Draw me like a french girl

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                  A noite finalmente tomou o seu lugar e o céu sem luar admitia uma escura tonalidade de azul. Estava frio, muito frio, e a calmaria do oceano deixou os tripulantes da ponte de comando um pouco inseguros, porque eles sabiam que não significava coisa boa. Pela manhã e também no dia anterior, diversos alertas e avisos a respeito de flutuantes Icebergs foram enviados ao telégrafo do Titanic e previa-se que o navio passaria às 23h00 por esta zona perigosa. Portanto, o Capitão Smith deu a ordem, mais cedo, de pô-lo a todo vapor, visto que planejava deixar logo para trás esta área de risco e seguir caminho sem muitas preocupações.

             Enquanto isso, no instante em que Clarke e Lexa deixaram a proa, seguiram em direção à suíte da primeira, que naquele momento estava completamente vazia. Finn não voltaria tão cedo e Abby ainda estava com a Condessa e com a madame Lucille. Lexa deixou-se ser guiada pela outra até lá, mas não entendeu muito bem o porquê. Clarke tivera uma ideia, uma ideia bem ousada, na verdade, porém não a revelou. Imaginava que receberia um "não" como resposta pela proposta, especialmente se o fizesse de qualquer jeito, por isso quis que fosse em um local  melhor, mas não sabia como fazer. Precisava de coragem.

— Você tem certeza de que é apropriado? — questionou Lexa, um pouco incerta de sua presença ali. Caminhavam pelo extenso e luxuoso corredor da elite.

— Tenho, confie em mim.

— Eu não quero que você entre em problemas por minha causa.

— Não há problemas, eu juro, fique tranquila. — assegurou, e ofereceu-lhe um sorriso largo e convidativo. — Venha, vamos, estamos quase chegando. — entrelaçou sua mão a dela e a conduziu com mais pressa até lá. Lexa não mais contestou, embora ainda estivesse relutante.

           Sem muita demora, chegaram à entrada da suíte B54. Clarke imediatamente abriu a porta, revelando a luxuosidade do camarote, e deu passagem à Lexa adentrar primeiro; em seguida, o fez também e fechou a porta por detrás de si. Os olhos verdes observavam cada detalhe do suntuoso cômodo com certa admiração, não podia negar que era um belo lugar. Seguia quase o mesmo padrão da suíte de Molly, porém este possuía um toque um pouco mais requintado.

— Aqui é a sala de estar. — Clarke comentou, atraindo a atenção de Lexa. — Sinta-se à vontade, tudo bem? — disse, e recebeu como resposta um aceno de cabeça acompanhado de um sorriso. Ela retirou o lenço de seu pescoço e o repousou sobre o sofá. — Eu vou trocar de roupa, porque acabei sujando esta aqui com café. Volto num instante.

— Está bem.

— Não vou demorar.

           E entrou em um dos cômodos acoplados à sala, provavelmente no quarto, e desapareceu por um tempo. Então, a espera dela voltar, Lexa pôs as mãos nos bolsos dianteiros de sua calça e direcionou o seu olhar aos diversos quadros que estavam espalhados por ali. Parecia uma mini exposição de arte. Observava-os com notável deslumbre. Quem reparasse bem, perceberia que é de Lexa contemplar com encanto não só certas pessoas, mas também cada mínimo detalhe de cada coisa. Ela sempre enxergava beleza e simplicidade em tudo, até mesmo onde não existia. Seus olhos serviam como máquinas fotográficas capazes de captar a mais pura essência da vida e esta era uma das razões pela qual sempre era tão boa e poética em cada palavra, frase ou parágrafo que escrevia.

           Na época em que esteve na França com Anya, teve a oportunidade de visitar um museu que havia por lá e isto, de certa forma, estimulou ainda mais o seu amor pela arte. Era uma grande admiradora. Gostava da maneira como os pintores pintavam seus quadros, as cores que utilizavam e a leveza de cada pincelada. Tinha uma verdadeira paixão por quadros que não possuíam sentido, porque eles quase nunca recebiam uma atenção necessária da maioria que os observavam, mas aqueles com um olhar um pouco mais crítico sabiam ou pelo menos compreendiam a ideia de seu significado. Pinturas com mais de uma interpretação despertavam nela um grande deslumbre também, porque ninguém nunca estaria 100% certo ou 100% errado, qualquer um poderia chegar e tirar suas próprias conclusões apenas embasando-se no que viram e no que entenderam. Para Lexa, isso era inacreditavelmente fascinante.

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