Uma princesa GG

55. Descobertas

Vamos para o jardim e a visão desse lugar no início da noite é ainda mais linda. Nos sentamos em um banco de ferro e eu tento organizar meus pensamentos para não dizer nada que o magoe.

_ E então...- Ele me incentiva a começar.

_ Ru entendo que um evento real deve ser grandioso. Eu entendo que para que a grande maioria das pessoas da alta sociedade se tornem piedosa, existe a necessidade de ter cameras envolvidas. Eu entendo que se tem que gastar dinheiro para ganhar dinheiro. Eu realmente entendo tudo isso, não aceito, mas entendo. O que eu não consigo entender é como uma pessoa tem a coragem de fazer um jantar beneficente e gastar seiscentos mil dólares em arranjos de flores. Quão hipócrita uma pessoa tem que ser para se considerar caridosa por doar alguns milhões quando se gasta mais do que o dobro das doações para organizar o evento?- Falo sem olhar para ele, mas sei que está me observando.- Philip eu conheço pessoas como aquelas mulheres, pessoas que gastam fortunas em festas, mas que por dar "esmolas" aos pobres e abraçar algumas crianças carentes, recebem títulos de humildade e nobreza. Sinto muito mesmo, mas não posso compactuar com isso.

_ Eu não espero que você compactue.- Ele segura meu rosto de maneira carinhosa e faz com que o olhe nos olhos.- Mulheres fúteis juntas por uma causa "nobre" não faz o seu estilo.- Ele sorri.

_ Sua mãe deve estar me odiando bem mais agora, eu a envergonhei na frente das amigas dela.- Me deito em seu ombro e respiro fundo.

_ Provavelmente sim.- Ele gargalha.- Mas você está certa, tudo isso não passa de um grande circo para mostrar a família real como pessoas generosas. Mas o que realmente importa é que apesar de toda a enganação, crianças serão ajudadas e terão o que comer antes de dormir.

_ Você está certo, eu tenho que ver o lado positivo de tudo isso.  É realmente bom ter algo além de sopa rala de legumes para comer no jantar.- Falo me lembrando de um tempo distante.

_ Você viveu em um orfanato?- Philip pergunta visivelmente interessado e eu não tenho mais motivos para esconder isso dele.

_ Eu foi abandonada quando era bebê em frente a um orfanato católico. As freiras cuidavam de nós com amor e carinho e mesmo que nem sempre tivéssemos grandes banquetes, ou até mesmo variedade de alimentos, eu fui bem feliz lá.

_ O que aconteceu?

_ Eu tinha oito anos quando, em uma noite, homem encapuzados invadiram o orfanato e atearam fogo em tudo. Algumas garotas e eu que dormíamos no primeiro andar conseguimos escapar pela janela, mas a grande maioria morreu queimada ou enterrados em meio aos destroços.- As lembranças daquela noite de medo começam a aparecer de maneira vivida em minha mente e eu sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

_ Eu sinto muito.- Philip seca minhas lágrimas e me beija delicadamente nos lábios.

_ As coisas só pioraram para mim depois disso. As sobreviventes foram levadas pelo conselho tutelar e encaminhadas para lares provisórios. E eu fui destinada para o mal encarnado. - Meu corpo todo se retrai ao lembrar de alguns dos piores anos da minha vida.- Eu e mais duas meninas fomos destinadas a senhora Jones, alguém de aparência doce e amigável, mas que na verdade não passava de um mostro muito bem disfarçado. Ela nos forçava a trabalhar horas sem comer em sua fábrica de tecidos no porão de sua casa e mal tinhamos tempo para dormir ou descansar, qualquer uma que fosse encontrada parada era severamente castigada. Eu nem consigo me lembrar de quantas vezes desmaiei de exaustão e acordei com um balde de água fria sendo jogado em mim, ou quantas vezes foi brutalmente agredida por seu filho Lian por ter feito alguns pontos errados. Eu ainda tenho algumas marcas desse tempo espalhadas por meu corpo para me lembrar de onde eu vim e para onde jamais vou voltar.

_ Mas isso é uma absurdo, vocês não eram visitadas por um assistente social ou algo assim?- Ele pergunta visivelmente indignado.

_ Dabe, é bem fofo a forma que você vê a vida Phil.- Aliso seu rosto de maneira carinhosa.- Mas a realidade nada tem a ver com justiça. Nós eramos órfãs, ninguém se importava com o que acontecia com nenhuma de nós, a única coisa que importava era saber que estavamos fora de sua responsabilidade e isso era o bastante. Meu mundo nunca foi colorido como o seu, durante muito tempo tudo era apenas cinza, e talvez se eu nunca tivesse conhecido meus pais, eu nem faço ideia do que seria de mim hoje. Aprendi o valor da vida da pior forma e é por isso que não consigo simplesmente abaixar a cabeça e aceitar situações que para mim são absurdas.

_ Eu entendo perfeitamente e amo isso em você. Seu senso de justiça e humanidade são o que diferenciam você de noventa por cento das mulheres daquela sala e eu não quero que você mude para se adaptar a elas, porque você ser diferente é o que te torna única e a mulher certa para mim.

Ele se aproxima de mim e nossos lábios se encontram em um beijo apaixonado e mesmo que seja cedo de mais, mesmo que eu ainda não diga a ele. Eu o amo e saber disso me faz muito feliz.