XXVI

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JOY

Ninguém bebe demais porque todos sabemos que estamos nos Jogos de Raciocínio Americano e qualquer passo em falso aqui pode resultar na pior das coisas. Mas a bebida realmente ameniza a dor e nos faz dormir muito melhor.

De manhã, todos comemos antes de sair. As feridas causadas pelas balas dos soldados do governo ainda doem e deixam marcas vermelhas vivas.

-- Acho que não é bom isso pegar sol. – Liz fala, trançando meus cabelos.

-- Que droga, não tem como proteger o rosto do sol. – Kendra fala, analisando o machucado da bochecha em uma colher enferrujada que ela achou na cozinha.

-- Deixe o cabelo solto. – digo.

-- Melhor não. – Liz fala – Correr com o cabelo no rosto atrapalha e é provável que a gente tenha que correr de novo.

Ela dá um tapinha no meu ombro quando termina e me levanto. Agora sou eu quem tranço seus cabelos.

-- Vocês estão prontas ou vamos esperar até anoitecer? – Jonathan pergunta, entrando no restaurante. Ele e Kyle quiseram conferir o território antes de sair definitivamente.

-- Deixe só eu terminar aqui. – Liz fala. Me coloco a arrumar seus cabelos mais rapidamente.

Ele bufa, mas depois se acalma quando Scarlet o abraça. Eles formam um casal estranhamente fofo, se comparar com todos os outros meninos com quem Scarlet já ficou. Ela é muito grudenta com ele, o que não é típico dela.

Saímos quando o sol está bem fraco, mas de longe é possível ver nuvens escuras que se aproximam. Vai chover. E será logo.

Nós conversamos no caminho normalmente, porque na rua não tem o problema do eco que tem nos túneis do metrô. Conferimos o mapa de vez em quando e andar no subsolo realmente trouxe progresso. Se tudo correr como o planejado, podemos chegar na ponte do Brooklyn em 3 ou 4 dias de caminhada. Mas precisaremos de comida, porque a nossa já acabou. E dependendo da chuva, andar nos trilhos trará mais progresso do que aqui em cima, pois o ar nos cansa rapidamente e andamos muito mais devagar. Além disso, Scarlet e eu temos dificuldade para andar, o que não ajuda com o calor.

-- Qual a probabilidade da gente descer de novo? – pergunto. Sei que antes não queria (e até tinha razão sobre andar lá embaixo), mas ignoro o sorriso de Liz que diz: eu sabia.

-- Acho que 50%. – Scarlet responde. Ela anda se apoiando em Jonathan as vezes e me pergunto se tem necessidade disso mesmo. As balas machucam, mas quase trincar o joelho dói muito mais. E estou andando sem apoio de ninguém.

-- Acho que a gente consegue andar lá embaixo de novo. – Liz fala, olhando para cima.

-- É só pegarmos os túneis que eram usados pra fazer a manutenção. Quando tivermos perto de um posto dos soldados, é só dar a volta. – Kyle concorda.

-- Podemos ver isso mais tarde. – Jonathan fala, procurando o sol que já está se escondendo atrás de nuvens sombrias. Não são asperitas, mas significam alguma coisa ruim também – Melhor procurarmos alguma coisa pra comer.

Fazendo rodinha, todos abrimos o mapa. O progresso foi bem menor do que imaginamos, quando conferimos o mapa. E já está bem tarde.

-- Tem uma estação bem aqui. – Kyle aponta e pressiona seu colar, mostrando que a estação tem comida.

-- A outra, mais na frente tem remédios. – Scarlet fala. Acho que ela sente dor, pois está um pouco pálida.

-- Mas não dá tempo de ir lá agora, amor.

Raciocínio Americano - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora