Sorriu, chacoalhando o braço da mais nova. – Vai, conta.

– Não.

– Por favor.

– Eu disse que não.

– Ok. – Walsh a soltou, bufando, porém não desistiu, é claro. Franziu levemente o cenho, pensativa, e iniciou uma linha de raciocínio. – Bom, deixe-me ver: se você não dormiu hoje é por que há um motivo aparente. E, se eu te conheço bem, você não perde o sono facilmente, o que nos leva a somente duas opções cabíveis: ou algo muito grave aconteceu ou você não conseguia parar de pensar em alguém por alguma razão. Logo, baseando-me nos fatos, a primeira opção está fora de cogitação, restando apenas a segunda. E, pelo que eu saiba, a única pessoa em quem você tem pensado sem parar desde ontem é uma loira de olhos azuis cujo nome eu ainda não sei. Portanto, a causa de você ter passado a noite em claro só pode ter sido ela, estou certa?