Do lado de fora, o caos já não mais podia ser evitado, pois todos àquela hora estavam cientes do naufrágio e, certamente, procuravam salvação. O convés tornou-se pequeno diante do tanto de gente aglomerada ali. À bordo, deveria ter o equivalente a 51 barcos salva-vidas para salvar todas as pessoas sem qualquer problema, mas, infelizmente, só existiam 20 deles e a busca por um lugar tornou-se cada vez mais desesperadora. Os botes eram baixados periodicamente, pois precisavam recuperar o tempo perdido. Uns desciam suficientemente cheios; outros, bastante vazios.
Desoladas, muitas mulheres choravam ao se despedirem de seus maridos, assim como as crianças, que, mesmo inocentes demais, sabiam bem que talvez aquela fosse a última vez que veriam suas figuras paternas. O Navio dos Sonhos já não era mais dos sonhos, mas do pesadelo. O castelo da proa estava quase todo submerso e o peso excessivo na parte da frente, justamente por onde começou a inundação, estava forçando o Titanic para baixo, deixando-o um tanto inclinado.
Anya, Bret, Clarke e Lexa encontraram o caminho exato que os levaram justamente ao convés, mas a maioria dos botes já havia sido baixado. O tumulto era inevitável. Lexa subiu em uma das espreguiçadeiras a fim de enxergar além da multidão para ver se ainda havia algum barco à frente, mas não foi capaz de enxergar muita coisa. Clarke, ao olhar tudo em volta, avistou o coronel acompanhado da esposa a alguns metros e seguiu apressada em direção a eles. Os três foram atrás dela.
— Ei, coronel, você saberia nos dizer se ainda há botes salva-vidas?
— Sim, jovem Clarke. Há dois botes mais à frente e mais três no lado direito. — disse ele, com uma tranquilidade impressionante, como se a situação recorrente fosse a coisa mais normal do mundo e tudo estivesse na mais perfeita ordem. Além disso, a esposa e ele ostentavam taças de champanhe nas mãos e bebericavam com tamanha elegância.
— Certo, obrigada. — disse ela, grata pela informação, e logo se afastou dos dois, assim como os outros.
— Pessoal, vamos nos separar. Anya e eu iremos pelo lado direto para ver se conseguimos alguma coisa e vocês seguem por aqui, certo? — sugeriu Bret. Walsh e Clarke concordaram de imediato com a ideia, salvo Fairchild, que preferiu que não.
— Não, vamos nos manter juntos, será melhor.
Mas o fato era que ela não queria seguir um caminho diferente ao de Anya, precisava mantê-la por perto, assim como mantinha Clarke. Entraram juntas no navio e deveriam sair juntas também. Ou não sair. De qualquer forma, não queria se separar, pois sequer imaginava o que o destino reservava e presumia não ser coisa boa. Por isso, queria manter as duas pessoas que mais amava próximas a si, porém Anya argumentou contra.
— Lexa, não há tempo para discutir. Se nos separarmos será melhor, pois a probabilidade de conseguirmos um lugar nos botes é maior. — disse Walsh, sensata. De fato, ela tinha razão. — Ficaremos bem, confie, todos nós nos encontraremos muito em breve. — afirmou, certa do que dizia. Tinha esperanças, pois era a única coisa que lhe restava. — Apressem-se vocês duas antes que os botes partam. Não há tempo! Vamos, Bret.
Todavia, antes que eles seguissem adiante, Lexa imediatamente a impediu. Segurou o braço de Walsh e a puxou para um abraço, um abraço forte e apertado, carregado de uma saudade que ainda nem tinham sido capazes de sentir. Algo dentro de si lhe dizia que aquele abraço era uma despedida, pois talvez nunca mais voltaria a vê-la depois dali. Este pensamento a destruiu, mas torcia para que fosse somente coisa de sua cabeça. Segurou-se para não chorar, mas chorou e a mais velha acabou chorando junto.
— Eu amo você, Anya. Jamais se esqueça disso.
— Eu também amo você, garota, amo muito. Não chore, por favor, eu prometo que nos encontraremos novamente.

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Bitanic
RomanceNum jogo de mesa, Lexa Fairchild e sua melhor amiga, Anya Walsh, ganham duas passagens de 3ª Classe para a primeira viagem do transatlântico Titanic. O "Navio dos Sonhos", como assim é chamado, é um luxuoso, colossal e imponente navio que parte para...