Capítulo 1 - A Loja de Especiarias

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Tudo estava escuro, o burburinho da plateia enchia o estabelecimento. No centro da quadra, equilibrada em cima do cabo de madeira que iria utilizar e com uma bola de futebol no peito do pé, estava Alisha. Usando uma blusinha branca que deixava a cintura exposta, uma folgada calça azul de algodão, tênis branco e um medalhão prateado com a dourada taça da copa do mundo e suas cinco estrelas ao redor entalhadas. Seu cheio e lindamente cacheado-liso cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo por uma presilha que possui uma flor verde no topo, coberta com glitter nas cores azul e verde.

Sentia seu coração descompassado, estava nervosa e com medo de errar, principalmente porque sua vestimenta não condizia com o que desejava fazer, nos ensaios havia sido tudo muito diferente. Neles ela podia errar, cair e se atrapalhar quantas vezes desejasse no momento que lhe fosse conveniente, mas não ali, não naquele palco. Portanto, ela não podia acovardar justo naquele momento. Seus colegas precisavam da abertura para então entrar e fazer sua parte, eram dependentes da apresentação dela. Tinha a obrigação de fazer direito, afinal, dentre muitas classes em seu colégio e muitos times participantes da Copa do Mundo, a sua foi encarregada de representar o Brasil nesse trabalhoso projeto escolar - que ocorre uma vez por ano do fundamental ao ensino médio.

Fechou os olhos e respirou fundo.

Os holofotes se ascenderam iluminando a garota, coloridos em azul, verde, amarelo e branco, as cores da conhecida bandeira brasileira. As luzes piscando e se movimentando no ritmo da música tocada por tambores de Axé naquela quadra cercada com arquibancadas lotadas de alunos, professores e pais, todos agora em silêncio, ansiosos pela última apresentação do dia.

A parte da musica que marca o início da sua performance chegou, seu coração parecia dançar dentro de seu peito de acordo com a batida rítmica e aparentemente incessante dos instrumentos que mesclavam o agudo e o grave de forma harmoniosa. Ela iniciou seu número, fazendo acrobacias com a bola sem cair do bastão de madeira utilizado com finalidade parecida com a de uma corda bamba. Os olhos da plateia estavam focados em Alisha, atentos a todos os seus movimentos, esperando para saber se ela cairia ou não. Os movimentos da garota foram calculados com tamanha precisão por seus mentores na matéria que seria inadmissível um erro sequer de sua parte.

Agora é a hora. Pensou quando os tambores estavam perto das batidas finais. O grand finale.

Para finalizar, a garota jogou a bola o mais alto que pôde e deu uma estrelinha para a esquerda, ficando em posição de plantar bananeira. A bola começou a cair, Alisha convocou toda sua força e soltou a mão esquerda, se mantendo equilibrada apenas na direita. Estendeu a mão livre horizontalmente e agarrou a bola antes que a mesma passasse direto, seus braços tremiam pelo esforço, implorando para que ela saísse daquela posição cansativa. O suor molhava seus cabelos os grudando em sua testa, ela havia alcançado o limite do seu corpo.

As batidas se tornaram mais rápidas quando a segunda melodia se deu início, os outros alunos de sua classe entraram, todos usando uma roupa verde e amarela, dançando e cantando a música criada especialmente para a ocasião. Alisha desceu do bastão e se juntou ao espetáculo deles.

Os professores conversavam entre si, faziam anotações sobre o desempenho da apresentação e direcionavam a atenção para cada mínimo detalhe. Alisha se sentia extremamente inteligente por ter tido a ideia de mesclar ginastica com dança e futebol enquanto tentava não escorregar nos confetes coloridos e brilhantes nas cores da bandeira que voavam do teto para o chão. Estava tudo muito perfeito para ser estragado por algo tão desastrado, principalmente vindo dela.

Ao final da apresentação, todos os representantes do time brasileiro agradeceram ao som dos aplausos e voltaram para o camarim. As vozes das pessoas ecoavam do lado de fora, todos os alunos estavam eufóricos e esperando as notas que os professores os julgam merecedores.

Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*Onde histórias criam vida. Descubra agora