XIV

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JOY

A água aqui não é gelada. Mas não temos o material específico para garimpar, então ficamos dentro d'água catando pedrinhas. A noite chega e o frio a acompanha. Não conseguimos muita coisa. O trabalho de Kendra, Scarlet e Peter demora mais que previmos e mesmo quando saímos da água, tremendo de frio, eles não terminaram.

-- Pe-pelo a-amor d-de Deus... – Liz pega sua jaqueta dentro da mochila batendo os dentes. Faço o mesmo porque também sinto muito frio - al-alguém liga uma fo-fogueira...

-- Já estou cuidando disso, Lizinha. – vejo que Peter montou uma estrutura com gravetos e está preparando um núcleo de folhas secas pra acender o fogo.

-- N-não me cha-chame assim! – ela bufa. Se aproxima de mim e me abraça, numa tentativa falha de se esquentar. Isso me lembra a Pequena escola, quando ficávamos grudadas nos recreios para nos proteger do frio do inverno. Na época funcionava – éramos pequenas e nenhuma das duas estava molhada.

O fogo que Peter acende rapidamente com o pedido de Liz é acolhedor e ilumina ainda mais o nosso redor. Provavelmente são 18 horas, porque a luz que vem do teto está bem fraca. Jonathan e Kendra tentam "pescar" alguns peixes no rio enquanto nós, que procuramos por ouro o resto da tarde, nos trocamos dentro da mata. Nosso jantar de peixes, que Liz implorou para que eu e ela faça, depende do que os dois conseguirem pegar.

Peter termina de destilar o ar e guarda o frasco com oxigênio em um pote. Os outros componentes ele descarta, devolvendo para o ambiente a nossa volta. Isso quer dizer que temos um dos elementos químicos que a pista nos mandou encontrar, mas ainda não sabemos o que fazer com todos eles.

-- Só espero que amanhã tenhamos sorte. – Kyle sobe o zíper da jaqueta, se sentando bem perto da fogueira.

-- Também. – Scarlet diz – A mata me assusta.

Vejo que Liz pega algumas ervas que colhemos mais cedo. Reconheço algumas e sei que é para temperar o jantar. Só espero que todos gostem da nossa comida. O acampamento está iluminado, não só pela fogueira, mas também pelas lanternas que prendemos nos galhos das árvores baixas. Se no céu tivesse estrelas, me sentiria em um dos últimos acampamentos que fiz com meus pais, antes de Andy ir para os jogos. Meu pai nos ensinou a acender o fogo sem fósforos e minha mãe nos mostrou como montar uma rede com bambus e palmeiras. Mas o céu não está estrelado e Andy não está mais aqui.

Um barulho vindo da mata me tira dos meus pensamentos. Vejo todos ficando em alerta, pois Jonathan e Kendra ainda estão tentando capturar alguns peixes no rio, e me aprumo.

Será algum animal grande? O governo teria capacidade de prender um bicho feroz numa sala como essa? Não, impossível. Lutar contra esses bichos tem a ver com força, não inteligência.

-- Shhh... – Peter sussurra, se levantando.

-- É um bicho? – Scarlet tenta pegar uma lanterna no arbusto mais próximo e o barulho só aumenta e se aproxima. Rápido, feroz.

-- Shhh... – com ajuda de Kyle, Peter improvisa uma tocha com um caule mais grosso que achou no chão. Foram desses caules que eles criaram uma lança para pescar, mas ela está com Jonathan e Kendra, no rio, a alguns metros de distância. Nossa única arma de proteção é uma tocha, que apesar de queimar, não irá parar o suposto bicho por muito tempo.

E então, de repente, o que sai do meio das plantas não é um bicho gigante de quatro patas, e sim uma forma humana, suada e ofegante. Solto a respiração, mas os batimentos rápidos do meu coração ainda soam em meus ouvidos. Levo a mão ao pescoço e sinto o pulsar suave do pingente.

Raciocínio Americano - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora