JOY
Chegamos na entrada do metrô mais próxima antes das 10 da manhã. Aproveitamos que temos comida e tudo que precisamos e continuamos andando. Pegamos as rotas secundárias antes dos postos dos soldados, desviando dos perigos. Jonathan e Kendra estão muito calados, então apenas conferimos eles de hora em hora.
Paramos para comer quando Kendra sente fome e vemos que andamos muito. Provavelmente, chegaremos na ponte depois do furacão. Andar nos túneis traz a vantagem de estar menos quente e mais fácil de respirar, mas o clima que percorre o grupo é desanimador. As vezes tento puxar conversa com Kendra, mas ela está séria demais para que eu continue. Quando está perto de mim, Liz aperta minha mão mais do que o necessário e sei que tem medo de me perder também. Quero dizer que não vou sair de seu lado, mas a verdade é que Scarlet também não saiu de perto e mesmo assim se foi. O pensamento me assombra.
À noite, quando paramos para dormir em um dos túneis de serviço, escuto Jonathan sussurrar palavras enroladas das quais sinto que saem de um pesadelo e Kendra chorar baixo. Imagino como deve ser difícil para ela, perder a melhor amiga e saber que poderia ser evitado com um pouco de diálogo. Quando durmo, sonho com Alan sendo levado e Kendra gritando. As ruivas que atrasamos também me visitam e elas gritam comigo em uma língua estranha, mas consigo entender tudo o que dizem: você nos impediu e mesmo assim não teve tempo para salvar sua amiga. E se fez o mesmo com alguém do nosso grupo?
É ruim a sensação de estar sendo vigiado por alguém quando se dorme e me sinto assim. Consigo sentir os olhares pesados de Alan e das duas ruivas e também ouço as palavras de Victoria, "a culpa não foi sua". De manhã, no segundo dia de luto por Scarlet, Kendra parece mais calma e Jonathan assume uma postura mais profissional, se isso é possível. Nós abrimos o mapa, menor agora sem Scarlet, e vemos que mais 2 dias de caminhada pode bastar.
-- Nós vamos ter que dar a volta aqui. – Jonathan aponta – Pra evitar todos esses soldados que estão mais a frente.
-- Mas dar a volta vai levar mais tempo. – Kyle contesta.
-- Melhor gastar mais tempo do que sermos pegos. Além do mais aquelas balas não seriam úteis agora, que a comida está quase no fim. – Kendra diz, amarga.
-- E a última estação de comida fica a meio dia de caminhada. Provavelmente tem uma mais a frente, onde a gente pode buscar. – Liz reforça. Kyle me encara.
-- Nada a dizer Joy? – ele pede ajuda.
-- Desculpe, mas estou com eles. – falo.
-- Tudo bem, mas vocês vão levar a maleta. – suspirando, ele a tira das costas e entrega pra Jonathan.
Nós continuamos caminhando até a interseção entre a linha do trem e o segundo túnel. Mudamos nossa rota, ouvindo vozes mais a frente. Ninguém fala nada durante as primeiras 2 horas de caminhada, com medo de que tenham soldados andando por perto. Paramos para comer e Kendra queixa que está cansada.
-- Só podíamos esperar um pouco. – ela diz, sentada no chão. Está comendo uma das barrinhas de cereal de maçã que ainda temos. Faz careta porque o gosto daquilo é horrível.
-- Eu também estou com sono. – Jonathan concorda.
-- Ninguém conseguiu dormir direito. Por mim podemos descansar. – falo, me sentando também. Kyle e Liz se encaram e ela balança a cabeça.
Eles também se sentam e Kendra começa a sussurrar uma música que conheço. Acho que Scarlet também gostava dela, porque Jonathan faz careta quando escuta. Mas depois relaxa e cantarola junto comigo e com ela. Não ousamos cantar de verdade, porque o eco aqui em baixo é maior do que lá em cima.

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Raciocínio Americano - Vol. 1
Ficción GeneralApós a Terceira Guerra Mundial, o mundo se dividiu em continentes. Na América, o governo é rígido e obriga os jovens a participarem dos Jogos de Raciocínio Americano, selecionando somente os que conseguem passar por todas as fases, os vitoriosos. Aq...