XXVIII

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JOY

Kyle e eu corremos. Ou melhor, Kyle corre enquanto eu o sigo o mais rapidamente que posso. Agora gostaria de mais uns analgésicos. Mas entendo que minha dor não pode ser prioridade. Penso em Scarlet e em todos os outros, principalmente Kendra e Jonathan. Eu não quero imaginar o pior das hipóteses e eu preciso evitá-la. Faço o meu máximo para correr e acabo ficando bem próxima de Kyle.

Não penso em mais nada enquanto cruzamos a distância necessária, apenas em encher e esvaziar meus pulmões. Ignoro a dor que insiste em latejar por toda minha perna e a adrenalina que sobe começa a amenizá-la.

Quando estamos próximos aos soldados Kyle para e trombo com ele.

-- Des...culpa. – sinto meus pulmões arderem e meu colar pulsa tão rápido quanto as batidas do meu coração.

-- Tudo bem. – pisco. Kyle nem parece ofegar. Ele acaba de correr mais de 500 metros e nem mesmo treme a voz – Temos que dar a volta. Se formos pegos... – eu sei o que vai acontecer.

-- Certo. – ele vira numa ruazinha antes da esquina e o sigo.

Mas algo do outro lado da rua me chama atenção. Ah droga. Puxo Kyle pela camisa e nos abaixamos atrás de uma pilha de destroços do prédio.

-- Mas o que...

-- Shhh... – falo – Fale baixo.

-- Joy... – ele sussurra, mas aponto para o outro lado da rua. Ele se cala.

-- Elas estão indo pra lá. – do outro lado da rua, duas meninas de cabelo vermelho andam cuidadosamente. Elas não são da nossa região e acredito que moram no litoral do continente. De longe, não consigo ver a que equipe elas pertencem, mas o jeito quase idêntico me faz crer que são gêmeas – Não podemos deixar.

-- Como vamos impedir elas de ir pra lá? Pedir educadamente? Por favor, nossa amiga está morrendo, poderiam deixar que a gente pegue o que seria útil pra vocês? – reviro os olhos para ele. Que pessimismo.

-- Isso daqui é um jogo Kyle. – olho para elas e estão subindo pelas paredes de um prédio. Uau. Querem ver a área por cima – Precisamos usar o cérebro.

-- Joy, não estamos com tempo para pensar! – mas eu não preciso pensar. Puxo a maleta de suas costas e a abro. De dentro, tiro a garrafa de vinho quase vazia (Jonathan e Kyle beberam depois do furacão) e coloco no chão – É sério isso?

-- Cala boca e me ajuda aqui. – digo, me surpreendendo um pouco pela ousadia. Acho o estojo com balas que peguei no dia que chegamos. Com as facas que eu e Liz trouxemos, tento soltá-las da cápsula para pegar a pólvora e Kyle começa a fazer o mesmo, um pouco surpreso.

Rasgo o forro da maleta e coloco a pólvora lá dentro, de modo que vire uma trouxa. Bebo o excesso de vinho da garrafa sem esperar que Kyle pergunte alguma coisa. A bebida me acalma um pouco. Por favor, faça com que dê certo.

-- Tudo bem, só temos uma chance. – coloco a trouxinha de pano dentro da garrafa evitando que ela se molhe no fundo e tampo com a rolha – Você precisa acertar a parede.

Os olhos de Kyle brilham quando me entende e ele sorri de lado. Ele pega a garrafa das minhas mãos e se levanta. Se inclinando, lança a garrafa para o outro lado da rua com toda a força que tem. A garrafa gira umas duas vezes antes de bater com tudo na parede. O efeito não é explosivo, mas o som basta. As ruivas em cima do telhado se abaixam e escuto vários passos correndo na direção oposta da estação.

-- Vamos. – digo, puxando Kyle pela gola quando ele se mostra estupefato demais.

-- Eu não sabia que você sabia fazer isso. – sussurra, enquanto damos a volta na rua.

Raciocínio Americano - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora