Raciocínio Americano - Vol. 1

XXXII

JOY

Acontece muito rápido. Não consigo compreender nos primeiros segundos. Em um momento ela está de pé. No outro, escorrega. Sua corda bate no meu braço e me assusta. Olho para o lado e Victoria tenta ajudá-la. Mas a água está forte, como um animal selvagem se lançando contra nós. Irritado. Brutal. Extremamente feroz.

Ela é puxada de um lado para o outro. Vejo seus braços tentando buscar a superfície. O vento é muito forte e por um momento fico surda. Grito, quando ela desaparece pela primeira vez. Victoria se senta, tentando ajudá-la de qualquer forma. Sinto meu corpo não aguentar meu peso e Kendra segura meus ombros quando ameaço desabar. Agora as lágrimas se misturam a água que respinga por todo o lado com o vento. Ela some mais uma vez e o barulho é mais forte.

Encaro as águas agitadas, procurando por qualquer traço seu. Grito seu nome, mas não consigo ouvir minhas próprias palavras. Os outros falam alguma coisa, mas me desligo do mundo. Eu não consigo pensar. Não consigo agir. Vejo os olhos de Victoria na minha frente e ela me fala alguma coisa. Mas continuo sem escutar. Nada importa. Tudo perde a cor, os sons e o sentido. Só quero vê-la. Preciso dela.

Mas as águas brutais a levaram embora.

-- LIZZZZ!!! – chamo, o mais alto que consigo. Ela não pode ter ido. Estamos tão perto – LIZ!!!

Ela não aparece. Kendra me puxa, mas não quero sair do lugar. Eu não vou embora sem ela. Minha irmã, minha melhor amiga. Isso não pode estar acontecendo. Victoria também me empurra e sinto que não tenho mais o controle do meu corpo. A única coisa que consigo fazer é chorar. Não vejo como me levam até o fim, porque não sinto meus pés no chão. Meu estômago dói como se tivessem me socado várias e várias vezes. Sinto quando tiram o equipamento da minha cintura, mas meus olhos não conseguem focar. Sou novamente carregada para dentro. Do quê, eu não sei muito bem. Não entendo nada. Kendra ajoelha na minha frente e me vejo sentada. Pisco algumas vezes, afastando as lágrimas para me concentrar nela.

-- Joy... – ela fala – Ah Joy... eu sinto muito...

Não. Isso é impossível, estou em mais um sonho ruim do qual não consigo acordar. Quero gritar. Gritar para me acordarem, mas só consigo chorar. Sinto o abraço de Kendra e as mãos brancas de Victoria seguram meus ombros que tremem. Olho para Kyle e Jonathan e eles estão tremendo e abraçados. Isso só comprova uma suspeita que não quero considerar. Liz realmente se foi. Quando Kendra me solta, sinto frio. Mas algo dentro de mim me diz que não é por estar molhada. Sei que nem o fogo mais alto de uma lareira pode me aquecer agora. Duas pessoas surgem do nada e não consigo prestar atenção em seus rostos ou no lugar em que estou.

-- Parabéns. – escuto bem distante – Vocês são vitoriosos e provaram seu valor. São dignos de permanecer no continente e ajudar o governo a progredir. Vocês terão auxílio médico, banho, roupas novas e comida quando quiserem. Agora, estão livres. A viagem de volta para casa ocorrerá amanhã, quando a tempestade já não estiver presente. O continente americano e o futuro da humanidade estão orgulhosos por vocês terem vencidos.

A insensibilidade do agente, que descubro ser um homem, é como outro murro. Quero vomitar e me sinto zonza. Kyle grita com ele, mas não presto atenções em suas palavras.

-- Me leve pra um banheiro. – sussurro para Kendra.

Ela me ajuda a levantar e me apoia de um lado, enquanto Victoria segura do outro. Elas não me deixam cair quando meus passos vacilam. Kendra pergunta alguma coisa para o outro homem e ele nos guia pelos vários corredores da gigantesca casa, que nem se quer treme com os ventos lá fora. O mesmo não se aplica a mim. Ele nos deixa na porta de um quarto e entramos. Há 4 camas e o quarto é igualzinho ao outro, da casa da segunda etapa dos jogos. A diferença é que tudo aqui é dourado. Kendra me guia até o banheiro e me apoia na parede.