Bitanic

Le Coeur de La Mer

1996

— Senhora Daenerys, Anya faleceu mesmo ou vocês a encontraram depois com vida por entre os sobreviventes? — questionou Christopher, com certa melancolia na voz após ouvir toda a história.

                      Ela desviou o olhar vago do chão e direcionou a ele, esboçando um triste semblante.

— Não, meu caro. Infelizmente, Anya não conseguiu se salvar. — confessou. — 306 corpos foram resgatados pelo navio Mackay-Bennett uma semana depois do naufrágio, sendo que muitos foram devolvidos ao mar por causa do avançado estado de decomposição. A embarcação chegou a Halifax com 190 corpos, incluindo o de Anya. Lexa, Aden e eu ficamos em Nova Iorque por duas semanas a espera do resgate dos que morreram na expectativa de obter alguma notícia de Anya, já que sabíamos que ela havia falecido. Nos negamos a ir embora sem ela.

— Vocês conseguiram a encontrar? — foi a vez de Steven perguntar. — Digo, o corpo dela, vocês conseguiram encontrar o corpo ou identificá-lo?

— Por sorte, sim. O coração do sistema de identificação das vítimas eram as bolsas mortuárias que guardavam os bens encontrados junto aos corpos. Essas bolsas eram numeradas, tal como foram numerados os corpos por ordem de resgate. O número de Anya fora o 24 e foi reconhecida por Lexa por causa dos pertences encontrados com ela: o colar semelhante ao que Lexa me deu no dia do naufrágio. Este. — Clarke tirou o colar por baixo da blusa que vestia e mostrou a eles. O símbolo era como fosse uma engrenagem. — Uma pulseira de couro preta que ela sempre usava e uma tatuagem na nuca escrito "Polis". Esse terceiro fato foi relatado em uma ficha junto a algumas descrições de Anya, tal como a cor do cabelo e a idade aproximada, foi assim que pudemos identificá-la. Se não fosse por esses pequenos detalhes jamais saberíamos, porque sequer pudemos ver o corpo.

                       O ressentimento no rosto de todos era visível. Clarke respirou fundo e acomodou-se melhor na cadeira.

— Soubemos por um dos homens responsáveis pelo resgate que o corpo dela se encontrava muito distante de onde acontecera o naufrágio, o que os levou a acreditar que ela tentou nadar em direção a algum lugar, talvez em direção aos botes, mas o cansaço e o intenso frio provavelmente contribuíram para que ela não os alcançasse e acabasse morrendo, já que nenhum voltou para ajudá-la. Anya lutou pela própria vida como uma guerreira, porém o destino fora cruel, fora cruel com ela e com todos os outros, não os deixando ter a oportunidade de ver a luz do dia outra vez.

                       Clarke balançou a cabeça em negação e baixou os olhos por um segundo, como se ainda não acreditasse em tudo o que acontecera. Trazer à tona as lembranças era doloroso demais, mesmo depois de tanto tempo aquela história ainda mexia demasiadamente com ela. Nunca superaria, disso tinha absoluta certeza. Precisou tomar um tempo antes de dar continuidade.

— Lexa, Aden e eu fomos a Polis quase duas semanas após chegarmos na América embarcados no Carpathia. O corpo de Anya fora levado para lá também, Lexa não queria enterrá-la em Halifax, lugar cujo cemitério era o mais próximo de onde tudo aconteceu, praticamente todos foram enterrados por lá. Quando chegamos acompanhados de quatro oficiais e dois carros, um com o corpo de Walsh, foi uma extrema surpresa e tristeza para todos de Trikru, porque absolutamente ninguém esperava a volta delas, tampouco a volta sem uma delas viva. Foi o reencontro mais triste que eu já presenciei. Os pais de Anya culparam Lexa por muito tempo. — contou ela, cabisbaixa. — Depois de eu partir para Polis, nunca mais tive qualquer notícia de minha mãe, não sei o que aconteceu com ela depois do naufrágio nem tampouco se ela chegou a me procurar algum dia, só sei que depois de tudo eu nunca mais a vi. Quanto a Finn, ouvi dizer que ele noivara novamente, herdara sua fortuna, porém, com a crise de 1929, ele se matou dando um tiro na própria boca, porque faliu completamente. Bom... Isso foi o que disseram.