The end of the Titanic

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                             De uma hora para outra, a popa tornou-se pequena para o tanto de gente que, aos poucos, aglomerou-se ali buscando refúgio. O caminho para chegar lá era longo, dado o comprimento do navio, que media mais de 250 metros, mas a verdade era que ninguém se importava com este fato, eles só queriam alcançar de uma vez o lugar que, até aquele momento, parecia ser o mais seguro. Enquanto isso, à medida que o navio inclinava paulatinamente para a frente, o ranger das estruturas tornava-se ainda mais alto, mais estrídulo. Além disso, as luzes de toda a embarcação oscilavam a cada instante.

                           Correndo contra o tempo, Lexa entrou dentro da multidão e tentou abrir caminho para passar. Sua mão esteve o tempo todo presa a de Clarke, que segurava a de Aden. Durante o trajeto até a popa, os três precisaram pular duas vezes de um convés a outro, subir e descer as escadas que antes serviam para separar a classe mais alta de sua inferior e ainda enfrentar o tanto de gente que atrapalhava a passagem. Aden ofegava, seus passos tornaram-se mais lentos, contudo, ainda assim ele persistiu em acompanhar os passos delas, que eram apressados.

                           O deck A, lugar este que servia de casa para a suntuosa Escadaria Principal, estava completamente alagado e já contava com algumas mortes devido à inundação inicial, que causou diversos afogamentos. Entretanto, quando esta parte do navio submergiu definitivamente no Atlântico, a tamanha pressão no teto deste deck fez com que o vidro translúcido da enorme cúpula oval fosse destruída, de modo que a água passou a jorrar incontrolavelmente para dentro. Não havia mais jeito. Qualquer um que tentasse sair não conseguiria, era o fim de todos os que estavam presentes ali!

                           A fúria e a tamanha intensidade com que a água invadiu os interiores do navio destruiu tudo aquilo que estava na frente, como um verdadeiro tsunami ou até pior. Arrebentou as portas de madeira, os móveis dos quartos, os quadros presos às paredes, absolutamente tudo, além de ceifar a vida de mais de uma dezena de pessoas. E, à medida que o navio mergulhava no oceano, mais e mais água adentrava. A situação encontrava-se tão crítica que, em um dado instante, a popa ficou consideravelmente suspensa no ar devido ao peso exercido pela água na parte da frente.

                         O plano inclinado formado fez com que as pessoas que corriam pelos conveses começassem a escorregar por causa do piso, de modo que precisaram se apoiar a algo para não deslizarem. Aden e as duas jovens inevitavelmente sofreram com isso, contratempo este que apenas contribuiu para dificultar ainda mais a tentativa deles chegarem ao lugar desejado. Todavia, os três deram um jeito, por sorte. Logo quando estavam próximos o bastante, Lexa imediatamente tomou como suporte a balaustrada lateral do navio e, fazendo um tremendo esforço, com uma das mãos ajudou Clarke e Aden a chegarem à grade de ferro da popa, ao passo que com a outra se segurou para não escorregar durante o processo. Em seguida, apressou-se para se juntar a eles.

— Segurem firme! Não soltem, tudo bem? Não soltem.

                        Aden passou o braço esquerdo pelo vão entre as barras de ferro da grade e segurou firme e com o direito abraçou Lexa, escondendo o rosto na barriga dela. Esta, por sua vez, abraçou-o de volta e abraçou Clarke, de maneira que, ao mesmo tempo, conseguisse se segurar na balaustrada também, tal como as muitas pessoas que até ali conseguiram chegar. Tinha muita gente agarrada ao cerco da popa. Entretanto, a grande maioria que não a alcançou precisou tomar como suporte alguma outra coisa para não cair. O caos presente em cada canto não amenizou nem por um segundo sequer. Todos aqueles que tiveram a sorte de embarcar nos botes e, àquela hora, estavam consideravelmente distantes, observavam a cena com horror.

                        De repente, o Titanic começou a inclinar ainda mais, de maneira que a sua parte traseira elevou-se a a uma altura equivalente a um prédio de 16 andares ou mais. Havia muita gente dentro do oceano àquela altura. Os que não puderam agarrar-se a algo a tempo inevitavelmente escorregaram no piso liso e deslizaram com tudo popa abaixo, topando com cada objeto que surgia no caminho. Os gritos de pânico voltaram a preencher os corredores e decks exteriores de toda aquela embarcação. Era algo extremamente surreal, similar a um escorrega gigantesco que tinha a função de direcionar as pessoas à morte ou, pelo menos, a uma versão dela. 

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