Bitanic

The last boats

                         A dificuldade em retirar os dois últimos botes, os quais se encontravam um em cada lado do navio próximos à ponte de comando, tornou-se mais um grande atraso. Uma aglomeração de homens estava ao redor do barco localizado no lado esquerdo e Anya e Bret estavam neste meio. Havia tumulto, um tumulto um tanto pior que os outros anteriores e os comissários responsáveis pela evacuação dos passageiros precisaram tomar medidas para frear a agitação e desespero daquelas pessoas. William Murdoch ostentava uma arma na mão e ameaçava atirar em quem quer que ousasse ultrapassar a margem que ele determinou. Enquanto isso, os seis comissários presentes ali preparavam com agilidade o bote para que ele pudesse ser logo preenchido e baixado.

— NÃO HÁ TEMPO, PELO AMOR DE DEUS! NOS DEIXE ENTRAR NESTE BARCO DE UMA VEZ! — gritou um, irritado.

— Eu disse NÃO, não repetirei. Juro que atiro em quem desobedecer a minha ordem! — bradou Murdoch, pronto para apertar o gatilho, se fosse necessário.

                         Alguns gritavam em protesto, não tinham tempo para esperar, precisavam ingressar no bote salva-vidas logo, porque a água do oceano já estava praticamente invadindo aquela área. William os compreendia, de certa forma, mas precisava manter a ordem. Também estava desesperado, mesmo que procurasse não demonstrar. Conter todas aquelas pessoas estava sendo um enorme desafio, algo que estava sugando verdadeiramente a sua sanidade.

                        O empurra-empurra voltara a acontecer, tal como a indignação de todos pela tamanha demora. Anya e Bret tentavam a todo custo chegar à frente, mas não conseguiam, porque tinha gente tentando fazer o mesmo, o que tornou falha a tal tentativa. Ficaram encurralados. Sem poder sair de onde estava, Walsh começou a se arrepender de não ter ficado com Clarke e Lexa. Se tivesse ficado com elas, provavelmente já estaria dentro de um bote e a salvo. Bufou, espremendo-se ainda mais enquanto empurrava para o lado os que estavam a empurrando.

                         Em um dado momento, um petulante homem decidiu ultrapassar a margem determinada por Will, porque achou que ele estivesse blefando ao dar a ordem. Então, foi pela sorte e tentou correr em direção ao bote localizado a uns 7 metros de distância dali, contudo fora surpreendido e parado por uma bala que lhe atingiu o peito em cheio, o bastante para matá-lo na mesma hora. Por um segundo, todos ao redor ficaram em pleno silêncio. Mas foi por somente um segundo mesmo.

                         Se já estava péssimo sem nenhuma morte, com uma apenas contribuiu para piorar ainda mais a situação. O disparo repentino que ceifou a vida do ousado rapaz assustou os homens, em especial aqueles que estavam no meio do tumulto e atrás, pois não sabiam o que de fato tinha acontecido e nem o porquê. Em consequência disso, uns empurravam os que estavam na frente e, numa dessas, um homem empurrou sem querer o outro, fazendo-o inevitavelmente ultrapassar a margem determinada por Murdoch. Este, sem pensar duas vezes, deu um tiro nele também, porque achou que o homem estivesse seguindo o mesmo exemplo do outro. Tudo aconteceu rápido demais.

                         Quando Will percebeu o que fez, era tarde demais, o rapaz já estava morto também. Morreu inocentemente. Este foi o ápice. Não dava mais, Murdoch não tinha mais estruturas para lidar com nenhuma das situações. Não dava mais! Tinha perdido o controle. O erro grave que cometeu lhe rendeu uma enxurrada de julgamentos e ele ouviu cada um, extremamente desconsolado, enquanto caminhava em direção à borda do convés. Olhou para um amigo seu, que também era seu colega de trabalho, e bateu continência, como se estivesse se despedindo. E estava. O comissário franziu a testa, meio confuso, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Will apontou a arma para a própria cabeça e apertou o gatilho, caindo imediatamente sem vida no oceano. O assombro atingiu a todos. Três mortes em menos de 5 minutos.