CAPÍTULO 05

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PV:OLIVER

Eu  nunca  acreditei  em  destino  e esses  tipo  de coisas,  para  mim o destino  é  como  uma  tempestade  de areia  vindo  em  nossa  direção, esfregando  em  nossa  cara  o desejo  de ser  diferente daquilo  que  somos ,  e essas  é  uma  das  piores  tragédias  de como  o destino  pode  castigar  o homem, o desejo  de ser  outro diferente daquilo  que  somos,  não  pode  arder  um  desejo  no  coração  humano  mais  doloroso  do  que  esse,  porque  não  é  possível  suportar  a vida  de outra  maneira  apenas  sabendo que  nos  conformamos  para nós  próprios  e para  o mundo,  temos  de nos  conformar  com  aquilo  que  somos  e ter  a consciência   quando  nos  conformamos  de que  em  troca  dessa  sabedoria  não  recebemos  elogios  da vida, não  nos  põe  no  peito  nenhuma  condecoração  por  sabermos  que  somos  vaidosos  e egoístas, não  temos  que  saber  que  por  nada  disso  recebemos  recompensas  ou  valores,  temos  de suportar  esse  é  o segredo .
Antes  de sofrer  o maldito  acidente  que além  de matar  meu  pai  deixou-me  cego, eu  não  era  uma  boa  Pessoa, tão  pouco  sou  agora.
Minha  capacidade  de ser  bom  naquilo  que  eu  gostava  de fazer, transformou-me  em  uma  Pessoa  orgulhosa  e presunçosa, mesmo  tendo  diante  de mim  somente  a  fria  escuridão, posso  ver  com  clareza  que  eu  não  sou  quem  eu  realmente  gostaria  de ser, é  uma  merda  você  ter  que  reconhecer que  tudo  o que  viveu  antes  não  passou  de uma  ilusão, fama, poder, dinheiro, beleza, ardentes  paixões, não    têm  nenhum  valor  agora.
Afastei-me das  pessoas, por  que  não  queira  sentir  sua  pena e compaixão, em  minha  cabeça  eu  as ouvia  dizer: coitadinho do  Oliver , tão  jovem , tão  lindo  e inteligente mas  agora  não  pode  fazer  mais  nada.
Agora  percebo  que  esse  maldito  pensamento só  estava  em minha  cabeça.
Foram  necessárias  umas  poucas  semanas  ao  lado  de uma  Pessoa irritantemente persistente e insuportavelmente  tagarela,  para  quebrar  o muro  de pedras  que  eu  ergui  ao  redor  de mim, Felicity  uma  voz  sem  rosto,  meu  grilo  falante,  essa garota  não  faz idéia da  confusão  que  causou  dentro  de mim, me  expus  a ela  mas  do que  a qualquer  outra  pessoa, ela  foi  a única  que  me  viu  chorar dessa  forma tão  desarmada , eu  não  sei  explicar, têm  algo  nela  diferente de tudo  o que  eu  já  senti antes, por  um  momento  eu  sentir  vontade  de ser  diferente, de pensar  diferente, quando  seus  braços  envolveram-me  em  um  abraço apertado  e cheio  de ternura e carinho, senti  que  estava  no  lugar certo , que  aquele  abraço  sempre  fora  meu, de alguma forma Felicity alcançou-me, não  sei  como,  mas  quando  senti  seus lábios juntos  aos  meus, sentir como  se  eu  estivesse  beijando  o próprio  sol, e foi  nessa  hora  que  eu  desejei  com  todas  as minhas  forças  ser  outra  pessoa, muito  melhor  do  já  fui um  dia , e com certeza  melhor  do  que  sou agora.
Depois  do  nosso  momento no  piano, Felicity  não  disse  nada, e dessa  vez seu  silêncio  doeu,  nunca pensei  que  chegaria  o momento  em que seu  silêncio  me  deixaria tão triste, agora  tudo  o que  eu  mais queria   era   ouvir  sua irritantemente porem, doce   voz.
— Oliver... a ouvi Chamar-me,
Sentir  meu  coração  acelerar, demorei  um  pouco  para  atender, minha  mente  ultimamente  me  pregava  peças.
— Oi , respondi  timidanente.
— Algum  problema? perguntei  exitante.
— Podemos  conversar? ... eu  sei  que  você  não  gosta  de conversar...
— Tudo  bem,  pode  entrar, a interrompi. Ouvi  seus  passos  caminharem lentamente  em  minha  direção , a  cada  passo que  ela  dava  meu  coração  acelerava  um  pouco  mais.
Me  afastei um  pouco na  cama  esperando  que  ela  sentasse  ao  meu  lado, mas  ela  não  o fez, isso  também  me  incomodou.
— Se  é  sobre  o beijo...
— Não  precisamos  falar  sobre  isso, interrompeu-me, assenti   tristemente, eu  queria  falar  sobre  como  seus  lábios  tão  doce ascendeu algo  dentro  de mim.
— Quer  falar  sobre  o que  então?  perguntei  curioso.
— Na  verdade  tenho  duas  coisas  pra  falar  com  você ,  sorrir  minimamente, não  seria  ela  se não  tivesse  mais  de uma  coisa  pra  falar.
— Tudo  bem, estou  ouvindo, falei  educadamente,   até  senti-me  estranho  por  isso.
— Primeiro  queria  saber de você... , começou  exitante.
— Você  não  gostaria  de falar  com  um  especialista pra  ver  se    ele  têm  um  parecer diferente  dos  outros  médicos...
— Já  fiz  tudo  o que  estava  ao  meu  alcance  Felicity! a interrompi.
— Talvez  ainda  dê  pra  fazer  alguma  coisa  Oliver, você  não  ouviu  todos  os  especialistas...
— Ouvi  o suficiente, eu  já  estou  conformado, respondi  amargamente  e um  suspiro  pesado  escapou  de sua  garganta.
— Qual  a outra  coisa  que  você  queria falar? perguntei  tentando  mudar  o rumo  da conversa.
Felicity  ficou  em  silêncio  por  alguns  segundos,  eu  não  podia  vê-la, mas  sabia  que  encarava-me  nervosa, seus  batimentos  cardíacos  estavam  acelerado.
— Minha  madrinha  disse  que  hoje  é  seu  aniversário, falou  timidamente.
— Eu  estava  pensando  se não  podíamos ir  até  a cidade  ver  a sua  família...
— Não! respondi  de imediato  e com  a voz  já  alterada.
— Oliver você  precisa... tentou  argumentar  mas  a impedi.
— Não  quero  vê-las, não  do  jeito  que  eu  estou, fui  sincero.
— Por que?  ouvi  seus  passos  se aproximando  de mim.
— Eu  as magoaria,  e elas  não  merecem, desabafei.
—  Eu  não  as conheço, mas  sei  que  elas  sentem  sua  falta, assim  como  eu  sei  que  você  sente  a falta  delas.
— Como  você  pode  saber  o que  eu  sinto? fui  ríspido.
— Quando estávamos  tocando  piano eu  te  vi Oliver!  não  estou  falando da sua  figura  física, estou  falando  da sua alma, você  sofre...
— Não  sei  do que  está  falando  a cortei.
— Você  sente  culpa, pela  morte  do  seu  pai,  ele  gostava  de tocar  piano  como  você...
— Como  você  sabe  disso?  perguntei  alarmado, como  ela  podia  saber  tanto  sobre  mim? logo eu  que  tentava  a todo  custo  me esconder.
— Isso  não  importa  agora  Oliver!
—  Eu  estava  pensando ... ,  talvez  seu  problema  seja  mais  fácil  de  resolver do  que  pensa...
— Felicity  eu  não  estou  gostando  do  rumo  dessa  converssa, a  interrompi.
— Oliver  você  pode  até  me  mandar  embora, mas   você  vai  ouvir  o que  tenho  pra  falar...
— Está  se excedendo  e isso  não  será  bom  pra  nenhum  de nós  dois, a advertir.
— Pode  ser, mas  vou  me  arriscar  mesmo  assim, respondeu  corajosa.
— Te  conheço  a menos  de um  mês, mas  parece que te  conheço  a anos Oliver, por  que  eu  sentir  a sua  dor... , senti  o quanto  você  sofre  e  sei  o quanto  a solidão  te  machuca.
— Você  não  percebe  o que  está  fazendo  com  você  mesmo né? você  está  se punindo Oliver, por  algo que  não  foi  sua culpa.
— Era  eu  que  estava  no  volante aquela  noite Felicity! gritei.
— Ele  me  pediu   pra  diminuir  a velocidade e eu  o iguinorei ... e  pra  chatea-lo aumentei  cada  vez  mais... admiti  em  prantos.
— Foi  minha  culpa, desisti  de  voltar  a enxergar  quando  reconheci  que  eu  podia  ter  evitado o maldito  acidente,  eu  não  me  lembro  sobre  o que  discutíamos, mas  eu  sei  que  a culpa  foi  minha, confessei, minha  voz  não  passava  de um  sussurro  sofrido.
— Eu  mereço  isso, mereço  a solidão...
— Ninguém merece  viver  sozinho  Oliver! interrompeu-me.
— Até  por que  você  não  é  o único  a sofrer, seus  amigos  e sua família sofrem tanto  ou  mais  que  você,  você  nunca parou para  pensar  nisso?
Elas  não perderam  só o seu  pai Oliver, perderam  você  também.
Reprimi  meus  soluços,  Felicity  mais  uma  vez  estava  certa, como  sempre  fui  egoísta  e pensei  só  em  mim.
Senti  o leve  toque  dos  seus  dedos  secarem  minhas  lágrimas, como  Felicity  conseguia  me  alcançar  dessa  forma.
— Me  abraça... pedi  entre  lágrimas, seu  abraço  era  tão  aconchegante , tão  quentinho, era  como  um porto  seguro para mim.
Felicity  então  abraçou-me,  e mais  uma  vez  desejei  não  ser  mais eu,  e sim  outra  pessoa, uma   pessoa  muito  melhor do  que  eu  jamais  fui.

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