Epílogo

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Minha cabeça dói, assim como minhas costas, minha perna esquerda e meu braço. Sinto um pouco de dificuldade para respirar e o cheiro de álcool é forte. Tenho medo de abrir os olhos e ver algo que não quero, então fico imaginando o lugar onde estou através do som. Algo pinga em algum lugar e tem algumas pessoas conversando bem longe de onde estou.

Mexo os dedos das mãos com cuidado, para ter certeza de que eles ainda pertencem a minha mão. A dor percorre todo meu braço quando me esforço, então aperto mais os olhos. Passos se aproximam.

-- Eu avisei você. – diz uma voz masculina.

-- Mas ela ainda devia estar dormindo. – agora é uma mulher que responde. Sinto mãos delicadas pousarem na minha testa.

-- Ela é mais forte do que todos imaginam, eu avisei vocês quando ela entrou.

-- Eu a conheço desde pequena, eu sei disso. – a mão sai do meu rosto e aperta meu braço levemente. Agora não dói e o toque é acolhedor - Ela mudou tanto...

-- Já se passou muito tempo desde que foi embora. – a voz masculina começa a ser familiar. Sinto minha cabeça rodar mesmo de olhos fechados e mexo os dedos de novo em um impulso – Olha, ela está acordando.

Não, não estou. Não quero acordar, quero dormir para sempre para que a dor passe. Mas a respiração dos dois se intensifica e sei que não adianta fingir. Abro os olhos devagar, tentando me acostumar com a claridade repentina do lugar. Tudo aqui é branco. Procuro alguma coisa para focar e o que encontro é uma manta branca que cobre meu tronco.

-- Olhe só você... – a mulher fala. Piscando, tento enxergar melhor seu rosto. Meu coração acelera ao reconhecê-la e reprimo um suspiro assustado.

-- Impossível. – digo. Ou pelo menos tento dizer, já que minha voz sai muito rouca.

-- Eu sei. Ninguém acreditava que você estaria viva também. – o homem fala e me viro para ele. Agora sei quem é. Lucas.

-- O que... eu morri? Vocês todos estão mortos também? – balanço a cabeça para clarear as ideias, mas o movimento me deixa tonta e a dor aumenta.

-- Não faça isso, Liz. Você acaba de acordar de uma anestesia geral. – pisco quando ele fala meu nome.

-- Você pode me dizer onde estou? – pergunto para ele, com medo de encarar a mulher ao meu lado. O tempo passou, mas ela mudou muito pouco. Ainda me lembro de suas feições delicadas.

-- Vou te explicar tudo, mas preciso me certificar de que está bem.

-- Vou ficar mal se não entender onde estou, Lucas. – ele sorri de lado, mostrando a covinha que tem na bochecha.

-- Muito bem então... você está em um quarto da enfermaria, no quartel da Nova Era de New York, e esta aqui é...

-- Eu sei quem ela é. – falo, a encarando pela primeira vez. Seus olhos são doces, mas escondem alguma dor – É Andy, a irmã morta de Joy.

Ela sorri para mim, passando a mão em minha testa novamente.

-- Que bom ver você, depois desse tempo todo. – ela fala. A situação toda é muito confusa.

-- O que diabos está acontecendo? Nova Era agora é um novo nome para paraíso? – pergunto. Tento mexer os dedos dos pés, mas não os sinto. Com o braço que não dói, tiro a manta de cima de mim. Um dos meus pés está engessado – Mas o que...

-- Calma. – Lucas suspira – Preste atenção. Alguém viu quando você caiu da ponte e fomos atrás de você antes do furacão chegar. As águas estavam muito agitadas, mas alguém lá em cima deve gostar de você, porque veio parar bem perto da gente, na parte baixa da ilha. Buscaram você e conseguiram alcançar sua corda, pra te trazer para a margem. Estava quase morrendo. Tivemos que fazer algumas cirurgias pra tirar a água dos seus pulmões antes que fosse tarde demais. Você conseguiu sobreviver, mas quebrou o pé esquerdo, tem várias lesões nas costas e nos braços. Vai tomar alguns remédios até estar completamente recuperada.

-- Quem são "nós"? – pergunto, sentindo a cabeça latejar com tanta informação.

-- A Nova Era. – é Andy quem fala agora. Ainda é difícil de encará-la – Somos uma organização de revolucionários que quer acabar com o sistema da América. Os Jogos de Raciocínio Americano não são justos e você sabe disso. Nós vamos destruir tudo e reconstruir o continente. – pisco.

-- Faz tanto tempo que você se foi. Sua mãe chorou tanto quando recebeu a carta e Joy...

-- Nós vamos te explicar tudo melhor depois, Liz. – ela fala.

-- Como veio parar aqui?

-- A Nova Era me sequestrou do governo enquanto eles me levavam "para o meu destino". – ela faz aspas com os dedos – Me juntei a causa desde então. Estamos agindo tem muito tempo, mas ainda não chegou o momento. Eu não podia aparecer nem avisar como e onde estava, seria perigoso demais para elas, se o governo descobrisse. Além disso poderia estragar os anos de trabalho que temos. – a voz dela está carregada de dor.

-- O governo já sabe de vocês. – digo, lembrando dos alunos sequestrados. Provavelmente suas famílias faziam parte do movimento. As peças começam a se encaixar, mas é tudo muito complexo para eu absorver de repente.

-- Nós sabemos disso. Mas tudo que eles têm é muito superficial comparado ao tamanho da Nova Era. – Lucas fala – Você vai conhecer tudo quando melhorar. Mas enquanto está de cama não pode fazer nada. É melhor descansar.

-- Vocês estão com os outros também, não é? – pergunto, me referindo a Luca e Peter. Os dois evitam me olhar.

-- É melhor conversarmos depois, Liz. – Lucas mexe em uma máquina que injeta soro na minha veia. Tenho muitas perguntas, mas o tom sério dele me faz calar.

-- Você vai ficar bem. – Andy fala, passando a mão em meus cabelos antes de se afastar.

-- Eu só quero perguntar mais uma coisa, e prometo deixar vocês em paz.

Os dois se encaram, então Lucas suspira e assente para mim, me instigando a falar.

-- Onde Joy está?

-- Provavelmente em casa, a essa altura. – ele responde. Andy se vira para não olhar em meus olhos.

-- Isso significa que eu não posso vê-la mais? – pergunto, sentindo meu estômago embrulhar.

-- Significa que agora você é considerada morta. – ele fala, colocando a manta em cima de mim de novo. Andy já saiu da sala – Agora, descanse. Ainda tem muita coisa que você precisa saber.

Raciocínio Americano - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora