Capítulo 17 - Décima Badalada ~ Parte 1

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Os dias passaram devagar. Mais devagar do que Alisha previra, mesmo estando acostumada com o tempo lerdo de Daechya. Em seu rosto, as olheiras passaram a se sobressair mesmo que escondidas debaixo de várias camadas de pó, juntamente com os desenhos que a impediam de usar magia e ver espíritos. Não é tão ruim. Ela havia pensado. Mas sentiu o peso daquilo todas as tardes em que foi trabalhar na Loja de Especiarias, não podendo ver ou ouvir a senhora Mullins. Portanto, sempre que passava pela casa, que continuava fechada desde anos antes, ela sorria e dizia: Olá senhora Mullins, espero que esteja bem. Esperando que o velho espírito da mulher estivesse ouvindo. Então, imaginava se, como de costume, ela sorria e a cumprimentava de volta.

A jovem havia passado a última semana estudando. Se impedindo de comer, dormir e se exercitar para isso. Por tal motivo, as olheiras, a fraqueza e a falta de atenção nas aulas eram notórias. Deixando seu pai, seus professores e Marla preocupados. Ela havia ido parar no hospital por falta de nutrientes. E seu corpo estava pinicando, implorando pelos exercícios físicos que Heilos a obrigava a fazer dia após dia em Daechya.

Havia descoberto que, o mal estar que havia sentido no dia que partiu, era sinal da sua marca feminina. O sangue havia passado a descer com força, esgotando seu estoque de absorventes rapidamente e, as vezes, manchando suas roupas. E ela detestava todas as vezes em que a dor vinha forte, rasgando seu interior, fazendo o sangramento aumentar. Agradecia mentalmente por sua avó paterna ter deixado uma lista de remédios - naturais e fabricados. - anotada em um caderno velho.

Todos esses fatores haviam a deixado exausta. A jovem andava estressada, esquecendo por muitas vezes do Kniga em seu guarda roupa; faltando ao trabalho por insistência de Mingzhi e deixando todo o trabalho de cuidar de Lucky e da casa para Richard. Uma vez ou outra, Marla ia para o duplex, ajudando o homem com as pequenas tarefas de casa, obrigação que devia ser de Alisha.

Alisha ficara furiosa ao descobrir que, de algum jeito, havia conseguido nota o suficiente para passar tranquilamente nas unidades perdidas, mesmo não tendo comparecido a nenhuma aula, ou feito alguma avaliação e trabalho. Deve ter sido Raniel. Ela então pensou, agora aliviada, concluindo isso ao lembrar que ele era, provavelmente, aquele em Daechya que mais conhecia os costumes da Terra e que por, tal motivo, tinha possuído sucesso em manipular a mente dos professores, colocando notas falsas na caderneta. Alisha sentiu que aquilo havia sido fácil demais, que não merecia nenhuma daquelas notas. Entretanto, não tinha do que reclamar. O que quer que Raniel tenha feito, ajudou-a, e muito. Por isso, anotou mentalmente que precisa se lembrar de agradecer a ele, assim como recordar de perguntar sobre o tal ritual proibido em Ophiocus.

Ao final das aulas daquele dia, Alisha juntou seu material e saiu da sala, caminhando vagarosamente para não tropeçar e cair escada abaixo. Marla, correndo até ela, segurou sua mão livre e a ajudou a descer. Alisha queria reclamar, mas estava cansada demais para isso, e seu estômago roncava alto, implorando por um tanto de comida, já que o café da manhã não havia sido o suficiente para a sustentar.

— Ei Alisha, eu não sei porque você estava se privando das necessidades básicas para estudar, mas... — ela fez uma pausa, deixando um tom de mistério, no ar, então, tirou do bolso um punhado de dinheiro. — Hoje eu pago o seu almoço, com uma condição.

— Qual?

A morena sorri ao perceber que os olhos da amiga faminta se iluminaram quando citou que iria pagar seu almoço

— Seu pai tem de fazer uma pizza grande para mim, de graça, com os sabores que eu escolher.

— Fechado! Mas... E o dinheiro de transporte?

— Uh? — Marla pisca. Então entende e ri. — Ah sim. Bom, eu tenho um cartão de meia passagem para transporte, nunca deixo descarregar. Então, posso pagar sim seu almoço.

Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*Onde histórias criam vida. Descubra agora