XII

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JOY

Agora vejo Kendra em minha tela, e somente ela. Está chorando e sei que é por causa de Scarlet, que é sua melhor amiga. Se acontecesse com Liz estaria do mesmo jeito. Mas ela precisa me tirar daqui o mais rápido possível para salvarmos – se possível – Scarlet.

Aceno, mas como vi com os outros, meu eu falso deve ter feito a mesma coisa. Então, já sei o que preciso fazer. Começo a dançar a coreografia da banda que a gente tem gosto em comum.

Sei que todos estão me observando agora, mas é necessário. Kendra sorri fraco e começa a trabalhar em seu enigma. Conto os minutos.

Primeiro 5.

Depois 10.

Ao fim dos 15, ela termina. E agora vejo Liz. Ela sorri para mim, meio triste e sei o que está pensando. As duas Liz ligam e preciso saber qual é a verdadeira. Mas o governo foi idiota: ela é minha melhor amiga.

Levanto a mão e estico o dedo indicador na direção da tela. A Liz falsa balança a cabeça, a verdadeira me imita. É nossa interação, uma coisa que fazemos quando queremos compartilhar pensamentos sem poder falar. É claro que não entendemos tudo, mas funciona quando a pessoa te conhece há quase 11 anos.

Olho o enigma que tem em cima da Liz verdadeira. Ela sorri, me incentivando. Sempre faz isso. É uma pergunta que deve responder.

"Descubra o nome de um rei famoso por meio desta charada:
Com quinhentos começa.
No meio está o cinco.
O primeiro número e a primeira letra ocupam as demais posições.
Junte tudo e o nome do rei na sua frente surgirá."

Rei? Meu Deus! Desconheço qualquer rei! Olho para Liz e balanço a cabeça. A Escola não acha necessário que estudemos todo o passado. Nos ensinam o que acham que precisamos saber - outra forma de manipulação.

A Liz da tela balança as mãos, pedindo calma. Começa a expirar e inspirar. Imito-a. Sei que preciso andar logo, que se houver a possibilidade, sou a chance de salvar Scarlet – e não sei se conseguiria carregar a culpa por matá-la.

Certo. Começa com 500. Existiam reis com nomes de números? Lembro que Tony, meu professor de história do terceiro ano, disse que os reis passavam seus próprios nomes para os filhos, e os enumeravam de acordo com a sua posição na árvore genealógica. Mas há letras, não haveria alguém com apenas números no nome.

-- Pense Joy. E se os números corresponderem as letras?

Só contar. A quinta letra é "E". A primeira letra, "A", o primeiro número, "1". Preciso saber qual é a inicial do rei AE 1. AE Primeiro. Lembro que usávamos números romanos para enumerá-los. Primeiro é I.

A conclusão vem na minha cabeça e sorrio. Não sei há quanto tempo estou presa aqui, mas o sorriso forçado de Liz diz que tenho que andar logo. A é a primeira letra do alfabeto. I é o primeiro número dos romanos. O quinto número é V. Certo, o rei tem nome de AVI. Como, por Deus, é 500 em romanos? Vasculho minha memória. X é 10. M é 1000. C é... 100? Sei que L e D também são números romanos. Seria Lavi? Ou Davi? Não sei.

-- Como o governo pode ser tão cruel e não nos ensinar o que nos obrigam a saber nos JRA? – mas ninguém me responde.

Liz olha para mim, me incentivando mesmo sem dizer nada. Lavi é um nome muito estranho. Ou não. Mas algo me diz que o nome certo é Davi. Digito Davi no painel e fecho os olhos. Nada acontece nos primeiros momentos. Mas depois escuto um clique. Corro em direção a minha porta, está aberta.

-- Graças a Deus. Davi é um ótimo nome, por sinal.

Saio e me encontro num corredor escuro. Lado a lado, as caixas estão postas. Liz sai de sua caixa e corre ao meu encontro. Ela me abraça, apertado, e sinto sua bochecha molhada no meu ombro.

Raciocínio Americano - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora