VI

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JOY

-- O que eles querem? Nos matar? – Liz diz.

-- Fale baixo. – Kyle a repreende. Estamos agora na garagem do Instituto.

-- É exatamente isso que eles querem. – Kendra diz. Luke mandou formamos uma fila e está conferindo nossos nomes em uma prancheta. Penso em me despedir de todos os meus professores, mas Liz me disse que eles não se importam comigo. As vezes, acredito nela. Outras, não quero pensar assim.

-- Amazônia? Isso é loucura! – Liz sussurra.

-- Shhhh, cala boca! – Jonathan coloca a mão na boca dela. Ele olha em volta. Uma van já foi e tem dois alunos na nossa frente. Não os conheço direito.

-- Se eles desconfiarem que nós sabemos pra onde exatamente vamos, vão nos matar. – Kyle diz.

Liz funga e fica quieta. Só resta nosso grupo fora do ônibus agora. Peter está na frente e Luke manda ele assinar seu nome. Fala outra coisa que não entendo. Depois que Peter responde, entra no ônibus. Vez de Scarlet e o processo se repete, demorando um pouco mais. Sou a última da fila e não entendo o que estão falando porque estou muito longe. Kyle, Luca e Jonathan são os próximos. Agora só sobrou eu, Liz e Kendra.

-- Kendra, coração, assine seu nome. – ele entrega a prancheta para ela.

-- Sem falsidades Luke. – ela rabisca alguma coisa e ele ri. Antes de ela entrar, ele a barra.

-- Você quer dizer alguma coisa pro seus pais? Caso você não seja suficiente para a América, irá junto com a carta o seu último recado.

-- Hum... – ela virou a cabeça – Diga a eles que eu queria estar dormindo, mas o nosso governo não deixa.

Luke ri.

-- Minha aluna predileta. Assine aqui por favor.

-- É melhor você ficar calado, Luke, não sei se seria uma boa ideia te dar um murro aqui. – Liz não ri. Sei que agora Luke não é um dos seus melhores professores. Ela, na verdade, quer matar todos eles.

-- O que gostaria de dizer para os seus pais?

-- Mãe, está satisfeita agora? – a resposta dela é direta e ela entra no ônibus sem pestanejar. Família é um assunto delicado pra Liz.

-- Oi. – falo.

-- Joy... – ele sorri e me entrega a prancheta. Assino meu nome e percebo minhas mãos tremendo – Você é tão quieta no seu canto, conversa as vezes e pergunta quase nunca. Mas vejo o seu grande potencial escondido atrás de seus olhos e suas notas.

-- Obrigada. – digo. O elogio me pega de surpresa. As únicas pessoas que falam assim comigo são meus pais e Liz.

-- Algo para dizer para os seus pais?

-- Nós te amamos.

E entro na van, que mais parece um ônibus. Vejo Liz sentada no fundo. Há uma cadeira pra mim ao seu lado e Kendra senta do meu outro lado. Sento. Liz estende a mão para mim e sorri. A viagem começa agora.

Sinto a van começar a andar. Liz fecha os olhos e sei que está rezando. Estamos cada vez mais rápidos e sinto o impulso para que ele comece a planar. Olho pela janela do lado de Liz. Estamos no ar agora.

Vejo Luke lendo algum autor famoso que não consigo identificar de onde estou. Ele está tranquilo. Disse uma vez que íamos poder comer durante a viagem, mas a partir do momento em que chegarmos no local dos JRA, não irão nos dar comida. Mas agora já não sinto tanta fome.

Raciocínio Americano - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora