XXII

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JOY

Não me lembro de ver Liz travar assim. Mas precisamos ser rápidas ou eles vão nos achar e aí sim teremos um problema. Vejo que as escadas são sustentadas por três pilares enormes que, como Liz e eu emagrecemos por causa dos jogos, tenho certeza que nos escondem muito bem.

Puxo Liz pelo braço bem quando escuto a porta da casa se abrir. Meu coração está acelerado e tenho medo de que eles possam escutá-lo. Liz segura minha mão apertado e prende a respiração. Faço o mesmo.

-- Tem certeza de que ouviu algo? – uma voz grave pergunta.

-- Tenho. – vejo uma luz se aproximar de nós, quando outro responde. Fecho os olhos com medo do que vai acontecer se eles verem o pó de sabonete no chão – Tem alguém aqui. E não é do nosso pessoal, não avisaram nada.

-- Talvez foi uma emergência. Aqueles meninos não teriam coragem de descer depois do aviso.

-- Eles são curiosos. E a curiosidade é uma doença enorme – a luz se aproxima ainda mais da escada e sinto meu coração bater tão alto que tenho certeza de que eles ouviram.

-- Ei... Mark, venha cá. – nos acharam, é o nosso fim. Meus olhos se enchem de lágrimas e sinto que vou vomitar. Mas Liz põe a mão na minha boca quando ameaço falar qualquer coisa. Um dedo indicador na boca pede silêncio.

-- Parece que eu tinha razão.

-- Quem é você e o que está fazendo aqui? – pergunta. E agora sei que não é para mim.

-- Me-meu no-nome é Alan. Eu só... só queria comer alguma coisa...

-- Ah, claro, e você acha que eu acredito nessa sua desculpinha?

-- Senhor, por favor, eu juro que eu só queria comer alguma coisa. Esbarrei em alguma coisa na sala de jantar e foi isso que fez barulho...

-- Ele não quer comer nada não Mark, estava tentando fugir. Vamos, você vem com a gente.

-- Não, por favor... eu juro... eu vou subir agora e ninguém vai ficar sabendo disso, eu prometo...

-- Sem mais desculpas, garoto. Você teve o que quis.

-- Não, não, por favor, eu imploro... – Liz fecha os olhos e vejo as lágrimas escorrendo por seu rosto. Aposto que daqui a pouco serão as minhas.

-- Seu grupo será notificado amanhã. É mais fácil se você não resistir.

-- Mas eu estava morrendo de fome, não consegui comer no jantar e não conseguia dormir. Por favor... acreditem em mim, não me levem, eu preciso continuar, por favor... por favor... – eles estão arrastando Alan e agora entram no meu campo de visão, de onde estou, atrás da pilastra. Um deles tira uma espécie de arma do cinto e Liz aperta novamente a mão na minha boca quando faço menção para gritar. Vejo quando o homem aponta aquilo para Alan e ele grita de dor quando uma onda de choque passa por todo o seu corpo. O grito ainda é sufocado pelo outro homem, que agora o arrasta com mais facilidade.

Vejo eles se deslocarem em direção a cozinha e o barulho de seus passos desaparece aos poucos. Mas ainda consigo ouvir o pulsar do meu coração e sinto o colar zunir feito louco. Ficamos encostadas na pilastra pelo que pareceu uma eternidade. Liz chora sem expressar um ruído e acabo a acompanhando. Choro de medo, de raiva, por Andy e até mesmo por Luca, Peter, Luiza e agora, Alan. Eles estudaram comigo por anos, mas eu nunca fui tão próxima deles a ponto de lembrar seus nomes. Me sinto péssima e meu estômago se revira rápido. Quando achamos que estamos seguras, subimos as escadas com cuidado e abaixadas, sem ligar as lanternas. Entrar no quarto é fácil depois do que passamos lá embaixo.

Raciocínio Americano - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora